Todos reconhecemos a importância de uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes que contribuem para um estilo de vida saudável. Este é, aliás, um tópico que ninguém se atreve a questionar: todos queremos comer bem, de forma rica, diversificada e acessível a todos os níveis. Mas será que em 2050 será assim? Todos estamos atentos aos temas que movem multidões e dividem opiniões: redução do consumo de carne, sim ou não? Alimentos biológicos, mito ou verdade? Agricultura intensiva, benéfico ou prejudicial? Mas tornemos a pergunta mais simples para todos: frutas e legumes capazes de satisfazer as necessidades de um aumento populacional crescente, possível ou impossível? Será que em 2050 nos alimentaremos da forma como hoje conhecemos o nosso prato? A nossa cesta de frutas? A nossa gaveta de legumes? Estará o cidadão consciente de que a pera rocha, o tomate ou o azeite, como os conhecemos, podem ter a sua produção comprometida em 2050?

No último estudo à população portuguesa, realizado pela Universidade Católica, em colaboração com a ANIPLA, 93% dos inquiridos admite não saber que a produção alimentar terá de aumentar em 60% para responder às necessidades decorrentes do aumento populacional. Se isoladamente este número já parece assustador, acrescente-se o facto de que 85% reconhece que há necessidade de proteger as plantas com recurso às mais avançadas técnicas, mas 82% não sabe que 40% das culturas agrícolas mundiais são perdidas devido a pragas e doenças. A população sabe que hoje poderá abastecer-se em qualquer superfície sem limitações, mas desconhece que dentro de 30 anos, a pera, o tomate ou o azeite, como e na quantidade que os conhece, poderão não existir.

A dicotomia forçada que, há vários anos, se tem instalado entre as chamadas agriculturas “biológica” e “convencional” levam o consumidor a acreditar que existe uma agricultura da “Primeira Liga” e outra da “Liga de Honra”, ou ainda, uma agricultura boa e uma menos boa quando na verdade, esta está longe de ser uma afirmação justa. Mas mais do que isso: afasta a população das reais preocupações que todos devemos ter quando falamos de produção alimentar.

Estará a população devidamente informada sobre métodos de produção? E sobre os riscos que a desinformação e a propagação de mitos representam no acesso de todos, aos alimentos? Se por um lado sabemos que a quantidade de terra arável disponível não vai crescer (nem é desejável que cresça, pesando na destruição de florestas); por outro, e dada a pressão demográfica, esta quantidade terá natural tendência para se reduzir. Este facto torna evidente a necessidade de se produzir mais e melhor, com menos. E é aqui que reside a necessidade de informar, destacando o papel fundamental das ferramentas e tecnologias que a ciência nos proporciona. Para cumprir a sua missão, a agricultura tem de ser capaz de integrar todos os meios ao seu alcance e não aceitar uns e rejeitar outros. Terá de ser inclusiva e não exclusiva.

A luta real pela protecção das culturas contra infestantes, pragas e doenças é, provavelmente, o tema mais controverso, mas também aquele que parece menos esclarecido e que mais conduz à profunda desinformação de uma população que não pára de aumentar. De uma população que jamais abandonará o seu vinho, sem saber que a sua produção pode ver-se reduzida em 46% em 2050. Uma população que nunca abandonará o cheirinho “a casa” do seu arroz de tomate, sem saber que a produção deste alimento está comprometida em 82% até 2050.

É urgente, e sobretudo no dia em que se celebra o Dia Mundial da Alimentação, relembrar que a agricultura que produz alimentos frescos e transformados é a mesma que nos dá energia e até a que produz medicamentos essenciais à nossa saúde. É a mesma que, dentro de 30 anos precisa de continuar a produzir o suficiente para alimentar mais 2,3 mil milhões de pessoas. É urgente, em 2019, pensar 2050 e agir agora.

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