Caro Prof. MRS, lamento profundamente este ato. Eu que conheci o seu saudoso pai, não o revejo em si.
Como portuguesa, envergonho-me das condecorações atribuídas; o Grande Colar da Ordem de Camões a Lula da Silva (Ordem Nacional) e a Grande Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, a Janja.
Recordo que ambas se destinam a distinguir quem tiver prestado serviços relevantes à língua portuguesa e a Portugal, como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores.
A Grande Cruz, é concedida pelo Presidente da República a antigos Chefes de Estado e a pessoas cujos feitos, de natureza extraordinária e especial relevância para Portugal, os tornem merecedores dessa distinção.
Lamento, portanto, que haja condecorações por osmose ou partilha de leito.
Dando como exemplo o meu caso, Sr. Presidente. Sou médica há 34 anos e há 34 anos que sirvo, sirvo o SNS, que tanto me orgulha, de corpo e alma.
Sirvo o SNS porque sei como foi idealizado e tornado realidade, pela boca do saudoso Dr. António Arnaud. Esse mesmo SNS que tanto tentam destruir, mas único no mundo e um bem a preservar para o nosso povo.
Pelo SNS tenho lutado e irei lutar até que o meu corpo arrefeça porque acredito e vivo na esperança.
Esperança que o senhor tenta destruir ao destruir a credibilidade das instituições publicas, ao condecorar por partilha de leito.
Ao condecorar quem foi acusado e preso no seu país e quem está do lado do agressor nesta guerra indigna que assola a Europa.
Dei o corpo às balas durante a pandemia, eu e tantos outros, não faltei um dia ao meu posto de trabalho e nunca me escondi atrás de um telefone ou computador para exercer a minha profissão. Voluntariei-me para a área covid sendo ortopedista, e porque outros não o fizeram, sendo não vacinada, sem medo, pelos doentes e porque era a minha obrigação, como médica e como líder de equipas.
Sou diretora de um serviço de urgência onde luto diariamente com falta de recursos humanos e, sobretudo, com falta de solidariedade de um presidente que apenas condecora quem decora.
Sou uma mulher de direita, porque acredito nos valores da Democracia Cristã e luto para que os valores fundacionais do meu partido, que afinal são os valores fundacionais do nosso país, resistam à traição e à delapidação.
Criei sozinha quatro filhos, fui mãe, pai, avó, tio, passarinho e gato, lutei pela única coisa em que sempre acreditei, a honestidade e o trabalho.
O que o Sr. Presidente fez insultou-me, a mim e ao povo português que diariamente luta para pagar impostos que o senhor e quem governa esbanja em comemorações decrepitas e aviltantes para Portugal.