O jogador do SLB João Neves de 19 anos foi vendido ao PSG. Depois de quase uma década em formação na Academia do Seixal faz uma época nos seniores, sem conquistar o principal título nacional, e é vendido. Com uma cláusula de rescisão de 120M€ sai por metade da mesma mais 10M€ por objectivos e o empréstimo do Renato Sanches.
Será que a venda do João Neves é simplesmente só mais uma venda das muitas vendas de jogadores realizadas pelo SLB na última década ou representa muito mais do que isso?
Para mim libertar prematuramente um jovem formado na casa, que para além da enorme competência desportiva tem carisma, tem raça, tem coragem, tem liderança, tem fair-play, tem benfiquismo, ou seja, tem todo um pacote de valores que o comum adepto do Benfica se revê e se orgulha e por metade da cláusula de rescisão representa a falência total do Projecto Desportivo do SLB.
Competir exclusivamente com base no dinheiro não chega, é curto, porque as equipas que encontramos todos os anos na Europa têm, e vão sempre ter, muito maiores orçamentos que o nosso. Por isso é preciso acrescentar algo mais aos nossos Planteis para ambicionarmos voltar a competir ao mais alto nível e termos pretensões a grandes conquistas.
E esse algo mais são planteis que para além de muito equilibrados com aquisições cirúrgicas, tenham personalidade, atitude, carácter, ambição, espírito de Clube, união e disciplina. E são à volta de jogadores com as características do João Neves que se constroem esse tipo de planteis.
Mas não, em vez disso prescindimos prematuramente dele e o dinheiro da sua transferência vai ser totalmente desbaratado ( e talvez não chegue ) em jogadores sem qq identificação com o Clube com maiores ou menores períodos de adaptação, com mais distribuição de comissões a empresários e como sempre dentro do habitual pacote de compras vêm alguns flops que acabam em ruinosos empréstimos na época seguinte. Uma lástima.
E porque isto é assim ?
- Porque não há estratégia. Andamos em navegação à vista, gastando o que temos e o que não temos para conquistar desesperadamente o máximo de títulos no curto prazo e o futuro logo se vê e que venha alguém no futuro arrumar a casa.
- Sempre aquela máxima de que é preciso é ser campeão porque depois já ninguém se lembra do João Neves. E em parte é assim, mas esse não é o problema de fundo, o problema de fundo é que a ausência de estratégia vem-se sempre a pagar, mais tarde ou mais cedo, é uma inevitabilidade em qualquer empresa.
- Este rumo tem-nos levado a aumentar drasticamente o nível geral de custos criando-nos uma urgência cada vez maior em vender. Se já vendemos jogadores com 19 anos, pergunto se em breve começaremos a vendê-los aos 15 ou 16 à semelhança do que acontece com os “prósperos” clubes da América do Sul? Em tempos precisávamos de fazer uma grande venda por ano para equilibrarmos as contas mas em breve ( ou talvez já ) vamos precisar de fazer duas grandes vendas por ano para termos resultados positivos. Será este rumo sustentável?
- Uma recente entrevista de um vice do SLB permite-nos vislumbrar nas entre linhas de que há muita gente escondida silenciosamente por detrás do Presidente Rui Costa na expectativa do que vai acontecer para então se posicionarem e isso não augura nada de bom.
Concluindo, precisamos urgentemente de uma estratégia e de um novo paradigma que nos permita ser competitivo neste novo mundo completamente diferente de há 40 ou mesmo de há 10 anos atrás.
O Clube não pode continuar a ser gerido como se do Orçamento do Estado se tratasse, onde tudo cabe e onde tudo é exigido e como se o financiamento fosse ilimitado e não tivesse que ser pago. Não é mais possível continuar a querer ser competitivo em todo o lado, a maioria sem sustentação financeira, e estando cada vez menos competitivo no mais importante que é o futebol profissional.
É preciso repensar o Clube, definir prioridades, simplificar a estrutura organizacional que é actualmente altamente complexa e pesada e procurar novas fontes de financiamento mais económicas. Ou seja, não chega dizer que não podemos vender os melhores jogadores ou que os temos de os manter 2 ou 3 anos, temos é que criar as condições para os conseguirmos manter o máximo tempo entre nós.
Não é mais a questão de o Presidente X ou do novo Candidato A ou B, a questão é ter um Presidente ou um candidato a Presidente com uma ideia para o Clube, com uma nova estratégica para a próxima década e com a coragem e a independência para a propor aos sócios, de uma forma clara, e em caso de vitória a vir implementar com uma Direção coesa e unida que venha para servir.
Mas como sempre serão os sócios a decidir que Clube querem na próxima década.