O progresso tecnológico permitirá à humanidade um crescente bem-estar e prosperidade? Ou, pelo contrário, a sua contribuição para a solução dos grandes problemas com que o mundo se defronta será limitada? O que nos ensina a história da tecnologia? É preferível sermos tecno-otimistas ou tecno-pessimistas?

A experiência com os semicondutores é um dos pilares da visão tecno-otimista. A lei de Moore traduz a observação de que o número de transistors contidos num chip duplica aproximadamente todos os dois anos, o que correspondente a uma taxa de crescimento exponencial de 35% ao ano. Nas telecomunicações, o crescimento da velocidade e da capacidade de transmissão de dados permitido pela fibra ótica tem sido, também, exponencial. A progressão permitida pelos semicondutores e pela fibra ótica foi uma das forças motrizes do crescimento económico nas últimas décadas. Grandes progressos foram realizados em muitos outros domínios: a investigação em novas variedades de sementes fez com que rendimento das plantações de milho, soja, algodão e trigo tenha duplicado nos últimos 50 anos; o desenvolvimento de novas moléculas terapêuticas para tratamento de doenças de larga incidência populacional foi um factor determinante do aumento da esperança de vida à nascença de 1,8 anos por década (dados para os EUA). A história da tecnologia revela uma sucessão de descontinuidades que deram origem a grandes “saltos para a frente”: máquina a vapor, electricidade, motor de combustão, semicondutores, edição genética. O domínio da fusão nuclear e dos computadores quânticos e a sua eventual exploração comercial parecem estar sedutoramente próximos.

Tudo isto é verdade. Todavia, segundo os tecno-pessimistas, a questão do progresso tecnológico – e a explicação para os factos acima descritos – pode e deve ser encarada de um outro ponto de vista. Para ocorrer progresso tecnológico são necessários investigadores. O conceito de produtividade aplicado à ciência e à tecnologia indica-nos o número de investigadores necessários para gerar uma nova ideia; concretamente, uma ideia que acrescente à fronteira do conhecimento e tenha aplicação prática. Num artigo recente com o título sugestivo “São as boas ideias cada vez mais difíceis de ter?”, quatro economistas documentam resultados surpreendentemente decepcionantes sobre a produtividade da investigação: No caso dos semicondutores, o número de investigadores actualmente necessários para duplicar o número de transistors contidos num chip é 18 vezes maior do que era no inicio dos anos 70 do século passado; dito de outra forma, a produtividade da investigação em semicondutores tem decaído 6,8% ao ano. Os autores reportam igualmente decréscimos elevados na produtividade da investigação nos domínios agronómico (rendimento de plantações ou crop yields) e médico (mortalidade por cancro ou doenças coronárias). Para a economia norte-americana como um todo, o decréscimo da produtividade da investigação é de 5% ao ano.

O que este estudo diz é que os recursos investidos em investigação cresceram muito mais rapidamente do que os resultados práticos dessa mesma investigação. Cada vez gastamos mais para resultados cada vez mais magros. Ora, este processo não é sustentável no longo-prazo: no limite, todos os habitantes do planeta serão investigadores e o processo ficará sem mais combustível para alimentar a geração de novas ideias.

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