A discussão sobre os rankings é como as cerejas, tem um tempo. É agora. E como sempre, alinham-se os apoiantes e os críticos num ping-pong sem fim, cujo objetivo último parece ser inalcançável.
Convém ter presente que não se podem confundir rankings de universidades com rankings de escolas de outros níveis, estamos a falar de realidades diferentes, pelo que os primeiros estão excluídos desta abordagem.
A primeira coisa que convém ter presente é que os processos de aprendizagem são dificilmente mensuráveis apenas tomando como indicador uma classificação. Claro que os exames são ferramentas úteis, pelo menos do ponto de vista instrumental, são práticos e, aparentemente, justos. Mas quando comparamos alunos, pessoas com origens diferentes, que desde a conceção tiveram condições diferentes, alguns nos antípodas de outros, basta pensar em quem nasce na quinta da Marinha e em quem nasce no bairro Jamaica, para dar apenas dois exemplos, para se perceber que é impossível comparar com justiça.
Se, por hipótese, juntássemos numa só escola crianças de uma e outra origem, não seria difícil antecipar quais iriam obter melhores resultados, tanto mais que desde os anos sessenta do século passado que esta realidade é bem conhecida, o que explica quem fica no primeiro lugar dos rankings anuais e quem fica nos últimos lugares. Tudo previsível.
Dirão alguns que há exceções, claro, como em tudo, mas como “uma andorinha não faz a primavera” também um ou outro aluno ou situação não altera o determinismo social que marca, indelevelmente, as escolas e que faz delas um reprodutor das sociedades onde existem, apesar de também funcionarem como elevador social.
É entre estes dois polos que a realidade tem de ser vista, se a tónica for colocada nos rankings, é a dimensão reprodução que se evidencia, se a preocupação for levar ao máximo o desenvolvimento de cada aluno, então os rankings não podem ser considerados como indicadores fiáveis, pois estamos a fingir que comparamos grandezas, qualidades, capacidades, expectativas, competências iguais, o que é falacioso.
Há ainda uma outra dimensão que afeta a credibilidade dos rankings, os critérios de classificação de cada escola ou grupo de docentes, não sendo por acaso que todos os anos são feitas denúncias sobre a valorização excessiva de classificações aqui ou ali, habitualmente em escolas privadas.
Ao contrário do que muitos pensam, não são as escolas ou os docentes que são desonestos ou “mãos largas”, são os alunos que as frequentam que são oriundos de famílias económica e socialmente privilegiadas, com mais expectativas quanto ao desempenho dos seus filhos, com mais capacidade para investir no seu futuro, relativamente aos alunos que frequentam outras escolas onde a maioria são de famílias menos favorecidas.
A origem social e as expectativas positivas, o conceito de investimento na promoção dos filhos, são fatores quase inultrapassáveis quando comparamos com alunos oriundos de famílias para quem a escola é uma mera obrigação, que não acreditam nela como fator de progresso para a vida futura dos seus, que não possuem qualquer ideia da educação como investimento.
Não vale a pena endeusar os rankings, mas também não se justifica diabolizá-los, preenchem uma função, hierarquizar as escolas de acordo com resultados, não podem é ser considerados como indicadores de qualidade. Claro que, no limite, podem até ser considerados como elementos de discriminação negativa por identificarem diferenças entre escolas que não podem ser vistas apenas nesta dimensão, induzindo ideias falsas sobre a qualidade das mesmas.
O indicador mais fiável para medir a qualidade das aprendizagens realizadas numa escola é o índice de felicidade de estudantes, docentes e outros colaboradores, o sentido de comunidade e de pertença, as aprendizagens transformadoras, o crescimento de personalidades, a aquisição de competências, a formação de cidadãos. Mas aqui os atuais rankings mostram-se inúteis e outros são muito difíceis de operacionalizar.
De futuro, olhemos para os rankings como quem avalia a cor das cerejas e antecipa como podem ser saborosas, mas com o sentido prático de quem sabe que uma coisa é olhar, outra é prová-las e sentir a sua doçura e textura.