As marchas a favor da “Palestina Livre” tornaram-se parte do folclore nos países ocidentais. Não são só estudantes ignorantes que a misturam com as alterações climáticas, o anti-capitalismo e o fanatismo de género. São oportunistas políticos com a esperança de converter mais uns ingénuos ao seu “paraíso” ideológico. E são anti-semitas que aproveitam para exteriorizar o ódio aos judeus através de cânticos que propõem o seu desaparecimento.

Lia o “Gulag”, de Anne Applebaum, quando vi imagens de uma dessas marchas em Portugal, onde figuravam os artistas habituais. E o paralelismo dos manifestantes com algumas atitudes no Ocidente relativamente à União Soviética tornou-se evidente.

Os Tavares, as Mortáguas, os Raimundos, os Louçãs e toda a colecção de cromos difíceis são os herdeiros daqueles que durante décadas negaram as evidências sobre o terror comunista. Como Applebaum recorda, o terror em massa na União Soviética começou no dia do golpe comunista e não mais parou até ao fim do regime totalitário. Durante essas sete décadas os soviéticos tiveram o apoio militante e dedicado de “idiotas úteis” no Ocidente.

O terror comunista, ao contrário do nazi, nunca impressionou no Ocidente apesar de ter conduzido à morte de mais pessoas. Hollywood, conivente com o socialismo, nunca fez filmes sobre a barbárie do Gulag, mas fez muitos sobre as atrocidades nazis ou japonesas. Peças de teatro ou de outras artes sobre o horror comunista são raras, mas sobre o nazismo ou o fascismo são comuns. Filósofos como Sartre e historiadores como Hobsbawm não foram condenados pelo apoio a Estaline, mas as críticas aos soviéticos em universidades do Ocidente prejudicaram muitas carreiras. O Nobel de literatura premiou escritores marxistas durante anos a fio, mostrando a base pouco literária da sua atribuição.

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E o mesmo se passou nos jornais. Esta semana, a televisão por cabo mostrou um filme que em Portugal passou despercebido: “Mr. Jones – A Verdade da Mentira”, a história de Gareth Jones, um jornalista britânico que denunciou as atrocidades na Ucrânia, o tristemente famoso “Holodomor”. Nele morreram 5 a 10 milhões de pessoas, mas canalhas como Louçã negam que alguma vez tenha existido. “Canalha” é apenas uma caracterização de quem revela maldade, desonestidade ou mau carácter. Poderia ser “patife”, “velhaco”, “biltre” ou “pulha”.

Que jornais e televisões tenham promovido semelhante canalha mostra que a classe jornalística nunca teve apenas gente séria. A História confirma que ao longo do século XX conviveram jornalistas heróis como Jones (ou Ann Miller, homenageada em outro filme em exibição) com uma corja muito variada como Walter Duranti, um cobardolas premiado com o Pulitzer que viveu em Moscovo e usufruía dos favores do regime totalitário para negar o que lá se passava nas notícias que remetia para o New York Times.

O que unia todos estes comunistas era o ódio ao Ocidente e as manifestações pela “Palestina Livre” são também uma demonstração desse ódio. Os desfiles são uma continuação da luta contra o capitalismo ou o nuclear dos que exaltavam a revolução comunista. Tal como antes, o socialismo continua a ser a negação da realidade em nome de uma utopia.

As palavras de ordem mudaram, mas o motivo é o mesmo. Dizem agora defender os palestinianos e ignoram os crimes por eles praticados. Dizem defender a paz e “perdoam” as atrocidades islâmicas, se calhar por medo de represálias. Fazem pedidos de embargo de armas e fingem esquecer o terrorismo do Hamas e do Hezbollah, e o apoio do Irâo. Pedem ajuda humanitária como se os líderes palestinianos não tivessem causado pobreza nem negado os mais elementares direitos da população, e especialmente das mulheres. Gritam “genocídio” e escondem a repressão da liberdade e uma opressão que rivaliza com a comunista.

Estes socialistas nunca quiseram saber dos milhares de mortos na Venezuela de Maduro ou das dezenas de milhares de mortos na Nicarágua sandinista e na Cuba Castrista. O que os preocupa é apenas aplicar a velha receita dos seus antecessores, usando hipocritamente a chantagem emocional em nome de “oprimidos” enquanto ocultam a intenção palestiniana de provocar a destruição total de Israel. As manifestações pela “Palestina Livre” são contra o Ocidente porque Israel é também uma sociedade livre, democrática e capitalista. É apenas isto o que os motiva a marcharem.