“Terceira vitória sobre a AD”, “E vão três. Depois do IRS e das portagens, o PS conseguiu nesta quarta-feira aprovar, contra vontade do Governo, o aumento faseado da dedução das despesas com a habitação em sede de IRS até 2028, uma das suas principais promessas eleitorais” (Público online, 08.05.2024). Pois é, os jornais já fazem a contagem. E não é para menos. (Juntando o caso da eleição do PAR, a soma até está em 3,5.)
Há que reconhecer. Depois de 8 anos à frente do Governo, o PS continua — ao dia de hoje, mesmo na oposição — a determinar a vida política portuguesa. Em 2015, embora tenha ficado em segundo lugar nas eleições, António Costa conseguiu chegar ao poder (de forma inédita, mas constitucional), cumprindo o mandato até ao fim. Em 2019, venceu com minoria e aguentou-se dois anos para, em 2022, conquistar nada mais nada menos do que uma maioria absoluta, que terminou por uma situação inesperada. Agora, em 2024, o PS perdeu e não teve hipótese de repetir a geringonça, mas, ainda assim, continua a fazer valer as suas propostas em detrimento das do Governo e das bancadas do PSD/CDS.
Pedro Nuno Santos tem razão quando diz que o seu partido “não está no Parlamento para ser espectador”. De resto, não é isso que se espera de nenhum grupo parlamentar. Quanto ao primeiro-ministro, é natural que se sinta desagradado. Luís Montenegro e as figuras da AD procuram evidenciar a existência de uma coligação negativa entre PS e Chega, que, na prática, quer governar e não deixa o verdadeiro Executivo fazê-lo.
Neste contexto, quem ganha o jogo das perceções? Não é que a realidade não importe, mas, na dinâmica política, o que é determinante são as representações que passam sobre as coisas. E, para o bem ou para o mal, com a AD no poder, o que salta à vista é que o PS tem sido, em grande medida, o agente definidor da forma como a realidade se desenrola. Ora, este partido tem sido o elemento-chave das perceções — quer dos que o apreciam (vendo-o como motor de ação), quer dos que o repudiam (interpretando-o como empecilho do Governo).
A alguns, o PS passa a imagem de que, mesmo não tendo assumido funções governativas, não desiste de trabalhar em prol das pessoas, prosseguindo, noutra posição, uma jornada de governação que consideraram positiva. Por outro lado, a outros, esta força política está a parecer mais ativa e empenhada em trabalhar do que quando detinha o poder executivo e boas condições parlamentares. Esta consideração normalmente associa-se à acusação de hipocrisia, por não ter resolvido os problemas do país enquanto estava no poleiro.
Posto isto, há um ponto essencial. Se, durante os anos de Costa no poder, o PSD não tinha ou dificilmente tinha algum nível de protagonismo, o mesmo não se pode dizer do PS agora que o Governo é do PSD. Isto, obviamente, é fruto de circunstâncias de governabilidade distintas: Montenegro é primeiro-ministro num quadro parlamentar mais difícil.
Quer se queira, quer não, as eleições europeias funcionarão como barómetro da política nacional. Veremos quem sairá reforçado e quem sairá enfraquecido.