A RTP1 prestou no passado dia 15 de abril um péssimo serviço ao país através de uma edição inqualificável do programa Linha da Frente, apelidada de “A Invasão da Agricultura Insustentável”. Um serviço público de televisão pago por todos deve pautar-se não apenas pelo rigor e isenção, mas também pelo respeito pelo contraditório, deixando aos espectadores o trabalho de julgar a informação recebida dos diferentes quadrantes. Nenhum desses princípios básicos foi, infelizmente, respeitado.

Independentemente do que cada um possa pensar acerca dos méritos ou deméritos da agricultura moderna, aquilo a que assistimos foi o aproveitamento, em horário nobre por parte de um jornalista e de um canal público, da seleção de um conjunto de testemunhos alinhados no combate à agricultura dos tempos modernos. Aquela agricultura que nos tem permitido equilibrar a balança alimentar portuguesa, diminuindo a distância que separava a nossa agricultura de subsistência da produtividade e eficácia agrícola dos países mais desenvolvidos.

Haverá sempre saudosistas sonhadores que gostariam de ver o país manter as paisagens bucólicas do passado, infelizmente tantas vezes associadas à pobreza também bucólica das suas gentes. Haverá sempre quem negue o papel da Ciência e sonhe com um tempo em que a Medicina era baseada em produtos naturais. Haverá sempre negacionistas que acham que a natureza se deve encarregar de nos proteger e não serão necessárias vacinas.

Felizmente são uma minoria e é por isso que não é aceitável que o canal público de televisão dê a essa minoria o monopólio do espaço de antena. Centenas de empresários e milhares de agricultores fizeram (e continuam a fazer) um esforço hercúleo para recuperar o tempo perdido, numa época em que a agricultura era vista como o parente pobre da economia.

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Associaram-se em organizações de produtores para ganhar escala e eficiência; visitaram e estiveram presentes em feiras internacionais para aprender novas tecnologias e vender os seus produtos; investiram em sistemas de rega modernos para reduzir o consumo de água; viram desaparecer do mercado os fitofármacos que protegiam as suas culturas e que cada vez são mais limitados; tiveram de conseguir alcançar níveis de resíduos nos seus produtos muito abaixo dos valores legais, por isso lhes ser exigido pelos rigorosos clientes da grande distribuição nacional e internacional.

Respeitemos, pois, toda essa gente que num país pobre, com tão poucas zonas com alguma aptidão agrícola, cumpre, afinal, o seu dever de aproveitar esses hectares limitados em que temos condições para produzir competitivamente.

Feliz ou infelizmente, temos todo o resto do país – a grande maioria da sua superfície – onde a agricultura não consegue ter lugar e o turismo de natureza traz a riqueza que a terra não consegue produzir.