Falando de Educação e analisando o último trimestre do ano, poderei afirmar que vivemos um período em que se começa a notar algum despertar da consciência dos professores. Desde o dia 9 de dezembro que decorre uma greve nacional por tempo indeterminado, convocada pelo sindicato de todos os profissionais de educação, S.TO.P..

Em consequência, nos últimos dias, por todo o país, houve escolas que fecharam, professores que se manifestaram e pais que se solidarizaram com a legítima luta.

O que está em causa é demasiado grave, como pude escrever aqui, aqui e aqui, para que continuemos na apatia, amarrados a um sindicalismo bacoco, muito mais interessado em manter-se à tona, nem que para isso afunde os demais, do que defender a nossa causa, corajosamente. Felizmente, são cada vez mais aqueles que compreendem a gravidade da situação e publicamente demonstram o seu apoio aos professores.

No passado dia 13 de dezembro de 2022, foi com enorme agrado que li o texto da Professora Raquel Varela, na sua página de Facebook. Um texto cuja leitura aconselho a qualquer cidadão, tenha ou não filhos a estudar, seja no público, seja no privado. O que se quer fazer à Educação afetará todo o país.

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A forma clarividente com que a Professora Raquel Varela aborda a municipalização da Educação, caso o ministro avance com as suas intenções encapotadas, é de louvar.

Começar por fazer a identificação de Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato (só ficando a faltar Tiago Brandão Rodrigues/ João Costa), como os autores das piores reformas da Educação, deixando-a em péssimas condições, é algo reconhecido e apoiado por todos nós. Na verdade, com essas reformas, deixou de haver “progressão na carreira e isso acabou com a carreira – os professores de facto ficam toda a vida a ganhar o mesmo (1200 ou 1400 euros, hoje um salário mínimo em Lisboa ou Porto)”. Isto consegue-se porque “através da avaliação individual de desempenho com quotas apenas um ou dois – e de acordo com a pontuação da escola (o que inflaciona as notas, obrigando-os a mentir nas avaliações, segundo os testemunhos que recolhemos) – progredirem. Pode haver 20 excelentes, mas só um pode passar.”

Imagine como se sentiria, se aplicassem este sistema de avaliação a um seu filho, numa qualquer escola do país. As notas seriam atribuídas por quotas e só alguns transitavam de ano devido a estas. Acharia injusto? Claro que sim. Mas, como refere Raquel Varela, “o ministro e o governo não”.

A falta de autonomia dos diretores, assim como a falta de democraticidade na sua eleição, são apontadas como outras possíveis causas. No entanto, o que mais me surpreende no referido texto é que a professora Raquel Varela assumiu que o maior problema, em jeito de machadada final, poderá ser a possibilidade de as escolas serem municipalizadas, deixando de haver, e cito, “um concurso onde são colocados pelas notas e passam a ser escolhidos, por um grupo de “notáveis” – sabe-se o futuro, a passar esta lei, os municípios mais ricos vão escolher e pagar mais a alguns professores, os outros vão sendo colocados em escolas piores, no fundo aquilo que já se fazia com as turmas – A para os melhores até ao J – para os desgraçados – passar a ser o modelo nacional. A isto vai-se juntar o apadrinhamento político, a perseguição, os favores, o assédio, como vão estes professores, na mão de empresários/municípios, que decidem os seus destinos, fazer greve ou contestar seja o que for?”

Refere ainda que o que está em causa nas escolas “não é mais um retrocesso social imposto aos professores. É a destruição completa do que resta da escola pública (…) os professores serão uma espécie de ubers da educação, levados de vila para vila, serão prestadores de serviços.”

A greve é importante para todos nós. Mesmo que possamos “recorrer as explicações ou colocá-los em escolas privadas muito boas” com o intuito de tentar “safar” os nossos filhos, explica Raquel Varela que isso não lhes resolve os problemas. Devemos fazer a pergunta: que país queremos para eles?

Segundo a autora, “a escola precisa de olhar os professores como intelectuais (sim, é uma profissão intelectual)” por mais que a tutela a tenha conseguido proletarizar.

Começamos a ser muitos a perceber as reais intenções do ministro, precisamos de mostrar que somos muitos a manifestar o nosso desagrado. Como? Manifestando-nos no próximo dia 17 de dezembro às 14h, no Marquês de Pombal, em Lisboa.

Soltem-se das amarras sindicais e partidárias, manifestem-se livremente, estejam do lado certo da história.