O nosso governo1 está a preparar formas de mitigar o aumento dos preços2 dos combustíveis, certamente preocupado com impacto nefasto para o clima3 se começarmos a usar menos combustíveis fósseis. Antes já tinha avançado com medidas para estabilizar as prestações nos empréstimos à habitação, pressuroso & desvelado em nos proteger das consequências imprevistas das decisões que livre4 & responsavelmente5 tomámos sabendo que, devido a causas misteriosas & inexplicáveis, o mercado6 de arrendamento não funciona nem em Portugal, nem em Espanha. Tanto cuidado com o nosso bem-estar, que estas e outras medidas manifestam, é enternecedor. Revela um estado providência que nos trata com mais carinho que uma educadora no infantário ou um médico7 na enfermaria.

Mas as políticas governamentais são, e sempre foram, como a lua. Tem uma face visível, e outra escondida. E também têm uma utilização legitima, e outra vergonhosa. Foi o que Sólon um dia descobriu, e que nenhum governante depois dele pode alegar desconhecer.

Conta Plutarco que, “quando Sólon [um social-democrata grego ativo no início do séc. 6 a.C.] estava considerando a forma adequada e o começo propício para [a anulação de todas as dívidas, para assim tornar mais equitativa a repartição da riqueza em Atenas], ele disse a alguns de seus amigos [militantes no ps/d], a Conon, Clínias e Hipónico, em quem tinha grande confiança, que não se intrometeria com a propriedade das terras [através de uma reforma agrária], mas apenas libertaria o povo das suas dívidas. Após o que estes [três democráticos militantes socialistas], aproveitando da sua vantagem, apressaram-se a pedir emprestadas somas consideráveis ​​de dinheiro e compraram algumas grandes herdades. Quando a lei [anulando todos os créditos] foi promulgada, eles ficaram com as terras e não devolveram o dinheiro pedido em empréstimo, o que gerou grande suspeita e antipatia a Sólon, como se ele próprio não tivesse sido abusado na sua confiança, mas estivesse ele mesmo envolvido no esquema.”

O povo é um ingrato. Mesmo quando beneficia enormemente com uma política social ou económica8, começa logo a resmungar com qualquer detalhe secundário. E fica sempre uma dúvida a pairar: esta medida foi tomada com o objetivo de nos ajudar, ou para alguns deles se henriquecerem9?

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U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. Governo: grupo seleto de pessoas, geralmente políticos, escolhidas para o desgoverno da nação & do seu próprio governo; divindade laica que, tal como Cronos na mitologia grega, devora os seus filhos; é constituído por aspirantes a cargos na Comissão Europeia; deidade secundária em países socialistas—subordinada ao partido, que é o deus todo-poderoso; deus que suga o sangue dos governados e que requer a sua imolação ritual em sede de irs, irc, iva e outros altares tributários, sendo que a carne das vítimas deve ser consumida ou pelo fogo do desperdício ou pelos sacerdotes partidários; em períodos obscurantistas pensava-se o governo era da nação, e que estava ao seu serviço, mas estudos científicos recentes, realizados no âmbito do materialismo dialético, demonstraram que o contrário é que corresponde à natureza das coisas.
  2. Preço: aquilo que se paga numa transação e que inclui os custos materiais & morais da sua produção, distribuição & venda; valor de mercado, mas não dos mercantes; classifica-se em regulado, manipulado e especulativo.
  3. Clima: o que substituiu o tempo na conversa social e nas notícias; aquilo cujo estado amanhã se tornou mais difícil de prever que o tempo d’amanhã; algo que sempre foi variável & instável, mas que os conservadores atuais, e os agentes de viagens, querem que não mude mais; tópico que não aquece nem arrefece um pardal.
  4. Liberdade:espécie natural fabulosa que nenhum biólogo conseguiu ainda localizar, quer viva, quer em estado fóssil, nem criar nos portentosos laboratórios de engenharia social da URSS warxista, Alemanha nacional-nacionalista ou China de MaO tselo-Tung; um dos frutos da imaginação humana; pequena clareira de isenções no meio da floresta intrusiva, intricada e emaranhada da legislação nacional; ser que grita de angustia quando dois estadistas se encontram; aquilo que mingua em cada plenário dos deputados na Assembleia da Republica, reunião do Conselho de Ministros, e edição do Diário da Republica; estado mental que se alcança com uma dieta à base de verdade (cf. Jo 8, 32).
  5. Responsabilidade: fardo descartável e facilmente transferível para o chefe ou para o subordinado, para o marido ou para a mulher, conforme a interação social; os astrólogos põem-na nas estrelas, e os warxistas nas leis imutáveis & cegas do materialismo dialético.
  6. Mercado: local de negociação e troca livre de algo consumível e de real valor, como hortaliças, por algo inconsumível e de valor meramente nominal, como moeda; classifica-se em regulado, manipulado e especulativo.
  7. Médico: profissional que floresce na doença e definha na higidez; está para o cangalheiro como o talhante está para o cozinheiro.
  8. Economia: ramo de conhecimento que junta um modelo simplista da natureza humana com formulas matemáticas extremamente complicadas, o que lhe garante, e aos seus profissionais, uma aura de rigor e cientismo, bem como proteção contra as críticas nascidas do bom senso de pessoas com os pés bem assentes na terra; ciência que estuda a escolha entre canhões e manteiga e a utilidade assim obtida. Daí canhões com manteiga ser o snack preferido da profissão.
  9. Henriquecimento: acumulação de bens, móveis & imóveis, provenientes de esbanjadores, dos jogadores na bolsa, dos que a perdem, dos sem sorte, dos contribuintes, dos imprevidentes, dos gulosos & dos praticantes de atividades afins; existe alguma controvérsia se esta acumulação dá título de propriedade, como defendem os membros da iliberal, se é recebida apenas em depósito, como ensina Sua Santidade, ou se é para ser expropriada, como reclamam o be, o pc e o ps d’amanhã