A crise política que hoje vivemos, causada pela rejeição do Orçamento de Estado para 2022, é o resultado da morte anunciada da “gerigonça” ou seja da solução politica que governa o país desde 2015.

Esta solução política, sustentada pelos partidos de extrema esquerda, assentou desde o seu inicio numa contradição profunda, insanável.

Com efeito, por um lado, o PS diz defender um conjunto de valores e princípios, que configuram um modelo de sociedade, como a presença activa do país na União Europeia, a sua pertença à zona euro, a existência de uma economia de mercado com protecção social e a participação na NATO e em outras organizações multilaterais de defesa das sociedades livres e democráticas.

Por outro lado, contudo, o PS para se manter no poder, sempre dependeu dos partidos de extrema esquerda que defendem exactamente o oposto daquele modelo de sociedade: querem a saída de Portugal da Europa e do euro, defendem uma economia em que o Estado é o motor da iniciativa económica com a nacionalização dos sectores fundamentais da economia, toleram apenas a iniciativa privada e querem a saída do país da NATO e das outras organizações.

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Ou seja, para se manter no poder, o PS sempre dependeu dos partidos que defendem um modelo de sociedade que conduziu sempre, historicamente (como na ex-União Soviética), e que conduz também hoje nos poucos países que o têm (como Cuba e Coreia do Norte) a sociedades opressivas, com supressão de liberdades individuais, de penúria e atraso económico e que fracassaram em dar às suas populações melhores condições de vida e bem estar.

O Governo, por impossibilidade de ter uma estratégia comum com os seus aliados, sobreviveu ao longo de 6 anos, através de um tacticismo, corporizado por um 1º Ministro habilidoso, mas não tem para oferecer um caminho para o futuro do país.

Devido à pressão da extrema esquerda e ao objectivo principal e prioritário do 1º Ministro de se manter no poder, não foram introduzidas as reformas estruturais na economia para aumentar a competitividade e a produtividade do país, aspecto decisivo para dar melhores condições de vida â população, porque tais reformas implicam mudanças em áreas (por exemplo no mundo laboral) que colidem frontalmente com a ideologia e o tipo de sociedades (fracassadas) que os partidos de extrema esquerda querem impor. Outras reformas fundamentais para o progresso do país também não foram realizadas, como no Sistema Político e Eleitoral, na Justiça, na Segurança Social, na Saúde e na Administração Pública.

Ora, sem estas reformas, os portugueses estão a ser condenados a condições de baixos salários e de baixas pensões, à emigração dos jovens e dos quadros qualificados e à perpetuação da pobreza em largas camadas da população a qual, com esta solução governativa, apenas tem resposta numa política assistencialista.

Estes seis anos de “geringonça” exacerbaram as contradições entre o PS e a extrema esquerda, e uma solução política que, no início, era supostamente “win-win”, ou seja, benéfica para ambas as partes (mas prejudicial para o país) veio a revelar-se, ultimamente. numa solução de soma nula, com o PS a beneficiar política e eleitoralmente em detrimento dos partidos de extrema esquerda (como foi patente nas últimas eleições autárquicas).

E foi esta a situação que se agudizou, agora, com a rejeição do Orçamento de Estado.

O modelo da “geringonça” (formal, com acordo escrito, ou informal como no último ano) nunca teve resposta para os problemas de fundo do país apostando numa economia assistencialista, de distribuição de riqueza, mas sendo incapaz de a criar ao nível dos países europeus desenvolvidos e alcançando apenas taxas de crescimento medíocres inferiores às dos países mais atrasados saídos da ex-União Soviética o que tem vindo a arrastar Portugal para a cauda da Europa.

E isto apesar de um quadro económico extremamente favorável antes da pandemia: crescimento económico da EU com directo impacto positivo na economia portuguesa, juros baixos devido à política do BCE, forte expansão do turismo, baixos custos do petróleo.

Na ausência de um contexto, em que exista uma economia de mercado, de iniciativa privada, com protecção social, com níveis crescentes de competitividade e produtividade e com condições favoráveis ao dinamismo do tecido empresarial, não é possível ter uma sociedade avançada com melhores condições de vida e de bem estar para população.

Ora foi este contexto que a “geringonça” nunca criou, e não poderia ter criado devido às suas contradições.

A sua existência ao longo destes seis anos constituiu uma perda de tempo para resolver os problemas de fundo, económicos e sociais, da sociedade portuguesa, que condenam, em especial, as camadas da população mais vulneráveis e desprotegidas da população (que os partidos de esquerda dizem defender) a baixos salários e baixas pensões e que impedem e continuarão a impedir melhores condições de vida dos portugueses, se não forem enfrentados.