Nas últimas décadas o número de estudantes estrangeiros a estudar em Portugal tem crescido muitíssimo, sobretudo via Erasmus. É uma alternativa excelente, mas o país vai sofrer uma escassez de estudantes portugueses no futuro e não é este programa que a vai suprir. Portugal precisa de fazer do ensino superior uma área de negócio robusta e isto significa duas coisas, captar outros públicos nacionais e recrutar estudantes fora da União Europeia, sobretudo em países onde o crescimento da população e a capacidade económica das famílias permita investir em estudos no estrangeiro.

Não há dados fiáveis, apesar das múltiplas estatísticas e estudos publicados, até porque os números de estudantes estrangeiros em Portugal são tratados de forma muito diversa consoante interessa a quem os manipula, ou seja, não basta falar em estudantes estrangeiros, é preciso saber em que situação cá estão, que propinas pagam, se as pagam como portugueses (sim, há muitos estrangeiros a quem são os contribuintes portugueses que pagam as propinas) ou se são verdadeiramente clientes das instituições de ensino superior portuguesas, isto é, pagam as propinas que correspondem efetivamente ao custo comercial dos cursos que frequentam, seja em instituições estatais ou privadas.

Como também não há contas validadas, podemos arriscar um cálculo e estimar que um estudante estrangeiro, num curso de mestrado com propinas dentro da média, por exemplo, despenda por ano cerca de 15000€. Se multiplicarmos por muitos dá uma conta simpática de que beneficiam as IES, os alojamentos, os supermercados, os cafés, os restaurantes, os transportes, e muitas outras atividades económicas.

Excluindo os que consideram “exploração” o negócio do ensino e os que vivendo exclusivamente do erário público pouco se importam se têm muitos ou poucos estudantes porque o orçamento do Estado tudo suportará, a possibilidade de explorar este filão só pode ser tentadora e colocar-nos a par dos países que há muito fazem da educação superior um negócio de sucesso.

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Embora seja sabido, nunca é demais tentar convencer algumas mentes mais céticas de que Portugal tem, atualmente, muitas vantagens competitivas neste setor; o ensino superior português é reconhecido como de qualidade, o país é apelativo, basta olhar para os fluxos turísticos, e apesar das dificuldades atuais o alojamento e o custo de vida estão ainda abaixo dos nossos concorrentes, assim como a generalidade das propinas.

Apesar dos esforços que se vêm empreendendo, as autoridades académicas e consulares ainda não conseguiram remover os bloqueios à emissão de vistos, que nalguns casos demoram mais de seis meses ou ficam mesmo num limbo sem que haja qualquer despacho, sobretudo em países onde existem mercados emergentes e com imenso potencial. Sem este problema resolvido todos os esforços são vãos e a imagem do país fica irremediavelmente prejudicada, pois, é fácil de compreender a desilusão, numa primeira fase, e a fúria, a seguir, de estudantes que se matriculam em escolas superiores portuguesas, pagam milhares de euros em propinas, nalguns casos um ano inteiro à cabeça, e depois não obtém qualquer informação sobre os seus pedidos de vistos e nem certeza sobre se os obtêm ou não.

Esta situação está a arrasar completamente os esforços para conseguir canalizar estudantes para Portugal e a criar uma imagem de desconfiança com riscos futuros evidentes.

Apesar de existir uma chamada via verde, gerida pela Direção Geral do Ensino Superior, a realidade é completamente vermelha e os procedimentos criados inserem-se, apenas, na melhor tradição burocrática, ou seja, para resolver um problema, criaram-se dois, aumentando o ruído e não acrescentando nada de útil, uma vez que a via verde é apenas intermediação da informação das IES ao Ministério dos Negócios Estrangeiros onde os processos ficam em pousio até haver capacidade para os despachar nos vários consulados, onde o pessoal escasseia e o expediente se acumula sem remissão.

Apesar das várias chamadas de atenção e de múltiplas diligências, a situação tornou-se intolerável e os prejuízos para estudantes e instituições começam a assumir dimensão inaceitável até porque as autoridades não se empenham em mudança significativas e facilitadoras e a encarar as IES como parceiras nestes processos, bem como as agências de recrutamento.

Para alguns, esta é outra figura vampírica, alguém que faz negócio intermediando a captação de estudantes, embora seja sabido que na maior parte das atividades económicas há intermediários e sem estes dificilmente se consegue chegar ao cliente final, neste caso famílias e estudantes, sobretudo quando nalguns países pouco mais se conhece de Portugal do que o Cristiano Ronaldo.

Mas há mais, as pequenas escolas não têm meios para investir em missões de captação no estrangeiro, que custam milhares, restando-lhes apenas a hipótese de trabalharem com recrutadores sérios e ajustar as condições contratuais às suas realidades.

Em síntese, a captação de estudantes internacionais que suportem integralmente os custos das suas propinas e se instalem em Portugal durante os cursos, podendo por cá ficar depois, é uma necessidade imperiosa, mas isto só será possível se forem resolvidos os gravíssimos problemas atualmente existentes com a emissão de vistos, sob pena de todos os esforços serem infrutíferos e o país perder milhões de euros num setor de atividade económica que tem tudo para ser um sucesso.