Em face do que aconteceu em Lisboa, é de esperar que os dirigentes do PSD, do CDS/PP e do PPM se apressem a acordar no relançamento da sigla comum mais forte da direita social portuguesa, a AD.
Com efeito, para que chegue vitoriosa às legislativas, a dinâmica iniciada com a mudança de maioria parlamentar nos Açores e consolidada nas presidenciais e nas autárquicas requer instantemente aquele passo.
A apresentação da AD às legislativas deve assentar num elenco de reformas que deixem entrever a divisão do trabalho no almejado futuro governo, muito bem alicerçada na identidade histórica de cada um dos três partidos que a compõem.
Ao PSD cabendo assim naturalmente a responsabilidade de libertar a capacidade de criação de riqueza paralisada há 20 anos por impostos e regulamentos excessivos e de aumentar a capacidade de escolha das famílias na Educação e na Saúde.
Ao CDS/PP cabendo a responsabilidade de assegurar a sustentabilidade do sistema nacional de reformas através da criação dum segundo pilar obrigatório, de capitalização individual, e de, seguindo as pisadas do Presidente da República, concentrar o esforço coletivo de solidariedade social nos que foram descartados nos lares, nas ruas, nos bairros de barracas, nas aldeias remotas, nos hospícios e nas prisões.
E ao PPM cabendo a responsabilidade de resgatar o que resta do legado de Gonçalo Ribeiro Teles, através da restauração integral e da institucionalização das reservas agrícola e ecológica nacionais, dotando-as de serviços próprios e de órgãos reguladores independentes, e de avaliar com rigor a viabilidade da regionalização baseada nas bacias hidrográficas que ele preconizava.
Seriam reformas ao mesmo tempo enraizadas na história política da direita social nos últimos 45 anos mas que também iriam ao encontro das prioridades da atual presidente da Comissão Europeia e, por conseguinte, seriam bem recebidas em Bruxelas.
É claro que este caminho de reformas estruturais é impraticável sem um investimento deliberado e consistente ao longo dos próximos dois anos na sua discussão com os empresários, os sindicatos, as associações e fundações e as universidades.
Mas também não é menos claro que, sem propostas de reformas estruturais, a metade do eleitorado que não se revê nas políticas indiferenciadas que subscrevem há décadas todos os partidos do chamado arco de governação continuará a não votar e as maiorias parlamentares, mesmo absolutas, terão cada vez menos credibilidade.
Os políticos mais livres, aqueles que, em vez de basearem a sua ação no que leem nas sondagens, na opinião dos iluminados e na vontade de agradar a gregos e troianos, ousarem propor aos eleitores soluções genuínas para os problemas que afligem as suas vidas, por mais duras que essas soluções pareçam e sejam, são os que acabarão por merecer a confiança da maioria.