Há várias formas de combater a Igreja: a mais clássica é, decerto, a perseguição pura e dura, como acontece nos regimes comunistas: China, Cuba, Coreia do Norte, etc. Mas, este tipo de ataques faz mártires e os mártires geram novos cristãos. Por isso, alguns regimes laicistas do Ocidente, igualmente anticristãos, preferem uma actuação mais pacífica, mas não menos hostil: o silêncio. Se a meritória acção da Igreja católica e os seus protagonistas são ignorados pelos meios de comunicação social, a irrelevância da instituição está garantida porque, no mundo da informação, o que não é notícia não existe.

No dia 29 de Janeiro passado foi esfaqueado até à morte, enquanto confessava, o P. Joseph Tran Ngoc Thanh, dominicano vietnamita de 41 anos. A este propósito, o P. João Vila-Chã escreveu: “O crime cometido é horrível. A doação deste jovem sacerdote inscreve-se na linha dos numerosos mártires cristãos que, desde há séculos, são fundamento da fé cristã nas terras do Vietnam. Sejam quais forem os pormenores e os detalhes, que não procuro, deste horrível crime, uma coisa nos pode consolar: morrer em união com Cristo, como não pode deixar de ser o acto de Confessar, é glória que nenhum crime ou criminoso deste mundo alguma vez poderá eliminar.

Não obstante a gravidade do crime, a notícia não apareceu nos media portugueses. Se a vítima fosse um jornalista, é certo e sabido que, no dia seguinte, ‘todos seriamos Joseph Tran Ngoc Thanh’; se fosse um negro norte-americano, a sua morte teria provocado manifestações a exigir justiça, porque ‘Black Lives Matter’. Mas, como é um padre, silêncio absoluto. Porquê?! Porque, para um certo jornalismo militante do politicamente correcto, as notícias positivas sobre a Igreja não só não interessam como devem ser, discretamente, censuradas.

Alguma comunicação social só se interessa pela realidade eclesial quando se trata de escândalos. Se o P. Joseph Tran Ngoc Thanh, em vez de mártir fosse pedófilo, é certo e sabido que seria notícia nos jornais, rádios e televisões. Mas as notícias sobre o heroísmo cristão não interessam, porque abonam a favor de uma instituição que interessa desacreditar, para a implementação de políticas sociais – aborto, eutanásia, ideologia de género, etc. – a que a Igreja se opõe.

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A propósito da atenção dada por um certo jornalismo norte-americano à questão da pedofilia eclesial, o Padre Martin Lasarte, uruguaio, escreveu uma muito pertinente carta ao The New York Times. Este salesiano, que se dirige ao “irmão jornalista” e à “irmã jornalista”, apresenta-se com simplicidade: “Eu sou um simples padre católico. Estou feliz e orgulhoso da minha vocação. Vivo em Angola há vinte anos, como missionário.”

O P. Martin começa por referir a forma como uma certa imprensa norte-americana se referiu à pedofilia eclesial: “Vejo em muitas notícias, especialmente no vosso jornal, que este assunto é exposto de uma forma mórbida, como seja a descrição, em pormenor, da vida de um padre pedófilo. Assim se fez em relação a um sacerdote americano dos anos 70; e de outro, na Austrália, nos anos 80, e assim por diante. Certamente, são todos condenáveis! Algumas investigações jornalísticas são ponderadas e equilibradas, mas outras são exageradas, cheias de preconceitos e, até, de ódio”.

Não obstante a denúncia de um sensacionalismo que, decerto, não é inocente, Lasarte não é tíbio na condenação da pedofilia: “Sinto uma grande dor pelo mal profundo que causam as pessoas que deveriam ser sinais do amor de Deus e que, pelo contrário, são um flagelo para a vida de tantos inocentes. Nenhuma palavra pode justificar tais actos. Não há dúvida de que a Igreja só pode estar do lado dos fracos, dos mais indefesos. Por conseguinte, todas as medidas, tomadas para a protecção e prevenção da dignidade das crianças, serão sempre uma prioridade absoluta.”

Que a pedofilia deva ser tratada com todo o rigor da lei e da justiça não quer dizer, contudo, que se justifique a generalizada indiferença da comunicação social em relação a tantos – graças a Deus, a maioria! – zelosos pastores que, continuamente, dão a sua vida pelos seus irmãos. É o caso do próprio P. Martin, que teve de “transportar, por estradas minadas, em 2002, muitas crianças subnutridas de Cangumbe para Lwena (Angola), porque o Governo não estava disponível e as ONG não estavam autorizadas.”

Embora ignorados por uma certa imprensa anticlerical, há padres que são verdadeiros heróis, como o P. Roberto, que ensinou centenas de prisioneiros a ler e escrever e que, aos seus 75 anos, percorria a cidade de Luanda à noite, à procura das crianças da rua, para as levar para um abrigo. Também o P. Stefano gere uma casa de acolhimento para jovens que são espancadas, maltratadas e violadas.

Não são excepções à regra, mas a regra, de que os pedófilos são a dolorosa e muito minoritária excepção: “Não é novidade que mais de 60.000 (…) padres e religiosos deixaram as suas terras e as suas famílias para servirem os seus irmãos em leprosarias, hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusadas de feitiçaria, ou órfãs de pais que morreram de SIDA, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de cuidados para pessoas seropositivas … ou, sobretudo, em paróquias e missões que dão às pessoas a motivação para viver e amar”.

O P. Martin não pretende a exaltação do sacerdócio católico, nem a apologia da Igreja, que não procura nem deseja glórias mundanas. Deseja apenas que se reconheça “a vida de um padre ‘normal’, na sua vida quotidiana, nas suas dificuldades e alegrias, sacrificando diariamente a sua vida em favor da comunidade que serve. (…) Não queremos ser notícia, mas simplesmente anunciar a Boa Nova.”

Não exige, como seria de justiça, um pedido de desculpas à Igreja, nem aos padres, mas que haja a honradez de dizer a verdade, porque “insistir, de forma obsessiva e persecutória, sobre um assunto, perdendo de vista o panorama geral, cria caricaturas verdadeiramente ofensivas do sacerdócio católico. (…) O padre não é nenhum herói, mas também não é um neurótico: é um homem simples que, com a sua humanidade, procura seguir Jesus e servir os seus irmãos.” Todos são pecadores, muitos são santos e alguns até foram mártires como, entre tantos outros, o Padre Joseph Tran Ngoc Thanh.

Também se mente quando, conscientemente, se omitem as verdades incómodas. O P. Martin Lasarte termina com um voto: “Jornalista, procure a Verdade, o Bem e a Beleza. Isso irá torná-lo nobre na sua profissão. É tudo o que lhe peço, meu amigo.” É também tudo o que a Igreja pede aos meios de comunicação social: que não sejam facciosos, divulgando apenas o que lhes convém, mas digam toda a verdade.