Esta semana foram notícia várias manifestações do movimento “Fim ao fóssil: ocupa!”, em Lisboa: a ocupação da Escola Artística António Arroio e do antigo Liceu Camões; a interrupção, na Ordem dos Contabilistas, de uma sessão em que participava o Ministro da Economia, até serem expulsos pela polícia; e ainda a ocupação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de onde foram, a pedido do respectivo director, desalojados pelas forças de segurança.

Depois da derrocada do muro de Berlim e a falência política e económica do regime marxista nos países do Leste europeu, o desinteresse da juventude pelas ideologias políticas foi acentuado e, por isso, é mais fácil captar a sua atenção para agendas políticas concretas, como é a questão ecológica. As alterações climáticas também são, afinal, uma questão política, a que o Papa Francisco tem dado especial relevância no seu pontificado, tendo até convocado um sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que não é propriamente uma temática eclesial, e escrito uma encíclica sobre a casa comum, a Laudato si.

Muito embora a questão ambiental não seja de esquerda – a ecologia é parte importante da espiritualidade franciscana e uma das apostas principais do escutismo cristão – nem anticapitalista – Chernobyl aconteceu na antiga URSS e a China comunista, onde é impensável uma ‘greve climática’, é uma das potências mundiais mais poluentes – a extrema-esquerda apropriou-se agora desta causa, dando-lhe um cunho ideológico. As alterações climáticas são um pretexto para impor uma ideologia totalitária que, ao reduzir o ser humano a um mero ser vivo, permitiria espezinhar os direitos inerentes à sua dignidade, em nome da salvação do planeta. Por isso, nalguns cartazes da marcha pelo clima que, em Lisboa, reuniu dezenas de pessoas, viam-se frases como “Enterrar o capitalismo com os combustíveis fósseis”, e “Por 1,5 graus, fim ao capitalismo”. Um ‘jovem’ manifestante de 61 anos, Álvaro Fonseca, da Rede para o Decrescimento, disse que a causa profunda da crise climática “é um sistema que está completamente alienado e obcecado pela ideia do crescimento económico, como forma de promover o bem-estar”.

Não estranha, portanto, que vários partidos políticos da extrema esquerda “integraram o final da marcha, como o Livre, os Verdes e o MAS”, bem como a coordenadora do Bloco, que afirmou: “É absolutamente justa esta luta, é pela vida de todas as gerações, de toda a gente” (Público, 13-11-22), o que contradiz o programa do seu partido político, que é um dos principais promotores do aborto e da eutanásia.

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Para além da organização Greve Climática Estudantil, esta manifestação contou com o apoio de várias instituições ambientalistas alheias ao meio académico, como a Climáximo, a Zero, e a Rede para o Decrescimento. Assim se explica a presença de Sinan Eden, de 36 anos, activista ambientalista da Climáximo, que parece não ser português, nem estudante de coisa nenhuma. Nem todos o fizeram com a mesma intencionalidade política: um biólogo e investigador da Universidade de Évora, integrou a manifestação como quem participa numa romaria, pois “veio à marcha com os dois filhos e a mulher, e também enquanto integrante do Coro da Achada”.

Segundo uma das organizadoras deste protesto, o mesmo tem duas principais metas: “que o Governo declare o fim aos fósseis até 2030 e a demissão imediata do ministro do Mar e da Economia, António Costa e Silva.” Antes da marcha, Ana Carvalho, de 23 anos e uma das organizadoras da ocupação da Faculdade de Letras, confidenciou: “tivemos uma semana a fazer actividades sobre justiça climática, sobre o que é o movimento contra o fim ao fóssil. Tivemos uma aula de ecopoesia lindíssima.”

Não restam dúvidas sobre a urgência de conquistar os jovens para esta causa, que requer o empenhamento de todos e exige uma coresponsabilidade mundial, sobretudo através de uma melhor formação científica e de acções concretas, segundo a boa tradição escutista: plantar árvores, cuidar do meio-ambiente, retirar detritos das praias, optar por uma vida mais saudável e sóbria, menos dependente dos dispositivos electrónicos, etc.

