Ouço e leio, de pessoas próximas, que a próxima legislatura não durará muito tempo, quiçá mais breve que a ora terminada. Tendo a anuir e explico a ratio.
Lembremo-nos que em 2022 as sondagens davam Rio como sucessor de Costa e a verdade é que Costa venceu por maioria absoluta. Ou seja, usemos o chavão de que as sondagens valem o que valem. Sem embargar, elas são o único instrumento disponível para aferir das intenções de voto e serão o seu teor a materializar as linhas deste artigo.
De acordo com a pretérita sondagem realizada por ISCTE/ICS para a SIC / Expresso), datada de 1 de fevereiro, o PS continua à frente, com 29% das intenções de voto, seguido do PSD com 27%. O Partido Chega almeja os 21%. Para trás, ficam o BE e a IL, com 5% cada, depois a CDU, com 3% e, por fim, o PAN e o LIVRE com valor meramente residual de 1%.
Ora, sendo eu de letras, com elevada clareza verifico que a aritmética não engana, apesar dos pesares, i.e., valendo as sondagens aquilo que valerem. Com base nelas – e sem elas seria igualmente fácil de percecionar – nenhum partido terá uma maioria absoluta. Ainda assim, confesso, fico pasmo e siderado como o PS, atentas as embrulhadas ocorridas num passado não longínquo, lidera as intenções de voto dos portugueses sem António Costa. Note-se que Pedro Nuno não é António Costa, nem de perto, nem de longe, e ainda não o sendo, lidera.
Paralelamente e no campo oposto, estou convicto que a AD só serviu o CDS levando-o ao hemiciclo e, outrossim, ao contrário de 1979, para combater a direita, nomeadamente o Chega. Mas, azar dos Távoras, o Chega disparou nesta sondagem para os 21% das intenções de voto.
Aqui chegados, apliquemos a aritmética. Com base nesta sondagem, o PS teria de realizar a geringonça 2.0 para ter uma maioria parlamentar. E poderá tê-la. Reparem os caros leitores que se se juntar ao Bloco e CDU, terão 37%. Bem diferente é a vida do PSD o qual, na melhor das hipóteses, em conjunto com os liberais, obteria 32%.
Permitam a abertura de um brevíssimo parêntesis. A Iniciativa Liberal tem sido (mal) conotada com a direita. E escrevo mal, porquanto os liberais são isso mesmo, liberais; não são de esquerda ou direita, tendo propósitos políticos próprios bem como de esquerda e direita. E nem sequer, entenda-se, são híbridos. São, somente, liberais. Encerro o parêntesis.
Bem se vê que a esquerda, desta forma, teria uma maioria parlamentar, sustentada muito provavelmente com novo acordo de incidência parlamentar. E escrevo provavelmente uma vez que Pedro Nuno não é António Costa e não ficaria propriamente espantado se bloquistas e comunistas integrassem um governo de esquerda. Todavia, por ora, avanço com um acordo meramente parlamentar.
Falta-nos, então, o Chega.
O maior erro político de Luís Montenegro foi traçar uma linha vermelha a André Ventura. E apesar das variadas insistências, entre elas algumas internas, Montenegro e a sua direção (e agora o CDS) dizem um redondo não a qualquer aliança com o Chega. Desta forma mal calculada, descuidada e pouco pensada, o PSD de Luís Montenegro claudicou ab initio um governo (este sim) de direita. Lateralmente, Ventura nunca quis acordos parlamentares que não implicassem a inclusão de ministros num futuro governo. Em função disso, em função destas posições previamente assumidas, jamais um acordo semelhante à geringonça original será verossímil.
Ora, Montenegro – estou seguro – não irá voltar com a palavra atrás, uma vez que esse flick flack à retaguarda constituiria a sua morte política; do outro lado, o Chega não prestará qualquer frete ao PSD sem que sejam atendidas as suas (bem legítimas, atentos os 21% que lhe são atribuídos) pretensões, valendo-se do seu peso político atual.
Ainda. André Ventura não tem razões algumas para auxiliar um PSD ou uma AD que lhe barrou(aram) a porta, o diálogo, a convergência, a aliança, e, pior, quando de forma expressa e vincada lhe traçaram uma linha vermelha. Assim, se o Chega não importa a Montenegro, por que razão Ventura lhe faria favores ou fretes no futuro?
E aqui, pouca razão têm os sociais-democratas que, atenta a configuração política ministrada pelo seu próprio líder, criticam antecipadamente André Ventura por não o auxiliar no futuro. Então, é legítimo, reitero, questionar: em razão de quê? Em função de quê? Quem ditou o status quo foi Luís Montenegro e ninguém mais.
Aqui chegados parece, pois, razoável entender o título deste artigo. Não estão nem estarão, à partida, criadas condições de governabilidade. Governar em minoria não é a mesma coisa que fazê-lo em maioria. E ainda que a geringonça 2.0 seja uma realidade, ela não é garante de absolutamente nada, porquanto o partido charneira, em rigor, será o Chega, o qual assume, desta forma, uma posição central (não ao centro) no sistema político português.
A XVI legislatura, a qual não começou, parece ter os dias contados.