Portugal, desde tempo idos, foi identificado pelos congéneres países da Europa como o menos europeu de todos, vulgo o mais atrasado, menos educado e onde a passividade associada à indiferença radica na ideia longínqua e quase esquecida, mas impregnada, de que o rei perdido no Norte de África havia de voltar um dia para devolver de novo o caminho do sucesso à pátria.
Esta crença minou durante muito anos a acção do quotidiano português, hoje já não acontece directamente, mas culturalmente e de forma quase transversal, o Português continua à espera de ser salvo.
Não existe por parte da hierarquia societária portuguesa uma vontade de crescimento e de desenvolvimento e criação de inovação. Existe, sim, uma triste forma resignada de estagnação para o abismo sem que a maioria dos cidadãos reajam e indiquem outro caminho que não o que tem sido seguido.
Joseph Barthélemy Carrère, médico francês e professor de anatomia, esteve entre nós no fim do século XVIII e o que disse dos Portugueses não é bonito, chegando a ser insultuoso na caracterização do que viu por aqui. Afirmou, e passo a citar: “E concordarás que o teu país é o mais atrasado, o mais ignorante, o menos civilizado, o mais selvagem e bárbaro de todos os países da Europa”. Esta “chamada” de atenção serve para carimbar como um facto assumido que, desde pelo menos há três séculos, Portugal não se desenvolveu em comparação com os restantes países europeus e, pior, nunca fez um esforço para convergir com os Estados páreos europeus, indo sempre a reboque do desenvolvimento do mundo global.
Já nos nossos dias fomos presenteados pelas infelizes palavras do holandês Jeroen Dijsselbloem de que os Portugueses gastam o seu dinheiro em vinho e mulheres.
Perante este contexto desfavorável é preciso, primeiro, que reflitamos se o problema está fora de Portugal ou cá dentro, e, segundo, se devemos esperar que um ser messiânico nos salve ou porventura que as novas gerações façam acontecer a transformação de conceito necessária. Portugal não pode ser só um país bonito para visitar, tem de ser um país capacitado para envolver todos os cidadãos num projecto de futuro, onde cada um de nós, através do seu esforço, possa tornar realidade a vida para que trabalhou.
Existem, naturalmente, inúmeros factores que podem fazer com que Portugal possa efectivamente convergir com a Europa, mas é essencial destacar o papel que as políticas de ciência, tecnologia e inovação podem ter, porque a valorização do conhecimento tem de se traduzir num impacto sério para o verdadeiro desenvolvimento do país. Precisamos de um ecossistema de inovação coerente, que seja capaz de valorizar economicamente os resultados conseguidos pela nossa comunidade científica e que promova maior interação (e integração) entre empresas tecnológicas e industriais. Só assim conseguiremos exportações de maior valor acrescentado, mais e melhor emprego numa economia diversificada e com oportunidades para todos. O bom funcionamento do trinómio Estado, academia e empresas é de uma importância capital.
Precisamos que a ciência e a tecnologia, de forma independente do poder político, sirvam os interesses gerais do país, contribuindo para novas ideias e projetos e para o financiamento e desenvolvimento de parcerias para a comercialização e internacionalização do conhecimento. Precisamos de mais investigação, fundamental e aplicada, melhores academias, mais doutorados e mais investigadores, portanto melhores profissionais e melhor educação. Estas políticas podem bem ser a “reforma estrutural” no crescimento da nossa economia.
Para impulsionar as políticas de ciência e tecnologia em matéria de inovação, é essencial medir bem o impacto dos projetos de investigação, assim como das colaborações entre empresas e a academia. Podemos ainda melhorar significativamente instrumentos como o Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico, melhorando a avaliação de impacto, da transparência, das dotações orçamentais e dos resultados.
É importante sublinhar que Portugal, nos rankings do PIB per capita, ficou em 16º nos 19 países que compõem a Zona Euro, ficando na cauda da Europa. É precisamente aqui que as novas gerações têm um papel de enorme importância para mudar esta tendência, uma vez que ao fim e ao cabo, a luta maior da política é, literalmente, o caminho para a felicidade. É por isso que a minha geração não se pode conformar em ficar na cauda da Europa, sabendo que existe um enorme potencial inerente a Portugal.
Temos de parar de esperar por um salvador, porque esse potencial está em nós, enquanto sociedade.