No âmbito da vigilância dos incêndios rurais, as Forças Armadas têm vindo a utilizar sistemas de aeronaves não-tripuladas, vulgarmente designados por DRONES. Alguns destes sistemas são comandados pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), através do Comando Conjunto para as Operações Militares, e são operados por militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea que prestam serviço na Unidade Aérea nº 991 (Esquadra 991), baseada no Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea, na Ota. Neste artigo abordaremos os principais aspetos desta Unidade, designadamente a sua missão, os DRONES que atualmente utiliza, as equipas de operação e o pessoal de manutenção que a integram, bem como o respetivo processo de formação. Também enunciaremos os planos para o futuro próximo da edificação da capacidade conjunta de DRONES, que potenciará a atividade da Esquadra 991.

A Esquadra 991 tem como missão principal executar ações aéreas de informações, vigilância e reconhecimento em apoio:

  1. À Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, ao Ministério do Ambiente e Ação Climática e às Forças e Serviços de Segurança;
  2. À busca e salvamento em terra ou no mar;
  3. Da preparação e do emprego de forças e unidades militares nacionais.

Executa, também, ações de instrução, na formação de equipas de operação e do pessoal de manutenção, bem como na qualificação e treino operacional das Forças Armadas.

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Atualmente a Esquadra 991 opera 12 DRONES OGASSA 42V, controlados a partir de estações de terra (Figura 1). Cada um tem o peso máximo, à descolagem, de cerca de 40 kg e a autonomia é de 9 horas de voo, sendo de 6 horas na configuração de aterragem e descolagem vertical. Todos estão equipados com sensores visual e térmico.

Um aspeto importante relacionado com estes DRONES é que se tratam de sistemas concebidos e fabricados por uma empresa que integra as indústrias de defesa nacionais, através de um processo de investigação, desenvolvimento e inovação levado a cabo em estreita colaboração com as Forças Armadas. A opção de recurso a DRONES produzidos em Portugal exige, no curto prazo, um período de maturação, técnica e operacional, muito cuidado. Porém, no longo prazo, trata-se de uma iniciativa da maior importância e impacto, que contribui para o desenvolvimento daquelas indústrias e das capacidades e competências tecnológicas do país, aumentando a liberdade de ação nas escolhas deste tipo de equipamentos e agilizando a criação de funcionalidades essenciais às operações militares presentes e futuras. Por outro lado, trata-se de um empreendimento que tem em vista continuar a mobilizar as Forças Armadas como pólo promotor e aglutinador de iniciativas concretas, visando o desenvolvimento da ciência, da tecnologia, da indústria e da economia nacionais.

Figura 1. Aspeto do Drone OGASSA 42V e dos equipamentos que integram uma Estação de Terra.

As equipas de operação (ver Figura 2) são constituídas por 5 elementos, que têm funções muito especializadas:

  • O coordenador tático garante a prontidão do sistema e a sua operação segura, bem como a coordenação e execução do planeamento operacional;
  • O piloto remoto externo comanda e controla o DRONE nas fases de descolagem e aterragem;
  • O piloto remoto interno comanda e controla o DRONE durante a fase de voo;
  • O operador de sensores controla os sensores disponíveis a bordo;
  • O elemento de apoio de linha assiste toda a equipa nas fases de preparação, lançamento, recuperação e regeneração do DRONE.

O processo de formação das equipas de operação revelou-se como um dos maiores desafios da edificação da capacidade conjunta de DRONES da Esquadra 991, dado que foi necessário seleccionar militares, a maior parte dos quais proveniente de áreas não relacionadas com o voo, e dar-lhes formação teórica e prática, garantindo o seu envolvimento em operações aéreas reais, para adquirirem a experiência essencial à sua qualificação operacional. Devido ao número elevado de militares que é necessário formar, para que, no menor prazo possível, se alcance a plena capacidade operacional da Esquadra 991, houve necessidade de obter apoio das Forças Armadas de Espanha.

Figura 2. Exemplo de equipa de operação, neste caso sediada em Beja (fonte: Forças Armadas).

