A associação dedicada à defesa dos animais PETA – People for the Ethical Treatment of Animals – veio alegar que se deverão trocar expressões como “mais vale um pássaro na mão que dois a voar” por “mais vale um pássaro a voar do que dois na mão” para se eliminar a cultura de violência para com os animais. Recentemente colocou-se em causa a passagem na rádio de músicas icónicas como “Baby It’s Cold Outside” porque alegam estar implícito um comportamento predatório, e há pouco tempo questionou-se uma pessoa poder despedir-se dizendo “até amanhã se Deus quiser”.
Músicas proibidas, palavras substituídas, expressões alteradas, temas tabu, estaremos a assistir ao renascimento do Lápis Azul? Trata-se de uma edição um pouco mais vermelha, mas tanto ou mais perigosa. Uma caça às bruxas da atualidade: o pensamento livre e os costumes neste caso exemplificados por dizeres populares.
De facto, com este tipo de propostas a PETA “mata dois coelhos de uma cajadada só”: cria polémica, ganhando visualizações na internet, e dissemina ideias que pretendem pôr fim à livre expressão. Mais preocupante é que esta sua luta não se baseia apenas numa estratégia de marketing, mas num ataque real a costumes construídos socialmente durante décadas.
Não se devem levar estas notícias de ânimo leve, não são inocentes e desprovidas de perigo. São sim uma das maiores ameaças que a Democracia enfrenta hoje em dia, pois atualmente os seus maiores inimigos não se encontram longe, nem se identificam como tal, estão pelo contrário completamente integrados no sistema e declaram-se publicamente como os “verdadeiros democratas”.
Estes campeões da “Democracia” claramente olvidaram o verdadeiro significado de Democracia e Livre Expressão. É que estas não se prendem com uma verdade absoluta única e numa só resposta que agrade a elites morais, mas deve permitir a existência de todas as verdades e de todas as respostas, ainda que, e mais ainda, quando não são do agrado de todos.
A censura não é amiga da Liberdade, e promovê-la, apenas incapacita o desenvolvimento social e intelectual do homem, pois o debate entre ideias diferentes e até falsas continua a ser importante. E não se pode esperar que a censura proíba apenas coisas erradas, pois, quem é legitimamente reconhecido como autoridade moral para poder tomar decisões sobre que palavras se podem proferir ou músicas cantar e ouvir?
Adicionalmente, este tipo de argumentos demonstra que se perderam algumas ferramentas, que considero cruciais à interação civil humana, a compreensão, o senso comum e o sentido de humor. Há uma verdadeira falta de noção do sensato. Não querendo remontar aos tempos do antigamente, nos anos 90 ainda era possível proferir expressões como “agarrar o touro pelos cornos” sem ferir suscetibilidades, porque qualquer pessoa entendia que se tratava de enfrentar com coragem situações difíceis.
Hoje, porém, é impossível fazê-lo porque a recém eleita – sem legitimidade reconhecida – elite moral dita que as pobres crianças ficarão traumatizadas e que crescerão adultos perturbados; o que perpetuará a cultura de violência, seja contra animais ou contra Humanos.
O seu máximo objetivo é deitar abaixo aquilo que a sociedade foi criando gradualmente através da interação e construir uma nova sociedade utópica como se de um edifício de legos se tratasse. A pedra basilar da sua edificação? Uma perseguição moral incessante a qualquer demonstração de pensamento contrário ou distante daquilo que consideram a epítome da moral.
No futuro a maior hipocrisia será revelada, pois este tipo de preciosismos irá levar àquilo que afirma tentar evitar: humanos incapazes de se defenderem, incapazes de enfrentar o errado e de o refutar, no fundo crianças grandes que nunca se depararam com a realidade da vida e que vivem numa fantasia.
Esses homens medrosos serão com facilidade completamente subjugados a um ideal de conduta moral inatingível e uma sociedade de purgas e limpeza moral. Nesse mundo cor-de-rosa não há lugar para espaços cinzentos, apenas para a certidão moral e o Estado já não defende leis, mas primados de ação moral e correta.
Um mundo ao qual me recuso conformar e, para contornar o mesmo, exorto a que se faça frente a estas ideias e que se mostre, com coragem, que não nos deixaremos vergar perante estes atacantes e defenderemos a Democracia e a Livre Expressão, sempre.
Como não temo estes guerreiros, e atrevo-me a afirmar que ainda tenho a capacidade de discernir entre a razoabilidade e o ridículo, despeço-me com esta: por favor reduzam as “lágrimas de crocodilo” e guardem-nas para problemas reais, não sejam “baratas tontas” a disparar em todos os sentidos, que estas expressões já andam há “muitos anos a virar frangos” e por alguma razão o será.
Estudante de mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais, 22 anos