Sejam quais forem os nossos pretensos líderes político-partidários, isto é, o actual primeiro-ministro, o seu concorrente do partido alternativo e esse incansável debitador de frases vagas, frequentemente sem sentido concreto, em suma: o presidente da República. Esses três assumidos protagonistas da opinião pública debitada pelos «media» ainda não exprimiram, nas prolongadas semanas da Páscoa e dos «Santos Populares», qualquer ideia concreta e plausível acerca do futuro socioeconómico, político e militar deste remoto canto da UE nos próximos meses.

Sejam quais forem as escassas ideias dos nossos cabecilhas, o certo é que estes não tomaram quaisquer decisões minimamente relevantes para a vida do país e dos seus habitantes. Antes pelo contrário. Em Portugal, o PS limita-se desde a pandemia a distribuir sem contar as remessas enviadas pela UE. Em Espanha, pelo menos, tanto os agentes partidários do país vizinho e o novo governo de Itália, acabam de mostrar que é urgentemente necessário tomar atitudes e medidas adequadas aos países envolvidos na guerra, enquanto a Rússia, os seus amigos políticos e os seus aliados continuam a mover-se não só contra a Ucrânia e a NATO mas também em busca do apoio do «terceiro mundo»!

Se é certo que o discurso do nosso PR tem sido, desde a sua eleição, muito mais próximo da conversa mole da televisão e dos próprios partidos políticos com assento parlamentar, sem excluir o Chega, Rebelo de Sousa caiu sistematicamente perante os avanços e recuos do PS bem como da «geringonça». É, pois, ao cabo dos oito anos que correram até hoje, que a dupla eleição do PS e do PR demonstrou e, provavelmente demonstrará durante dois anos mais, tem funcionado da forma desestruturada, oportunista e propagandística que se sabe, agradando ora a uns e a outros, ora a muito poucos como sucede neste momento. Com efeito, o país não só se mantém com uma dívida pública bem acima do PIB bem como na crescente pobreza socioprofissional disfarçada pelas «ajudas europeias».

A complacência do PR perante o PS tem sido quase permanente, começando pela inexistência de oposição ideológica e prática do PSD devido à ausência de liderança e continuando pela virtual desaparição do CDS frente à forçada «maioria eleitoral» do ano passado, na sequência de percalços inesperados como a pandemia (2020-2022) e, a seguir, a guerra contra a Ucrânia (2022-2023). Enquanto tal, tudo continuou a ser acompanhado pelo descarado investimento partidário do governo PS na comunicação social até hoje que se saiba, mostrando de que forma os programas da televisão têm influenciado o estado da opinião pública cada vez mais manipulada, como já sucedera com a escassa votação do ano passado reduzida a metade dos eleitores.

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Para não ir mais longe, o Observador faz-se hoje eco uma vez mais da promessa do primeiro-ministro há quase oito anos seguidos. O discurso de Costa é cada vez mais reduzido e destituído de quaisquer projectos socioeconómicos, para nada dizer da actual conjuntura bélica. Apregoa ele hoje: «o ideal para o PS é apostar num orçamento que distribua dinheiro». Sem disfarçar: venha o dinheiro de onde vier e vá ele onde for parar: quanto à dívida, será o que for durante o tempo que durar.

Actualmente, ao cabo de oito anos de governo, o PS está de novo com uma dívida pública de 114% do PIB tal como Sócrates quando foi corrido em 2010. O prometido aumento dos rendimentos a par da diminuição dos impostos – seja o IRS ou o IVA, ou ambos – seria ouro sobre azul… Mas é muito raro que tal suceda, sobretudo quando o país importa mais do que exporta e, sobretudo, importa mercadorias de alto valor e exporta as de baixo valor, como o turismo.

Não é nem será este o modelo que salvará Portugal até ao fim da guerra, se e quando este chegar e a UE lá continuar, se continuar, a dar-nos dinheiro que o país não frutificou desde que entrou para a CEE. Mas também não o parecem ser as palavras isoladas e pouco promissoras da liderança do PSD, destituída aliás de alianças publicamente negociadas no sentido de regressarem ao poder. Quanto mais não seja, quando Rebelo de Sousa se eclipsar e quando o PSD se aliar em torno de tal ou tais lideranças a fim de reconquistar o parlamento. Quanto ao poder, é outra coisa!

Daqui até lá, é a própria estrutura do corpo político do país que deve ou deveria ser profundamente revista ao cabo de meio-século de experiência, com vista à modernização da Constituição de ’76. Tratar-se-ia, em suma, de criar uma segunda casa de representantes locais que por seu turno elegeria, juntamente com uma assembleia de deputados reduzida, o presidente da República, em vez de um rival do «primeiro-ministro» como aqueles que por lá passaram e pouco ou nada fizeram de jeito enquanto lá estiveram.