Há muito tempo que Miguel Sousa Tavares (MST) denigre sem conta, peso ou medida a região de Odemira e a agricultura que se faz naquela zona. Enquanto presidente da AHSA – Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Algezur, já troquei correspondência com MST, num primeiro momento tentando esclarecê-lo dos erros parciais e injustiças frequentes que comete com aquilo que escreve e, numa fase posterior, convencido de que a minha palavra para ele nada valia, propondo-lhe então que nos desse o benefício da dúvida e aceitasse o nosso convite para visitar a região.

Com alguma (agradável) surpresa obtive resposta – aparentemente pouco comum nestas situações e ouvi de MST a disponibilidade para nos visitar, desde que estivesse convencido da isenção e lisura da preparação da visita. Durante uns meses convenci-me, por ingenuidade, de que ele tinha refreado o seu ímpeto e decidido ser mais prudente nos ataques dirigidos à agricultura moderna que é feita no Sudoeste Alentejano. O artigo desta semana convenceu-me de que nada mudou e a promessa feita ficou por cumprir.

Tem o MST todo o direito em ter as suas opiniões quanto às escolhas económicas que o país e seus empresários fazem. Está no seu pleno direito de entender que o Sudoeste Alentejano ficaria mais bem entregue aos empresários do turismo rural e do turismo da natureza, ou à riqueza deixada no território pelos caçadores que pretendessem desfrutar do território sem limites e sem o empecilho da “desagradável” atividade agrícola.

Onde a razão e a ética lhe começam a faltar é quando acusa os empresários que operam naquele território da prática de escravatura ou quase escravatura. Generaliza ele aquilo que são problemas efetivos de falta de habitação que anos sucessivos de imobilismo não deixou construir, atribuindo a sua responsabilidade aos empresários e considerando que nada foi nem está a ser feito para corrigir essa carência.

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Não pretendo nem vou, num texto que forçosamente é limitado na sua extensão, tentar dizer aquilo que o MST não quer ouvir e muitos outros não se preocupam em saber. Não posso, no entanto, deixar de dar duas pinceladas da realidade que ele nega para, com isso, e no mínimo, despertar a sua curiosidade e a daqueles que leiam este texto, tentando trazer alguma luz sobre o que ali se faz.

Relativamente à luta contra as máfias e as ilegalidades na contratação, temo-nos empenhado, em conjunto com a delegação portuguesa da Organização Internacional das Migrações e o Governo português, em promover a contratação direta e legal a partir dos países de origem, já tendo tido lugar uma missão a Marrocos e aproximando-se em breve uma outra à Índia.

Relativamente ao alojamento digno dos trabalhadores, é bom lembrar que estão neste momento em curso ou à espera de aprovação investimentos na casa dos 15 milhões de euros para a construção de alojamentos de qualidade para trabalhadores temporários. É o setor privado da agricultura a esforçar-se por compensar aquilo que o Estado, o Município e a atividade imobiliária deveriam ter feito ao longo de anos e por várias razões não fizeram.

Relativamente à água, está a nossa associação ativa e empenhadamente tentando trazer para o abastecimento as soluções e os investimentos que evitem que o deserto que aquela região já foi e que o Perímetro de Rega fez deixar de ser seja revertido pelas alterações climáticas e a lentidão ou inatividade dos poderes públicos.

O abandono da agricultura moderna teria como consequência para o território não apenas a sua desertificação ambiental, mas também humana, enquanto espécies invasoras e infestantes tomariam conta do terreno, onde certamente alguma caça sobreviveria e da qual uma minoria de caçadores desfrutaria, simulando safaris na savana africana que os seus bolsos magros não permitem concretizar.

Muito mais haveria a dizer sobre uma região numa altura em que a autossustentabilidade dos países e a correção do desequilíbrio da nossa balança comercial estão tão em foco. O Perímetro de Rega do Mira contribui com cerca de 15% das exportações de frutas, legumes e flores do país, gerando uma riqueza cinco vezes superior àquela que o também tão necessário turismo consegue promover na região.

Ficarei, no entanto, por aqui porque prefiro deixar o que falta para mostrar na visita que o MST nos prometeu fazer, mas que, infelizmente, e até agora, preferiu substituir pela prosa de qualidade literária, mas de conteúdo muito discutível a que sempre nos habituou.