As redes sociais e os algoritmos que elas utilizam tendem a estreitar a visão que temos do mundo, pois acabam por nos mostrar sobretudo aquilo que elas calculam que nos interessa, trazendo-nos as opiniões e visões de quem partilha os mesmos interesses que nós e, as mais das vezes, pensa como nós e pertence aos mesmos estratos socioeconómicos e culturais.

As redes contribuem muito para nos encapsular, para nos manter numa determinada “bolha” de referências e, com isso, para nos engajar em combates de “trincheira” contra os “outros”, os que têm outra visão e outros referenciais.

Estamos a entrar num retrocesso civilizacional, numa re-tribalização, que nos traz de volta a modos de vida em tribo, aquela com a qual nos identificamos e que nos leva a hostilizarmos os que são de fora.

As mais das vezes, não o fazemos de forma consciente e deliberada, trata-se antes dum condicionamento reflexo que se insinua como fator identitário, a tal ponto que chega a cercear a nossa liberdade de pensamento.

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O que vejo nos debates nas redes sociais e, eventualmente por influência e extensão destas, nos meios de comunicação social e cada vez mais também nas interações pessoais, é este acantonamento numa trincheira.

Daí, dessa posição entrincheirada, tribalizada, não vemos, não ouvimos, não lemos o outro. Não o queremos fazer. A ânsia é a de derrotar, vencer, levar a melhor, ficarmos ufanos, cheios de nós próprios, por cima, com ascendente.

Este é um enorme risco para a sociedade aberta de que fala Karl Popper. Um regresso à vida em tribo é um risco enorme para a liberdade. Porque a liberdade compreende o outro e depende da tolerância, da capacidade de ouvir e entender o outro, da empatia, do respeito pela diferença.

Este entrincheiramento, esta re-tribalização da sociedade é hoje, como foi no passado, o principal inimigo da democracia e da liberdade.

Ouvir, entender, argumentar, se necessário, e não ser irredutível, não ficar encapsulado, são ações que temos de impor a nós próprios, se prezamos a liberdade.

Não conseguimos mudar o mundo para melhor se somos incapazes de melhorar-nos a nós próprios na relação com o outro.

Como dizia uma campanha antiga, “pare, escute e olhe.”

É tempo de regressarmos à empatia.