Desde 2015 que se assiste na Europa ao crescimento do que hoje conhecemos por crise migratória. Todos os anos centenas de milhares de migrantes com origem em países do Médio Oriente e da África chegam à União Europeia de forma ilegal.
Quase uma década depois a Europa continua a demonstrar-se incapaz de resolver um dos seus maiores desafios desde a Segunda Guerra Mundial.
Serão inúmeros os motivos que atraem o movimento de tantas pessoas, é inegável a qualidade de vida de que (ainda) dispomos na Europa quando comparada com a instabilidade dos países de origem, factor suficiente para milhares arriscarem a sua vida em travessias perigosas. Mas e à chegada? Não será o Sonho Europeu muitas vezes um pesadelo que apenas prolonga a precariedade?
Importa, contudo, à Europa não ser ingénua e analisar os canais de propaganda que atraem tantos para o nosso continente. É por exemplo cada vez mais inegável o papel da Rússia na captação destes movimentos migratórios como estratégia de destabilização e fomento de uma guerra silenciosa. O financiamento de países africanos (os chamados interesses da Rússia na África) e abertura de pontes aéreas ao Médio Oriente estarão entre os mecanismos utilizados.
Em 2022 cerca de 900 mil pessoas solicitaram asilo na União Europeia, mais de 6 milhões desde 2015. E qual tem sido a resposta da (des)União em 8 anos? Uma política de mãos abertas e redistribuição “solidária”, mas muitas vezes forçada.
Neste mesmo mês, chegaram em menos de 72h à pequena e pouco conhecida ilha de Lampedusa, na Itália, mais de 10 mil migrantes, tendo esta ilha, por comparação, pouco mais de 6000 habitantes.
Nesse domingo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deslocou-se à ilha para apresentar um plano de acção para enfrentar a imigração irregular e afirmou que “a Itália pode contar com a União Europeia”. Entre um pacote de 10 medidas não clarificadas inclui-se novamente a distribuição pelos estados-membros, algo já rejeitado por países como a França ou a Polónia e que continua a semear o conflito interno. Em suma, essa deslocação não passou de mais um episódio drástico e uma oportunidade perdida para a Europa, que continuará sem dar resposta à crise.
Mas se, por um lado, a líder da Comissão continua sem plano de acção, para os migrantes este é óbvio, tendo mostrado frustração com a longa espera para serem transferidos para o continente. “Imagens da televisão no sábado mostraram centenas de pessoas a avançar em direcção a um portão enquanto a polícia usava escudos para os conter.” É inegável a invasão da Europa. Quem chega considera-se no direito de dispor, e abdica de qualquer sentimento de gratidão pelo acolhimento.
Numa década em que tanto se questiona o crescimento dos movimentos extremistas e populistas na Europa talvez seja tempo de admitir a correlação forte e directa com o total fracasso na gestão de matérias como esta pelos partidos estabelecidos e socialmente aceites como democráticos e tolerantes.
Examinemos vários casos:
Alemanha: o país que tem acolhido mais refugiados, mais de 2 milhões. O partido AfD, nacionalista, conservador e eurocéptico já será o segundo maior do país;
França: em constante convulsão social muito motivada pela absorção excessiva e descontrolada de outras culturas. Dizem as sondagens que o RN de Marien Le Pen deverá ser o vencedor das eleições de 2027 após duas tentativas bastante próximas do objectivo;
Itália: uma das principais portas de entrada para os movimentos migratórios. Giorgia Meloni chefia o governo italiano há já meio ano à boleia do partido eurocéptico Irmãos de Itália;
Um pouco por toda a Europa, e inclusive em Portugal, vão ganhando força movimentos apelidados de extremistas que, contudo, são os únicos a expor este problema como insustentável e de verdadeira emergência.
Em Portugal, numa altura em que ano após ano continuamos a perder jovens altamente qualificados, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes, afirma que Portugal está disponível para acolher “algumas pessoas” das que chegaram nos últimos dias em embarcações à ilha italiana de Lampedusa. Deverá ser realmente esta a nossa prioridade?
Hoje mais que nunca compete aos europeus questionar que tipo de Europa pretendemos. A União Europeia trouxe estabilidade ao Continente após séculos de conflitos, mas deverá ser também a primeira a defender os valores do velho continente e a respeitar a soberania das suas nações, correndo o risco de se desintegrar se não o fizer.
Não compete à Europa o acolhimento de movimentos migratórios ilegais e muito menos à Comissão Europeia a imposição de redistribuição, contudo também não poderão ser os países de chegada a sustentar sozinhos esta matéria.
Defendo uma Europa inclusiva, solidária e acolhedora, mas acima de tudo sustentável. Prosseguir com a política de assimilação e distribuição descontrolada será a médio prazo o fim da Europa como a conhecemos. Devemos respeitar a multiculturalidade, mas exigir também o mesmo daqueles que acolhemos. Podemos acolher alguns migrantes e refugiados, mas através dos mecanismos legais.
Impera agir! O movimento migratório tem de ser controlado e devolvido à origem. Poderemos contar com os partidos estabelecidos para acordarem para esta matéria e abandonarem o “politicamente correcto”? Chegarão ao poder os partidos emergentes e alternativos muitas vezes apelidados de extremistas? Ou teremos daqui por 50 anos uma Europa incontornavelmente diferente?
O futuro da Europa em Jogo.