Quando a Greta Thunberg foi notícia pelo seu activismo ambiental, não podia ser levada a sério, porque era ridículo que uma jovem sueca a quem, decerto, nunca faltou nada, acusasse o mundo inteiro de lhe ter roubado a juventude. Há milhões de outras raparigas que, no Sudão, no Mali, na Nigéria, no Paquistão, na Índia, em Cuba, na Coreia do Norte, etc., nunca tiveram sequer uma habitação digna, uma alimentação equilibrada ou instrução básica. As queixas da menina Thunberg mais não são, afinal, do que amuos de uma maldisposta adolescente a quem não se deve dar importância. Melhor teria sido que o seu tempo de antena tivesse servido para dar a conhecer a miséria de tantos jovens, da sua idade, a quem falta uma digna subsistência, para já não falar dos que vivem sob um regime totalitário, como acontece nos países comunistas, ou nos Estados que adoptaram a sharia como lei fundamental.

Que Greta Thunberg falte às aulas para fazer uma greve dita climática, é uma opção dela, dos encarregados da sua educação e da sua escola. Não é assunto que interesse a opinião pública, porque não é perita na matéria, nem representa ninguém: fala a título individual, de uma questão para a qual não está, em termos científicos, minimamente credenciada. Que sentido faz a imprensa de todo o mundo dar-lhe tanto palco?! Como explicar que até o Secretário-Geral da ONU a receba?!

O mesmo se diga do que aconteceu no nosso país. Que haja estudantes que querem fazer greve, para participarem numa manifestação a favor do clima, não tem nenhuma relevância: desde sempre todos os pretextos foram bons para faltar às aulas. Se querem protestar publicamente, que o façam, desde que se sujeitem às inevitáveis consequências académicas e respeitem a ordem pública. Mas que ocupem edifícios do Estado, como a Escola António Arroio e a Faculdade de Letras, não é aceitável.

Como os manifestantes ‘exigiram’ a demissão imediata do Ministro da Economia e do Mar – esta gente não se fica por menos! – não é que o próprio os recebeu!? Com efeito, no passado dia 15, na sede do ministério, teve lugar a reunião de António Costa e Silva, ladeado por quatro assessores, com seis estudantes, todas mulheres, que se limitaram a exigir a saída do ministro, a quem leram o texto da carta da sua reivindicada demissão! Contudo, não foram capazes de apresentar qualquer proposta. Depois do encontro, Costa e Silva disse: “Não podemos construir um país com futuro sem os jovens. Estava preparado para os ouvir. Eles não querem discutir questões e soluções”. É caso para perguntar: mas o ilustre governante e os seus assessores esperavam o quê?! Será que não têm mais nada que fazer?!

Um dos activistas, que se faz chamar Ideal (?!) Maia e teve honras de Telejornal, talvez por ser uma figura verdadeiramente bizarra, afirmou categoricamente que este plano do ministro inclui “fósseis por todo o lado”. Quando a jornalista lhe pediu um exemplo, o dito não foi capaz de dizer nada porque, como admitiu, não conhece o tal plano do ministro, cuja demissão exige com tanta determinação. Pergunta-se: que sentido faz transmitir, no telejornal nacional, as declarações de alguém que protesta, por um alegado plano que nem sequer conhece, e para o qual não tem nenhuma alternativa?!

Jesus, com doze anos, protagonizou uma atitude de rebeldia: em vez de acompanhar os seus pais no regresso a Nazaré, permaneceu no templo de Jerusalém, dialogando com os doutores da lei. Porém, logo que foi encontrado por Maria e José, regressou com eles à Galileia, onde lhes obedecia e “crescia em sabedoria, em estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 41-52).

Um bom conselho para as Gretas, Gretos e Gretes de Portugal: cresçam (e apareçam!) em sabedoria e graça, não se deixem instrumentalizar e um dia, com a vossa competência profissional, sejam úteis ao planeta e ao país!