Nas últimas décadas as políticas levadas a cabo em Portugal estiveram quase sempre subordinadas às agendas ideológicas, aos jogos de poder e aos interesses económicos das clientelas do regime. Desta forma, qualquer benefício que o país tenha extraído dessas políticas foi quase sempre por mero acidente ou uma consequência de importância secundária.

No sector da energia este facto tem sido sobremaneira evidente, a competitividade da nossa economia e o combate às alterações climáticas têm sido o parente pobre da política energética, mas servem para justificar todas as asneiras que têm sido cometidas. Basta ver os processos judiciais que estão a decorrer no âmbito das rendas excessivas das energias renováveis.

No final do primeiro mandato de José Sócrates foi lançada uma série de barragens que tinha como principal objetivo arrecadar recursos financeiros que possibilitassem ao PS continuar a agradar às suas clientelas. Por esse motivo a EDP, Endesa e Iberdrola tiveram de entregar centenas de milhões de euros para terem o direito de investir. É muito estranho que exista um país onde as empresas tenham de pagar centenas de milhões de euros ao estado para poderem investir no país. Pela cabeça dos socialistas nunca passou a ideia de que essas barragens serviriam para produzir energia renovável. A prova disso está no facto de, em 2016, António Costa ter cancelado algumas. Só não cancelou todas porque parte já estava em construção. No orçamento de estado de 2022 foram orçamentados 500 milhões de euros para pagar a devolução do dinheiro que as empresas tinham entregado ao estado para poderem construir as barragens canceladas em 2016.

Ao mesmo tempo que cancelava as barragens, o PS cancelava também a prospeção e exploração de gás e de petróleo na costa portuguesa. Tal como nas barragens, também aqui foi usado o falso argumento da preservação ambiental. Segundo a lógica socialista, para preservamos o ambiente podemos continuar a queimar gás e petróleo desde que seja importado da Nigéria, Rússia, etc. Para além da produção de energia com recurso a fontes fósseis, foi necessário transportar milhares de milhões de metros cúbicos de gás por mar. Como sabem o transporte marítimo é uma tarefa altamente poluente.

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Como é óbvio ninguém travou as barragens nem exploração de gás e de petróleo por causa do ambiente, aqui o mais importante foi a agenda de poder de António Costa, conjugada com a agenda ideológica da extrema-esquerda. O PS travou esses investimentos para poder montar a geringonça.

Para além dos danos ambientais, esta política enviesada teve também danos na reputação económica do país. O então presidente da Partex e atual ministro da economia disse em 2018: “Nós, pura e simplesmente, decidimos não investir mais em Portugal, não vale a pena.” “Quando mudou o Governo, passámos para o ciclo oposto, que é governar em função do que dizem os autarcas e a opinião pública, sem haver uma visão clara da importância que o projeto Algarve poderia ter.

Seria importante perguntar ao agora ministro da economia se Portugal já é um bom sítio para investir ou se o governo já tem outro líder.

Estas afirmações de António Costa e Silva mostram como é que são tomadas as decisões em Portugal. No nosso país a política energética é subordinada a uma lógica imediatista e inconsequente. Num sector em que o longo prazo e a previsibilidade são fundamentais, isto é especialmente grave. Será que no futuro os investidores não terão medo da imprevisibilidade socialista?

Portugal, pelo facto de  não ter explorado hidrocarbonetos, não deixou de os consumir. Por esse motivo, do ponto de vista ambiental esta decisão foi inócua. Mas transformou-se no primeiro país no mundo que, tendo essa possibilidade, abdicou da exploração de petróleo e gás. Portugal pode estar a caminho de ser o país mais pobre da União Europeia, mas para o PS contam apenas os seus jogos de poder.

Se tivéssemos um governo com uma política energética digna desse nome, em 2022 o gás português teria (na sua proporção) ajudado a substituir o gás russo. Aqui temos de dar os parabéns ao PCP. Parece que adivinhavam que seria bom para a Rússia a não exploração de gás em Portugal. Haja alguém que pense a longo prazo.

Outra decisão que mostra bem o absurdo em que consiste a política energética socialista foi o encerramento extemporâneo das centrais a carvão do Pego e Sines. Não há dúvida nenhuma de que temos de fazer a transição energética para um sistema electroprodutor mais sustentável, mas o governo não é uma associação ambientalista. Ao mesmo tempo que Portugal encerrava as suas centrais a carvão, para dar suprimento às importações portuguesas, Espanha reabria uma central do mesmo tipo. Mais uma vez, o voluntarismo ambiental do governo foi inconsequente. O CO2 que não foi produzido em Portugal teve de ser produzido em Espanha, tendo Portugal perdido a mais-valia industrial da transformação do carvão em eletricidade. Segundo a ADENE em 2022 o saldo importador agravou-se para 18,1%.

Em 2022, para colmatar a falta de produção termoelétrica, recorreu-se à produção hidroelétrica. Como o ano passado foi ano hidrológico fraco, isto levou à redução do volume de água armazenado nas barragens, pondo em causa atividades como a agricultura e o turismo.

Claro que o governo tratou de culpar as alterações climáticas pela sua falta de visão estratégica.

Apara além da mitigação das alterações climáticas, investir em energias renováveis é algo absolutamente estratégico para qualquer economia. Mas dado a sua intermitência, estes investimentos têm de ser feitos com cautela, de outra forma podemos estar a prejudicar a competitividade das nossas empresas e a qualidade de vida dos cidadãos. De notar que em Portugal muitos idosos morrem de forma prematura por não conseguirem aquecer as casas.

Foi muito interessante verificar que França, Portugal e Espanha atiraram para as calendas gregas a construção do gasoduto de hidrogénio verde, ao mesmo tempo que travavam a construção de mais interligações elétricas entre França e a Península Ibérica. Trocamos um valor seguro como a eletricidade renovável, pela incógnita do hidrogénio. Isto origina que não vamos conseguir mitigar a intermitência das energias renováveis. Se as interligações a França e por consequência ao resto da Europa fossem reforçadas, poderíamos aumentar muito a nossa produção de eletricidade renovável.

As pessoas que têm levado a cabo esta política energética errática são as mesmas que, de uma forma temerária, anunciam milhões de euros de investimento em hidrogénio verde. O passado socialista no que diz respeito à política energética não augura nada de bom para o que aí vem.