Há 40 anos, a saúde mental nas universidades era um tabu, um não assunto, ou no limite, à boca calada, pelos corredores, confessava-se que, entre os alunos e os professores, havia casos de esgotamento e depressão. Hoje, o assunto é debatido e estudado nas instituições e na imprensa e a principal solução passa pela existência de Gabinetes de Psicologia.

Os Gabinetes de Psicologia nas Universidades desempenham um papel essencial na promoção da saúde mental dos estudantes. Além da consulta individual, promovem, através de diversas iniciativas, a integração social dos estudantes, as relações interpessoais e a adaptação às exigências académicas, elementos essenciais ao bem-estar e ao desenvolvimento emocional.

Mais de 40 anos após a criação do primeiro Gabinete de Psicologia numa Universidade em Portugal, finalmente, a saúde mental é uma prioridade para os governos e as instituições universitárias. O caminho até aqui foi longo: o primeiro gabinete foi liderado pela Professora Graça Figueiredo Dias, na NOVA FCT, um serviço inovador, inspirado nas boas práticas de Universidades Europeias e Norte-Americanas. Desde os anos 90 que estes serviços se têm expandido em Portugal, respondendo aos desafios das mudanças sociais e adaptando-se às características da população universitária.

A transição para a vida adulta, que se desenrola ao longo do percurso académico, é uma fase desafiante. As questões sobre a identidade, a autonomia, a orientação vocacional, a projeção no futuro e as relações interpessoais surgem naturalmente. No entanto, o que se observa hoje é que, embora as causas do sofrimento psicológico não sejam novas, a sintomatologia associada mostra contornos mais graves.

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As mudanças sociais e tecnológicas são rápidas, o tempo acelerado. A reação individual imediata substitui-se à ação pensada. A pressão invade a vida quotidiana. O tempo “executivo” sobrepõe-se ao tempo subjetivo, ao tempo da aprendizagem, do amadurecimento e da experiência vivida.

Os jovens adultos enfrentam, hoje, pressões que podem comprometer o seu desenvolvimento psicológico. O isolamento, a exigência extrema consigo próprios, o excesso de tempo dedicado à tecnologia e a falta de ligações sociais criam dificuldades e impedem o bem-estar dos estudantes.

Os Serviços de Psicologia das Instituições do Ensino Superior (IES) atuam neste contexto e pretendem criar espaços de aprendizagem e crescimento, investindo em iniciativas, além do atendimento clínico. Pretende-se que os jovens se desenvolvam a partir deles próprios, enquanto seres individuais e separados, em relação com os seus pares, com o saber e com os professores. Promove-se a construção de uma visão própria do mundo, que permita lidar com a adversidade e a imprevisibilidade.

No ano passado, o Governo deu um passo determinante: o Programa Nacional para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, que defende a aplicação de um Stepped-Care Model na intervenção em saúde mental nas universidades. Atualmente, parece existir uma maior valorização dos Gabinetes de Psicologia nas universidades, em particular no pós-pandemia, com o aumento do sofrimento psicológico nos jovens e mais foco na saúde mental.

Em 2024, assinalam-se 20 anos da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior (RESAPES), uma associação que reúne os psicólogos das principais instituições universitárias. O principal objetivo tem sido a criação de sinergias entre os diferentes Gabinetes de Psicologia, incluindo, as conferências anuais – este ano, por exemplo, a conferência da RESAPES estreia o Prémio Professora Graça Figueiredo Dias – Prémio de Boas Práticas da Psicologia no Ensino Superior, em homenagem à psicóloga pioneira na introdução deste serviço nas instituições académicas.

A combinação da prevenção e do tratamento, torna os Gabinetes de Psicologia indispensáveis no contexto universitário. O desafio é garantir que os serviços de saúde mental nas universidades continuem a responder às novas realidades de uma geração de jovens que vive num mundo dominado pelo digital, por rápidas mudanças e elevados níveis de pressão.