Estava a assistir a uma aula de Geopolítica do Professor Heni Ozi Cukier, quando se aborda o tema do progressismo VS conservadorismo nas sociedades ocidentais. O tema é interessante, pois a História da Humanidade tem vindo a evoluir a partir da relação de forças entre o progressismo e o conservadorismo.

O progressismo traz ideias novas à sociedade, procura alterações sociais, filosóficas e económicas que podem ou não ser aceites pela mesma, bem como, podem ou não trazer evolução positiva à referida sociedade. O conservadorismo, por sua vez, procura manter as instituições sociais tradicionais, conservando o que consideram bom, acreditando que através do processo de adaptação a sociedade melhora social e economicamente. Desconfiando do desconhecido, o conservadorismo acaba por ser antirrevolucionário durante a História.

As sociedades ocidentais, quer na esfera social como na económica e política, têm vindo a evoluir beneficiando desta dicotomia de forças, por exemplo:

  •  Determinada sociedade está com dificuldades agrícolas que geram alguma fome na população, há liquidez vinda de fora e conhecimento técnico e científico adquirido a outros povos e aprofundado em escolas. O impulso de mudança está presente e essa sociedade expande-se, como na Expansão Portuguesa, mas não deixando de querer replicar nos mesmos termos a sociedade original da metrópole ou capital do império nas terras colonizadas ou conquistadas. Na primeira fase temos um impulso progressista, na segunda fase um impulso conservador;
  • Um império abre-se ao comércio e tecnologias ocidentais, como o Japão de meados do Séc. XIX, mas apesar da abertura mantém as mesmas estruturas sociais tradicionais. Na primeira fase temos um impulso progressista, na segunda um impulso conservador;
  •  Os movimentos sociais contra o apartheid ou pelo voto feminino do Sec. XX são Progressistas;
  •  A manutenção das democracias da Europa ocidental e Américas como democracias laicas, constitucionais, capitalistas e liberais é conservadora.

Se por um lado o progressismo força a mudança, o conservadorismo procura assegurar que essa mudança não é para pior.

Porém, durante o Séc. XXI este eterno equilíbrio tem vindo a mudar. Isto tem acontecido devido ao extremar de posições políticas mais radicais. Hoje, o progressismo, nomeadamente através do wokismo, é muitas vezes utilizado para dissimular e esconder uma das piores formas de conservadorismo que é o comunismo. Usam-se alegados opressores e oprimidos novos, para substituir os antigos, mas num raciocínio igual ao anterior que é a luta de classes. Este pseudo-progressismo até tem os tiques das sociedades mais conservadoras que já existiram, como o pensamento único, o politicamente correto advindo de moral similar à religiosa e a censura do diferente ou do novo relativamente ao por eles estabelecido. Este progressismo atual, até tenta impor à força palavras e formas de escrever e falar contra a vontade da maioria, invocando, claro, o bem comum ou a Ciência em situações controvertidas precisamente do ponto de vista científico. Tenta defender como boas outras sociedades profundamente conservadoras, não democráticas e seus métodos, desconsiderando a liberdade, a propriedade e o sistema aberto e Liberal das nossas sociedades em favor dessas outras. Tudo isto apenas para fazer frente ao Status Quo. O progressismo atualmente parece procurar regredir.

Por outro lado, o conservadorismo já não pretende apenas conservar as instituições tradicionais trazendo estabilidade para a sociedade evoluir através da adaptação. O conservadorismo, em vez de tentar proteger e conservar aquilo que faz as sociedades ocidentais serem livres e com sucesso económico, como os Direitos Liberdades e Garantias das Constituições, o capitalismo, a abertura de comércio e de deslocação, a democracia e a liberdade religiosa, tornou-se algo que nunca se tinha tornado antes. O conservadorismo tornou-se profundamente revolucionário. O conservadorismo nunca foi revolucionário e agora é, defendendo nalguns casos voltarmos a posturas filosóficas anteriores ao Iluminismo. Assim, o conservadorismo defende, por vezes, protecionismo comercial e redução da liberdade de circulação. Defende revolucionariamente a moral religiosa retrógrada e, nalguns casos, até mostra simpatia por ditadores que fingem proteger valores tradicionais, como o Putin. O conservadorismo tornou-se, assim, revolucionário pela primeira vez na História e por isso o conservadorismo parece procurar, também, regredir.

Para concluir, infelizmente verificamos que as duas forças que sempre nos influenciaram estão radicalizadas e com pendor regressivo, o que é assustador para quem procura equilíbrio, liberdade, democracia e sucesso económico nas nossas sociedades ocidentais. Esperemos que no futuro regresse a moderação destas forças e possamos usá-las novamente para evoluir como sempre o fizemos.

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