António Costa e o seu séquito vão deixar um legado ao mundo da política internacional – o Manual: “A arte de governar sem culpa”, do qual damos aqui nota, em primeira mão, quanto aos seus capítulos principais.

Fase 1 – Teflon:

No início, foi fácil. Problemas, queixas, adversidades, greves, dívida, pouco crescimento, o que fosse tinha sempre a mesma resposta – a culpa é do Passos! Nada se pegava a Costa nem ao Governo.

Fase 2 – Os Inimputáveis:

António Costa e a sua equipa desempenham com mestria o papel da “auto-inimputabilidade”. Trata-se de uma qualidade que significa poder ser louvado pelo que de positivo suceda no país (ainda que vindo “de fora” ou alheio à acção governativa) e não poder ser responsabilizado por nada de negativo que suceda (ainda que em consequência da acção ou omissão do Executivo).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já sabíamos, de há muito tempo para cá, que o nosso Governo era inimputável. Não propriamente por não poder ser responsabilizado por um facto punível em virtude de não possuir as faculdades mentais e a liberdade necessárias para avaliar o acto quando o praticou – mas porque escolheu posicionar-se e classificar-se como tal.

Percebemos isso mesmo aquando dos fogos trágicos de Pedrógão, que o Governo recebeu com pouca empatia e menos acção, e também pela forma como rejeitou qualquer responsabilidade pelo funcionamento inexistente do decrépito e vergonhoso SIRESP. As consequências foram as que se conhecem, mas António Costa foi de férias e fez de conta que não era nada com ele.

Também percebemos isso com a historieta mal contada de Tancos e com os engasgos lamentáveis e displicentes de Azeredo Lopes, para quem o roubo podia nem ter acontecido e, caso tivesse acontecido (coisa que achava que não lhe competia saber), a responsabilidade também não era dele nem do Governo, que não pode ter um Ministro à porta de cada paiol. António Costa devia estar de férias também ou simplesmente achou que o assunto não era da sua conta.

Quanto a Joe Berardo, aos créditos da Caixa, às nomeações para o Conselho de Administração, à qualidade da supervisão bancária, bom… quanto a tudo isso António Costa nada tem a dizer, como se suspeitava.

Fase 3 – A culpa é do mexilhão… ou melhor, do cidadão!

Há aqui efectivamente um padrão – o da irresponsabilidade, do desinteresse e, em última análise, do desrespeito pelos cidadãos, pelos contribuintes, pelas pessoas.

Mas agora esse padrão estende-se por áreas insuspeitas e não se restringes às catástrofes, aos milhões ou aos embaraços. Agora este padrão vai mais longe e não se limita a desculpabilizar o Governo – agora a táctica (desplante máximo!) consiste em acusar e culpabilizar os cidadãos.

Há uns dias, uma frase inacreditável: a secretária de Estado da Justiça, Anabela Pedroso, justificou os atrasos para tratar do Cartão do Cidadão com o facto de os utentes irem, “sistematicamente”, para a porta dos serviços “antes da abertura do atendimento ao público”. Bem pode a governante desmultiplicar-se em entrevistas, desmentidos e interpretações – o que ela disse foi que, no entender do Governo, os serviços estão muito bem organizados, são perfeitamente suficientes para acorrer às necessidades públicas, mas os cidadãos – malandros! – persistem em vários erros, dignos de castigo.

Primeiro erro: os cidadãos são cidadãos. Quem lhes manda?? É por isso que necessitam de um cartão – se emigrassem evitariam este incómodo!

Segundo erro: os cidadãos interessam-se por renovações dos cartões. Para quê?? Os antigos talvez servissem perfeitamente, pagando-se umas multas aqui e ali! Mário Centeno até agradecia e sempre podia mandar os agentes armados do fisco intimar os prevaricadores!

Terceiro erro (talvez o mais grave): os cidadãos são organizados e previdentes, procurando os primeiros minutos de abertura dos serviços, na esperança vã de desperdiçarem poucas horas do seu dia à espera, sentados. Porquê?? Então não respeitam a boa e velha tradição de deixar tudo para a última hora? Depois não se queixem!

Parece que também temos culpa no processo de robotização da economia, que tem e terá um impacto directo no emprego e obrigará milhares ou milhões de pessoas que trabalham na indústria, no comércio ou em áreas administrativas a procurar emprego em sectores completamente diferentes. O Governo nada tem a dizer sobre isto nem se mostra preocupado – o problema é nosso, porque a culpa é nossa.

E ainda temos culpa de outras coisas mais. Temos culpa de nascerem poucas crianças, temos culpa de ter filhos concentrados em Agosto, temos culpa de ficarmos doentes quando há fila nas urgências, temos culpa de envelhecer e colocar pressão sobre a segurança social, temos culpa de morrer e deixar de pagar impostos. No fundo, somos todos culpados – com excepção das inteligentes figuras a quem confiamos a governação.

Pois agora já sabemos. Sempre que formos bombardeados por uma qualquer intervenção dos múltiplos políticos do PS que nos rezam a cartilha de Costa só temos de repetir, contritos, conformados e de cabeça baixa: Por minha culpa. Por minha tão grande culpa!