A Esquadra 991 também integra e forma, em parceria com o fabricante, o pessoal de manutenção responsável por garantir a prontidão dos DRONES. Ao longo do último ano foram desenvolvidas diversas valências técnicas necessárias para assegurar a formação, em níveis de manutenção cada vez mais abrangentes do sistema, com o objetivo de garantir uma prontidão operacional crescente.

A edificação da capacidade conjunta de DRONES da Esquadra 991 tem sido, indubitavelmente, um processo complexo, mas de evolução contínua, que exige tempo e acompanhamento preciso, nomeadamente, na aquisição de experiência das equipas de operação e do pessoal da manutenção. Ainda assim, no ano em curso, apesar das limitações causadas pelas condições meteorológicas, da insuficiência de equipas, cuja formação foi afetada pela COVID, e da indisponibilidade pontual de algumas aeronaves, a qual está a ser ultrapassada através do robustecimento da capacidade endógena de manutenção da Esquadra 991, os progressos operacionais são já visíveis na evolução do número de horas de voo na vigilância de incêndios rurais, apresentada na Figura 3.

Figura 3. Evolução das horas de voo realizadas pela Esquadra 991, no âmbito da vigilância de incêndios rurais, desde 2020 até 31 de agosto de 2022.

De facto, os dados apresentados permitem antecipar que, em 31 de outubro do corrente ano, o número de horas de voo efetuado seja substancialmente maior do que o alcançado em 2021. Realça-se, neste contexto, que até 31 de agosto de 2022, a Esquadra 991 tinha já vigiado uma área superior a 654 mil km2, valor correspondente a mais de sete vezes a área total de Portugal continental, e reportados 101 eventos.

Os planos para o futuro próximo da edificação da capacidade conjunta de DRONES OGASSA 42V, que potenciará a atividade da Esquadra 991, incluem:

  1. Finalizar o conceito de operação dos DRONES, identificando o nível de ambição e o respetivo plano para a sua concretização;
  2. Integrar a capacidade conjunta de DRONES da Esquadra 991 com outras capacidades militares aéreas, terrestres e navais, complementando-as entre si, para obter sinergias e aumentar a eficiência e eficácia das missões;
  3. Iniciar a participação da Esquadra 991 em exercícios e na troca de experiências com outros operadores internacionais;
  4. Continuar o processo de maturação das ações de vigilância, dando particular relevo à operação noturna;
  5. Prosseguir a formação das equipas de operação e do pessoal de manutenção;
  6. Assegurar, na maior extensão possível, a capacidade de manutenção autónoma;
  7. Prosseguir o desenvolvimento de ferramentas de apoio à decisão, particularmente o projeto “Vista Aérea sobre os Incêndios”;
  8. Iniciar a experimentação do conceito de emprego dos DRONES OGASSA 42V em missões de vigilância marítima, através de destacamentos na Madeira e nos Açores;
  9. Desenvolver, na Marinha e no Exército, as infraestruturas e os processos de apoio necessários para habilitar a operação/manutenção a partir das suas unidades operacionais;
  10. Assegurar o desenvolvimento tecnológico da capacidade conjunta de DRONES da Esquadra 991, testando novas soluções e características de outros sistemas, com várias empresas que integram as indústrias de defesa nacionais.

Com o mérito de constituir uma capacidade conjunta, com uma dimensão e alcance sem paralelo nas Forças Armadas, a Esquadra 991 constitui-se como um instrumento agregador que, ao integrar pessoal de operação e de manutenção da Marinha, do Exército e da Força Aérea, multiplica sinergias. Também acompanha a visão de desenvolvimento das indústrias de defesa nacionais e das capacidades e competências tecnológicas do país. Para além disso, fomenta a inovação, tendo em vista a criação e a exploração de novas capacidades militares nacionais. Podemos, por isso, afirmar que a Esquadra 991 gera uma enorme mais valia operacional, no âmbito da edificação da capacidade conjunta de DRONES, o que acrescenta eficácia e eficiência às missões das Forças Armadas, ao serviço de Portugal e dos portugueses.