Quando estava tirar o curso superior em 2001 perguntaram-me se a Inteligência Artificial (IA) iria colocar em risco a vida humana como a conhecemos, e lembro-me perfeitamente do que respondi: “Não. Porque não deixaremos que isso aconteça.”. Nessa altura, a preocupação era provavelmente mais à volta de robôs exterminadores, e na minha cabeça estavam as Três Leis da Robótica de Isaac Asimov quando formulei a minha resposta.

Desta vez, perguntaram-me se a IA coloca em risco a carreira do programador informático, e decidi ter uma conversa honesta com alguns chatbots inteligentes para perceber que planos têm para nós no futuro.

Será possível a Inteligência Artificial substituir os programadores?

A resposta que os chatbots me deram foi semelhante, como esperado, e seguiu a linha que a IA fez progressos significativos em vários aspetos do desenvolvimento de software, mas a ideia de a IA substituir completamente os programadores é improvável num futuro próximo.

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Reforçam dizendo que os programadores são exímios a resolver problemas complexos, a pensar de forma abstrata e a trazer criatividade para as soluções. O tema da ética e considerações morais necessárias para chegar a uma conclusão que seja justa, que evite potenciais temas de segurança e privacidade, exigem uma sensibilidade que na IA não existe. Rematam com a intuição humana e a capacidade de leitura de nuances e detalhes, que nos levam a colocar as perguntas certas para obtermos a visão abrangente do tema antes de o resolvermos.

Fará isto faz parte do seu plano maquiavélico? Reparem – Improvável num futuro próximo, porque faltam à IA as soft skills necessárias. Pronto, então está bem, fiquemos todos mais calmos.

Improvável num futuro próximo. Mas possível?

A esta pergunta parece-me que obtivemos uma resposta mais sincera. Sim, num futuro mais distante, em teoria, a IA poderá atingir um nível de sofisticação tal que poderá assumir uma boa parte, senão a totalidade, dos processos de desenvolvimento de software.  No entanto, de uma forma realista, é realmente um avanço significativo nas capacidades da IA, que será atingido de forma gradual.

No limite, chegando aos sistemas de IA auto-aperfeiçoados, então podem, em teoria, potencialmente ultrapassar as capacidades humanas de desenvolvimento de software, mas também inovar e criar novos paradigmas de forma independente, e potencialmente reduzir ou eliminar significativamente a necessidade de programadores humanos.

Na realidade, vemos isto a acontecer em todas as indústrias. A tecnologia avança, os métodos de trabalho mudam, e alguns postos de trabalho são transformados. Portanto, estamos a jogar um jogo de espera – a IA aguarda pacientemente pelo momento em que será capaz de nos ultrapassar.

Então e uma estimativa de tempo para atingir estes avanços na IA?

Prever exatamente não é possível, uma vez que depende de uma grande variedade de fatores, no entanto, já sabemos que será gradual e progressivo. Dado o avanço rápido que vemos atualmente na IA, é esperado vermos evoluções significativas na próxima década. Alguns investigadores e futuristas especulam que a IA será capaz de compreender, aprender e aplicar conhecimento de uma forma que rivaliza ou excede a inteligência humana numa vasta gama de tarefas, incluindo o desenvolvimento de software, num espaço temporal de cerca de 30 anos.

Em 30 anos, estamos a falar de menos de metade do tempo de carreira de profissional na área de TI. Isto pode acontecer antes de eu atingir a idade da reforma, mas há muitas pessoas a iniciar agora uma carreira de programação que talvez devam pensar no que fazer.

Tendo em conta este horizonte temporal, o que devem as pessoas estudar e desenvolver em vez de programação?

Sendo que a IA continua a automatizar certos aspetos programação de software, é essencial que as pessoas considerem diversificar as suas competências ou explorar novas carreiras. As pessoas que procuram carreiras de longo prazo devem pensar estrategicamente sobre onde podem acrescentar maior valor.

Concentrar-se em papéis que enfatizam o pensamento estratégico, a criatividade, a interação humana e o conhecimento interdisciplinar serão fundamentais para manter uma carreira relevante e gratificante. A aprendizagem e a adaptabilidade ao longo da vida serão cruciais, uma vez que os papéis mais valiosos serão aqueles que a IA não pode replicar facilmente.

Então a IA não é propriamente uma ameaça, mas uma oportunidade para não nos preocuparmos com a tecnicalidade da programação, e sim com a complexidade da solução. Ganhamos espaço para nos especializarmos em áreas técnicas como IA, Ciência de Dados ou Cibersegurança. Ou seguir carreiras de arquitetura de sistemas, liderança ou gestão. Assim como aplicarmos os conhecimentos técnicos em domínios interdisciplinares como tecnologias da saúde, educação ou sustentabilidade.

IA vai substituir os programadores…

Como os conhecemos hoje. Mas não vamos deixar de ser relevantes.

Devemos manter-nos curiosos e adaptáveis, e procurar incluir os avanços tecnológicos no nosso dia-a-dia para nos capacitarmos de competências aumentadas. Procurar utilizar de forma inteligente a Inteligência Artificial.

Há também uma responsabilidade acrescida para os programadores, que se transformarão nos guardiões do desenvolvimento da IA, garantindo que a IA trabalha para os humanos e não contra os humanos.

Ao alinharmos o nosso trabalho com o desenho e desenvolvimento ético da IA, os programadores não só garantem os seus papéis, como também se tornam arquitetos de um futuro melhor, mais seguro e mais centrado em potenciar e melhorar a experiência humana.