As eleições em França tiveram três histórias. A primeira foi a vitória da direita nacionalista do partido de Marine Le Pen. Foi a história da primeira volta. A segunda história foi a vitória da frente de esquerda na segunda volta. Uniram-se todos contra Le Pen e, com a ajuda das regras do sistema eleitoral francês, o RN perdeu.

A terceira história está a começar agora. Será a história da fragmentação da frente de esquerda e da vitória final da coligação centrista de Macron. Será muito difícil a frente de esquerda continuar unida no parlamento. Como acontece frequentemente em França, as coligações eleitorais não acabam no mesmo grupo parlamentar. Na frente de esquerda, muita coisa divide os socialistas da França Insubmissa. Além disso, o partido socialista francês está a recuperar de um longo período de coma político. O seu interesse será voltar a ser um grupo parlamentar autónomo para continuar a crescer. Aliás foi revelador que na noite das eleições e nos dias seguintes Melenchon exigiu a Macron a constituição do governo, mas os socialistas não o acompanharam. Há aqui um dilema que provavelmente não tem solução. Os socialistas sabem que não podem estar num governo com um PM da França Insubmissa (mesmo que não seja Melenchon). A França Insubmissa não aceitará fazer parte de um governo liderado por um socialista (mesmo que seja Hollande).

A fragmentação da frente de esquerda deixa o caminho aberto a Macron. O Presidente francês está a ganhar tempo. Manteve Attal como PM e vai esperar pela divisão da frente de esquerda. Em Agosto, mesmo quando está tudo assustado com o futuro da democracia, os franceses vão de férias e esquecem a crise política. Mas Macron vai continuar a trabalhar. E olhando para os resultados eleitorais, Macron sabe algumas coisas.

Em primeiro lugar, sabe que o seu partido, Renaissance, tem mais deputados do que a França Insubmissa. Em número de deputados, é o segundo partido, atrás do RN. Também sabe que a sua coligação, Ensemble (de 4 partidos), continuará unida no parlamento. Muito provavelmente, será a maior bancada parlamentar; e seguramente, se a frente de esquerda se fragmentar em várias bancadas parlamentares.

Nesse caso, Macron tem legitimidade para formar um governo de iniciativa presidencial, com Attal ou com outro PM. Não tendo maioria parlamentar, talvez tenha que sacrificar um ou dois candidatos a PM em votos de rejeição no parlamento, mas acabará por nomear um governo de gestão que durará pelo menos um ano. Talvez seja mesmo o melhor para França. Um governo de gestão sem poder para fazer grandes asneiras, sobretudo para não aumentar ainda mais a dívida pública, e que dê liberdade aos franceses para tratarem da sua vida.

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