É preciso reconhecer que, embora Portugal esteja hoje muito descapitalizado (ou talvez por causa disso), e o país esteja a escoar muito do seu melhor capital humano para o estrangeiro, o turismo tem sido um sucesso, sobretudo no que toca à popularidade de Lisboa nos Estados Unidos, uma popularidade que quase supera todas as outras (junto dos tradicionais países europeus emissores de turistas, como sejam os ingleses, espanhóis e franceses) em receitas.
Há que valorizar esse sucesso tomando as rédeas do processo que controla as chegadas e partidas desta gente toda.
Os liberais da nossa praça parecem ter-se esquecido que no século dezanove os ingleses também deram prioridade às suas manufaturas. Entre outros, há um livro muito elucidativo a esse respeito – Kicking Away the Ladder, de Ha-Joon Chang. Hoje os liberais portugueses parecem ter caído no mesmo engodo dos marxistas internacionalistas, comungando da sua ideologia despida de fronteiras, como se os estados-nações já não existissem.
Para que Portugal possa ter influência sobre o número de voos que passam por Lisboa, e sobre o número de voos e respetivos destinos que a – de preferência sua – companhia aérea de bandeira faz através de Lisboa, precisa também de deter o controle da empresa de gestão aeroportuária (ANA).
Infelizmente esse cenário é – neste momento – de realização quase impossível, sendo que o contrato de exploração com a Vinci, assinado em 2012, tem a duração de cinquenta anos. O dito outorga-lhe ainda a concessão do novo aeroporto.
O assunto do novo aeroporto já devia ter sido resolvido. É mais que sabido – não é preciso que se realizem mais estudos – que o local ideal (em termos de espaço e de proximidade da capital) para o dito são os 7 mil hectares do Campo de Tiro de Alcochete. Para além de Alcochete, é preciso também construir uma terceira via sobre o Tejo, entre Chelas e o Barreiro, com um comboio – de alta velocidade ou não – que ligue o dito aeroporto à cidade de Lisboa.
Num cenário em que o estado é dono da TAP, com um aeroporto em Alcochete, e uma terceira via sobre o Tejo, devido ao aumento de capacidade daí advindo, a TAP – mesmo sem o estado controlar a ANA até 2062 – pode ser uma mina de ouro para o país, não só em termos dos lucros que pode gerar, mas do dinheiro que pode escoar para todos os nossos pequenos, médios e grandes negócios que dependem das dormidas de estrangeiros para pagar as contas ao final do mês.
O que Portugal não deve fazer é aquilo que tem feito nos últimos anos.
A saber: continuar a encomendar estudos quando já se sabe onde se deve construir o novo aeroporto, afirmar que a TAP estava falida e era inviável quando não estava (tanto assim que, mesmo sendo obrigada a ceder 7 mil slots por ano na Portela à EasyJet deu lucro), prolongar o contrato de exploração da ANA pela Vinci (uma empresa que nunca tinha gerido um aeroporto antes de Lisboa e que já fez lucros enormes à nossa custa) e, enfim, “privatizar” a TAP (leia-se: entregar a TAP à Ibéria) reduzindo ainda mais a autonomia nacional relativamente a Madrid, tornando Portugal cada vez mais numa espécie de “província” espanhola, coisa que historicamente nunca foi, esperando que os castelhanos zelem pelo interesse nacional português (já que, em Lisboa, ao executivo só interessam os subsídios vindos de Bruxelas).
Que fique claro: se o PS entregar a TAP à Ibéria, como tudo indica que fará, o “Hub” de Lisboa nunca sairá do papel, não obstante o esforço bem-sucedido desde 2012 no setor do turismo português. A prioridade estratégica da companhia aérea deixará de ser Lisboa para passar a ser Madrid. É de esperar que, de uma maneira ou de outra, não aumentem os voos para a nossa capital, pondo em risco tantos investimentos lusos que continuam a ser feitos naquele setor.