Todos reconhecemos a importância de uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes; todos queremos comer bem; e todos queremos encontrar a quantidade e qualidade necessária de alimentos para nos mantermos saudáveis e, porque não dizê-lo, felizes. Sempre. Três verdades indiscutíveis sob uma dúvida que insistente: como conseguiremos assegurar sistemas alimentares sólidos mas ao mesmo tempo sustentáveis e que promovam modelos de produção responsáveis?
Na data em que se assinala o Dia Mundial da Alimentação, falar de alimentos e de alimentação segura, eficiente e suficiente para todos tem que continuar a ser sinónimo de dialogar sobre formas de produção, ferramentas de apoio ao sector agrícola e incentivos económicos a diferentes formas de exploração. Em pleno século XXI, e segundo dados da ONU, mais de 820 milhões de pessoas não têm alimentos suficientes e continuamos a viver perante um cenário de emergência climática que ameaça a segurança alimentar. Por isso é urgente celebrar a data olhando para a forma como produzimos e consumimos, para o papel fundamental de governos, organizações e outros stakeholders, para a forma como ajudamos o sector a cumprir metas, como unimos esforços, no fundo, como colocamos todas as vertentes a trabalhar em prol do cumprimento daqueles que são os objectivos de desenvolvimento sustentável.
No mais recente webinar organizado pela ANIPLA, em parceria com a CAP, dedicado ao impacto das alterações climáticas na segurança alimentar, a mensagem para reflexão global foi clara: a sustentabilidade associada à produção de alimentos só pode ser garantida quando pensada nos seus três níveis (económico, social e ambiental). É tempo de deixar de lado heróis e vilões, focando-nos num trabalho sinérgico que garanta alimentos com um preço justo, seguros e suficientes para todos, garantindo a protecção do ambiente. As alterações climáticas não são ficção, são realidade e, no mundo real, não há heróis nem vilões.
A agricultura tem sido, há já vários anos, o alvo fácil da crítica, assumindo-se a vertente ambiental como a única que importa quando falamos de sustentabilidade. Mas quão redutor pode ser quando pensamos que a agricultura, além de uma actividade essencial à sobrevivência, contribui ainda de forma significativa para a retenção de CO2 nos solos e na biomassa? E quando esta é a primeira a potenciar a recuperação da biodiversidade, regeneração dos solos e um uso mais eficiente da água?
Quão limitador poderá ser atribuir ao sector agrícola toda a responsabilidade quando os alimentos que comemos hoje são muito mais seguros do que eram há 20 e 30 anos, demonstrando uma clara evolução dos sistemas de controlo e de investigação em prol de uma agricultura segura? E o que dizer dos próprios agricultores, que constantemente investem na sua formação, procurando novas e diferenciadoras soluções de combate a inimigos das culturas que surgem todos os dias?
A sustentabilidade enche facilmente as principais preocupações de todos, mas esvazia-se se a pensarmos considerando apenas uma componente. Analisando as alterações globais de todo o nosso ecossistema, a sustentabilidade é sem dúvida o desafio ao centro, que se impõe no presente e futuro de uma alimentação segura. Contudo, o caminho não se fará isolando vertentes. Falar de sustentabilidade é falar de um preço justo para os alimentos, é falar de um reforço do papel da ciência e investigação em prol do trabalho diário dos agricultores no combate a pragas, doenças e infestantes, é falar de compreensão quanto às particularidades climáticas de cada região, estabelecendo metas realistas, é falar de apoios financeiros que permitam cumprir metas. É falar de incentivos e estímulos para continuar a investir no fazer bem e cada vez melhor.
No dia em que celebra a importância da alimentação e o impacto de decisões económicas, ambientais e sociais, no acesso do ser humano àquele que é um direito fundamental – o da alimentação – há uma consciência que tem que imperar quando falamos de sustentabilidade: o enorme investimento da indústria em investigação e desenvolvimento de novas soluções, nas quais o digital ocupa um lugar de destaque, o trabalho contínuo na formação de operadores económicos, nomeadamente dos produtores agrícolas na adopção de práticas mais sustentáveis só fará sentido e dará frutos quando combinado com políticas, metas e ferramentas que façam parte de um trabalho integrado com vista ao cumprimento de uma missão que é de todos.
Porque nesta história não há heróis nem vilões, somos todos protagonistas da produção alimentar!