Seguir a campanha eleitoral espanhola é um verdadeiro bálsamo político.

A direita recuperou de uma autofagia crónica e apresenta-se na sua melhor força, com o Partido Popular a surgir, em todas as sondagens, como vencedor anunciado.

Cada acto de campanha é um momento de antologia política. É impossível ficar indiferente à alegria que invade e mobiliza milhares de pessoas, pessoas que querem viver intensamente o momento presente porque sabem que estão em véspera de um novo futuro.

Querem ter o seu nome na história, na história que hoje se está a escrever, na história que devolverá a Espanha a esperança e a confiança.

Depois da vitória esmagadora de Isabel Ayuso, em Madrid, o PP acreditou, percebeu os sinais, compreendeu que o discurso da desgraça é um tiro no próprio pé, só alimenta a esquerda e esvazia a direita. Por isso, apresenta-se nestas eleições como uma força mobilizadora, como semente de optimismo e como motor da mudança.

A direita libertou-se do discurso negativo, saiu do coro do queixume, rasgou a cartilha da fatalidade.

O PP espanhol percebeu que não basta o desgaste do adversário, é necessário construir uma alternativa. Percebeu que a esquerda vive do medo, alimenta-se da incerteza e engorda com a insegurança.

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Quanto mais a direita assusta as pessoas, mais forte fica a esquerda. Parece obvio, mas em Espanha só agora foi percebido e em Portugal ainda não foi compreendido.

O PP que agora despertou em Espanha, que galvaniza, que agrega, que entusiasma, não tem qualquer paralelo em Portugal. Não tem e é pena.

Qualquer dos partidos da direita política, está a anos-luz do PP. O P.S.D, que ainda não resolveu um problema de identidade, a maioria dos eleitores percecionam-no como um partido de Direita, mas a estrutura e a direcção do partido dizem que são do centro (seja lá isso o que for) tem uma mensagem muito sofrida, muito no aproveitamento dos erros do PS, claramente alinhada com a necrofagia política.

O próprio líder assume que a estratégia é resistir, ficar à espera que o PS imploda e depois estar no lugar certo à hora certa. É pouco, muito pouco e pode ser que essa hora nunca chegue.

O CDS, sem representação parlamentar, continua à procura de tribuna, sem causas identitárias e muito longe dos seus melhores dias.

O Chega faz o caminho oposto da direita espanhola, anuncia a desgraça, numa estratégia claramente alinhada no “quanto pior melhor”.

Num registo de CMTV dos partidos, o Chega todos os dias apregoa uma nova fatalidade, seja a invasão do país, seja a destruição das instituições, ou a falência do regime democrático. Qualquer coisa serve desde que tenha o poder de assustar, de aprisionar as pessoas pelo medo, de capturar pela ameaça.

Os resultados das sondagens aparentam confirmar o sucesso da estratégia, mas, na verdade, desde que o Chega apareceu, com o discurso negativo, a esquerda sempre conseguiu governar, primeiro com a gerigonça e depois com maioria absoluta do PS. Se a esquerda quisesse inventar um partido para destruir a direita, dificilmente faria melhor do que o que tem feito o Chega.

O medo, a ameaça. a incerteza, sempre foram territórios férteis para germinarem as sementes da esquerda. A direita espanhola já percebeu isso, a direita portuguesa continua presa ao seculo passado. Faz oposição por cartilhas velhas e gastas, completamente em dissintonia com o tempo presente.

Olhar para o vizinho do lado, para a direita espanhola, permite-nos recuperar a esperança, pensar que um dia também poderemos ter um Partido Popular em Portugal, uma Isabel Ayuso, um Nuñez Feijó, um Martinez Almeida, ou uma Caetana de Toledo. Pessoas diferentes, mas que valorizaram o que as unia e, ao invés de formarem cada uma o seu partido, formaram um grande partido.

Que a vitória do PP e da direita espanhola sirva de guia, que inspire a direita portuguesa, tão pouco atractiva e tão refém de pequenas coisas e tão distante das grandes causas.