Ano após ano habituamo-nos a conviver com os professores na certeza de que estão sempre ali, na escola. Sabemos que passam por dificuldades, que estão cansados, que as suas condições já não são o que eram, mas sabemos também que são um referencial de estabilidade e que os dados da educação indicam que continuam a dar o seu melhor.

Na verdade, entre tantas crises e situações difíceis que o país enfrenta, atirando milhões de portugueses para situações verdadeiramente precárias, com mais de 4 milhões de pessoas dependentes de apoios prestações sociais, 3 milhões que vivem mensalmente com menos de 660 euros e uma pobreza que continua a crescer, a situação dos professores foi ficando adormecida no nosso consciente coletivo e a educação cada vez mais vista como uma paixão efémera da esquerda, útil para discursos ideológicos da importância dos serviços públicos, para logo traída no exercício da governação…

 

Nas últimas semanas, o País acordou para a situação limite em que os professores vivem. Eles despertaram de uma letargia de desculpas, que ano após ano os embalava e às suas preocupações. O momento que vivemos deve definir o nosso posicionamento: ou estamos com os professores – e consequentemente pela educação – ou não. No que me diz respeito, esta luta é também minha!

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Acredito que esta é a luta de todos os que acreditam na educação e em termos bons professores. É a luta de todos os que acreditam que o papel dos professores é fundamental para o futuro do país, e que por via disso tem de ser uma carreira atrativa para conseguir atrair bons profissionais. E é minha, não porque sou filha de uma professora, mas porque reconheço o contributo central dos professores na minha educação e formação. Em causa não estão só os interesses dos professores. Em causa está o futuro do país.

Desde o famigerado governo de José Sócrates, que conduziu o País a mais uma bancarrota socialista, que os salários e progressões na carreira dos professores foram congelados. Instalou-se na sociedade portuguesa, em particular desde a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, um ambiente de conflito e tensão entre pais, professores e governos. Os professores foram paulatinamente perdendo o seu reconhecimento e progressivamente desacreditados, social, profissional e academicamente, passando de educadores a administrativos da educação.

O resultado é preocupante: muito poucos são os jovens que consideram seguir a carreira de professor.

Tinha eu 6 anos e acabava de entrar na escola primária. A minha mãe efetivou nesse mesmo ano letivo em Vila Franca das Naves. Somos de Coimbra e durante 24 anos a minha mãe-professora andou de casa às costas, na estrada. Entre um ano ou outro em que conseguia lecionar mais perto da nossa cidade, grande parte da sua vida profissional foi entre comboios e o IP3. Ano após ano, sucessivamente, sem ajudas adicionais e há, como a minha mãe, milhares de casos por esse país fora. Ser professor não é apelativo, o que afasta os nossos melhores alunos dessa opção, o que por sua vez se repercute no nosso futuro.

Pessoalmente, sei bem dos sacrifícios feitos pelos professores. Cresci com a minha mãe sempre longe. As histórias são inúmeras e os quilómetros incontáveis. Ser professor não é um trabalho das nove às cinco. Um professor também é um educador, mas ser professor hoje vai muito além de preparar e dar aulas; é receber e informar os pais; é avaliar e lançar notas; é tratar da direção de turmas; é preencher formulários; é justificar faltas; é organizar visitas de estudo; é promover dias temáticos na escola; é lidar com alunos com necessidades educativas especiais; é lidar com crises emocionais e familiares dos alunos; é resistir à barulheira da escola; é tanta coisa para tão pouco tempo. Apesar de tudo, a dedicação dos professores existe e é reconhecida com a associação dos pais e dos alunos à sua luta.

Quanto a mim é simples: Obrigada, Professores!

P.S.: Os últimos anos ficam ainda marcados por arranjos de gabinete, numa teia ideológica que serviu interesses políticos de uma geringonça, mas que nada contribuiu para melhorar a educação e devolver as condições profissionais dos professores. As manifestações a que assistimos são também um atestado de insuficiência a muitos dos que ao longo dos anos viveram de forma parasita do mal dos professores, mas que nunca conseguiram contribuir de forma eficaz para a resolução de problemas. Os sindicatos outrora protagonistas foram agora suplantados por novos movimentos, que finalmente dão voz a milhares de professores. Vale igualmente a pena pensar nisto e definitivamente dar espaço a novos protagonistas na defesa da escola e da educação: os Professores.