Quando um responsável político deixa de ter soluções para apresentar ao país, resta-lhe a tática política da mentira. A Novilíngua foi um termo criado por George Orwell para o livro 1984. Nele, um governo autoritário resolveu fazer alterações à linguagem usada pelos cidadãos, para desta forma conseguir manipular a realidade. Por exemplo, o denominado Ministério da Fartura na realidade racionava a comida, o Ministério da Paz na realidade fazia a guerra, o Ministério da Verdade era o responsável por inventar mentiras e o Ministério do Amor era uma tenebrosa polícia política. Na sociedade distópica retratada no livro, a semântica era usada de forma massiva para mentir aos cidadãos. Em Portugal isto foi especialmente evidente no tempo da Geringonça e continua a acontecer com o governo de maioria absoluta do PS. António Costa, em vez de governar o país, limita-se a alterar o significado das palavras.

Durante o governo da troica, qualquer pessoa minimamente inteligente e séria sabia que não havia uma alternativa credível à política então levada a cabo. Não faltaram charlatães que nos queriam convencer que, perante a bancarrota a que o PS nos tinha votado, a solução era endividar ainda mais o país. Os mesmos charlatães que nas televisões nos mentiam de forma descarada de repente viram-se a governar o país. Como é que António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins nos podiam dizer que a política de Passos Coelho era inevitável?

Para alcançar o poder António Costa tratou de dar um novo significado à expressão “derrota eleitoral”. Na noite das eleições legislativas de 2015, derrota eleitoral passou a querer dizer acordo parlamentar com partidos populistas defensores de ditaduras sanguinárias.

A segunda alteração à língua portuguesa feita pelos partidos da geringonça foi a mudança do significado da palavra “descrispação”. Toda a gente pensava que sabia o que queria dizer esta palavra até ao dia em que a esquerda parlamentar resolveu dar-lhe outro significado. Assim, em vez de significar o ato ou efeito de atenuar tensões ou agressividade, “descrispação” passou a significar ato de aldrabar os portugueses de forma descarada. Diziam que estavam a dar muitas coisas, mas na realidade estavam a cortar em tudo.

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Durante o tempo da troica “Austeridade” foi uma das palavras mais usadas no linguajar político. Com o governo da Geringonça essa palavra foi proscrita e substituída pela expressão “Contas certas”. Toda a gente sabe o que significa a terrível palavra Austeridade, mas a expressão fofinha “Contas certas” perdeu todo o significado. Isto porque ela passou quer dizer cortes de salários e pensões, aumento de impostos, redução do investimento público e degradação dos serviços públicos.

As contas certas (austeridade de esquerda) e a descrispação (mentir de forma descarada) levaram a um enfraquecimento do SNS. Perante este descalabro, foi necessário inventar novos significados para algumas expressões. Assim, a expressão “Reforço do SNS” passou a querer dizer aumento das listas de espera, encerramento e caos nas urgências, falta de médicos, falta de medicamentos, aumento do recurso aos seguros de saúde e hospitais privados. O encerramento de serviços de saúde passou a designar-se por “Hospitais a trabalharem em rede”, que por sua vez significa grávidas a andarem dentro de uma ambulância à procura de um hospital onde possam ter os filhos.

Para melhorar os resultados escolares, a geringonça resolveu apostar na escola pública. O problema é que o significado da expressão “Apostar na escola pública” foi alterado. Com a geringonça passou a querer dizer  degradação da autoridade dos professores, falta de meios didáticos, degradação das escolas, guerra declarada entre professores e governo, degradação dos indicadores da escola pública, expansão do ensino privado.

O estado social é uma das principais bandeiras da esquerda. Todos os dias fazem juras de amor à possibilidade de proporcionar aos portugueses coisas grátis. Num país com uma classe política minimamente séria, isto tem o nome de Social Democracia. Mas no Portugal da geringonça, e agora do PS, o significado da expressão Social Democracia foi alterado. De 2015 a esta parte passou a significar aumento das clientelas da esquerda, aumento da dependência dos cidadãos em relação ao estado e degradação dos serviços públicos a favor dos sindicatos dirigidos pelo PCP.

Claro está que não podia faltar o “Crescimento económico”. Até ao tempo da geringonça, o menos informado dos cidadãos sabia que o crescimento económico correspondia ao aumento da riqueza do país. Mas com António Costa teria outro significado. Depois de 2015 a expressão “Crescimento económico” passou a significar, aumento do peso do estado na economia, aumento de impostos, regulação absurda sobre os sectores competitivos, empresas dependentes do estado, enterrar milhares de milhões de euros na TAP, EFACEC, Carris, CP e Transtejo, atacar publicamente empresas e sectores de atividade que não obedecem às narrativas da esquerda, estagnação económica e a consequente ultrapassagem de Portugal pelos países da Europa de Leste.

Por fim temos expressões como “Melhoria da democracia” e “Ética republicana”. Antigamente significavam coisas como o aumento da transparência das instituições democráticas, a boa gestão da coisa pública, fortalecimento da sociedade civil, melhoria da justiça e do poder regulatório, etc. Hoje significam apropriação dos organismos reguladores e fiscalizadores pelo PS, condicionamento da Justiça, nomeação de suspeitos de crimes para lugares de governação, transformar os debates parlamentares num lodaçal, pessoas da mesma família sentadas na mesa do conselho de ministros, colocar os Serviços de Informação da República ao serviço do PS, etc.

Recentemente o Ministério da Saúde lançou um concurso para médicos de família. Das vagas abertas, apenas 30% foram preenchidas, o que naturalmente é um péssimo resultado. Era de esperar que o ministro da Saúde viesse dizer que iria alterar as condições oferecidas aos médicos, para que no próximo concurso esse número fosse superior. Em vez disso, disse de forma muito orgulhosa (e descarada) que 90% dos médicos que tinham concorrido tinham ficado colocados. Como se isso não fosse o normal. Era o que mais faltava que a maioria dos médicos não quisessem ficar nos lugares aos quais tinham concorrido. Neste caso a mentira consistiu em dar ênfase a um indicador irrelevante e desvalorizar o que realmente importava. A cada sinal de degradação do SNS, o ministro da Saúde tem o descaramento de nos dizer que é tudo normal e que o SNS está cada vez melhor.

Foi a isto que o PS, PCP e BE nos trouxeram. Um país cheio de verdades alternativas, onde o discurso do governo deixou de fazer sentido. Foi assim que António Costa virou a página da austeridade. Fez com que tudo tivesse ficado pior, mas alterou o significado das palavras. Mas ninguém pense que está sozinho nesta cruzada da nova linguagem. O sr. Putin conseguiu apelidar uma guerra sanguinária de “Operação Militar Espacial”. Perante o estado do país e quando confrontado com a realidade, o primeiro-ministro mente de forma descarada. De cada vez que vai ao parlamento põe os jornais de fact-checking a fumegar de tanto funcionarem. O PCP e o BE assobiam para o lado como se o atual estado de coisas nada tivesse a ver com eles.