Li no jornal Observador notícias surpreendentes, de que tiro estas afirmações: «”Pessoas que menstruam”. Governo dá respaldo à DGS e defende “linguagem neutra”. A ministra Margarida Balseiro Lopes, que tem a pasta da Igualdade, defende a “linguagem neutra do ponto de vista do género”». «O deputado do PSD Bruno Vitorino, em declarações ao Observador, disse que ficou “perplexo” com a resposta de Margarida Balseiro Lopes. O deputado — que tinha feito uma pergunta ao Ministério da Saúde sobre a campanha da DGS sobre “pessoas que menstruam” — diz que estava “mais habituado a discutir este tema com as irmãs Mortágua e não com uma ministra do meu partido”.» «Carlos Coelho dá “razão” à ministra da Juventude e ataca as visões do “antigamente”. O antigo eurodeputado e diretor de campanha de Montenegro nas últimas diretas, saiu esta terça-feira em defesa da ministra da Juventude, Margarida Balseiro Lopes, que diz ser “uma das melhores referências da nova geração do PSD” e uma “mulher aberta e inteligente”.» «Sem nunca se referir a Bruno Vitorino, Carlos Coelho diz que “qualquer reação contrária” a defender a posição da ministra “é uma reação desagradável, com sabor do antigamente, de exclusão, de preconceito“. O antigo eurodeputado admite que os “partidos são sempre realidades muito plurais” e que, portanto, nem todos pensarão como ele sobre o assunto, mas acrescenta que “há pessoas que olham para o futuro e as que estão presas ao passado.”»
E no jornal Expresso li assim: «O Governo defendeu uma campanha recente da Direção-Geral de Saúde (DGS) sobre saúde e produtos menstruais, dirigida a pessoas que menstruam, afirmando que a saúde menstrual é uma “questão de direitos humanos” que inclui pessoas transgénero e não-binárias, e considerou que a linguagem para este tipo de políticas deve ser “neutra do ponto de vista do género”».
E eu que tenho lido várias notícias em sentido contrário a estes avanços do PSD em favor do «queer-ismo», isto é, que em vários e civilizados países da Europa se vem recuando legislativamente nestas derivas da ideologia de género! E que as Associações de Pais nesses países protestam contra as intrusões ideológicas do Estado-educador na educação das crianças, desrespeitando os seus direitos legais de encarregados de educação! Por exemplo aqui.
Esta linguagem agora adoptada por personalidades social-democratas é ridícula. Ora vejam se percebem: «a saúde menstrual é uma “questão de direitos humanos” que inclui pessoas transgénero e não-binárias»! E ainda mais isto: «a linguagem para este tipo de políticas deve ser “neutra do ponto de vista do género”»!
Mas então agora os direitos humanos são um «passe-partout» ideológico, como o esquerdismo demagógico vem divulgando? Direito humano é tudo aquilo que a mim me apetecer? E como é que se entende uma «linguagem neutra» para referir entidades que por definição não são neutras, porque são entidades com género? Neutro quer dizer que não tem género! Portanto não se pode aplicar a um conjunto de entidades que têm e querem ter género. E ainda por cima a um conjunto infinito de géneros, como é o conjunto LGBT+. Tratar toda a gente como coisas neutras, isto é, sem género, embora chamando-lhes pessoas? As pessoas que se consideram como trans querem mudar de género; não querem ser neutras. Ou eu estou enganado?
Com todo o respeito que todas as pessoas me merecem, pensem o que pensarem e digam o que disserem, não se pode concordar com todas as suas ideias nem com todas as suas declarações, sejam quais forem. Relativamente à ideologia de género, eu estou com o Papa Francisco, que já por várias vezes fez declarações públicas frontalmente contra tal ideologia. Aliás, na boa companhia dos médicos e cientistas de várias ciências, que negam qualquer respaldo científico a tal ideologia. Numa das suas declarações mais recentes, noticiada pelo Observador, ele «condenou a “ideologia de género” qualificando-a como uma das «colonizações ideológicas mais perigosas do nosso tempo». Ora, os Papas não costumam dizer coisas assim tão fortes sem uma forte e seriíssima razão. E esta seriíssima razão é que de facto estamos perante uma ideologia subversiva, porque, como diz o Papa, pretende anular a diferença antropológica fundamental entre a mulher e o homem.
E note-se bem: dizer isto não nega as situações de disforia de género que a medicina reconhece como cientificamente patológicas, evidentemente. Pelo contrário, confirma-as e respeita-as.
A recente saída da ministra Balseiro Lopes é uma formidável novidade ideológica no PSD, lançada não a título pessoal e com alcance pessoal, mas sim como representante ministerial responsável do PSD. Ora, tanto quanto se sabe, essa novidade ideológica não tem base nem no programa partidário, nem no programa eleitoral, nem em qualquer decisão representativa do PSD. Foi uma novidade lançada sem consultar publicamente ninguém: nem os filiados, nem os votantes, nem os simpatizantes, nem os órgãos próprios do partido que são os competentes para tomar decisões deste calibre doutrinário, ideológico e político. Talvez e informalmente a Juventude Social Democrata. Não sei. Em termos partidários, foi então um inaceitável atrevimento pessoal. Não é assim que se procede responsavelmente numa associação partidária que tem tradição e programa publicamente assumidos. A liberdade pessoal não pode violar a responsabilidade associativa que livremente se aceita quando se entra numa associação partidária, que além de compromissos entre os seus membros assume compromissos perante os seus eleitores. Quem quiser preservar absolutamente as suas liberdades pessoais pode muito bem fazê-lo mantendo-se independente. Uma e outra coisa é que não é racional nem honesto.
Mas agora, desde que seja para a esquerda e para o wokismo, a moda é a de personalidades que se fazem notar pelo seu «atrevido» libertarismo. Porquê? Porque os conservadores humanistas são inofensivos e abandonam os seus? Enquanto os progressistas libertários são agressivos e protegem os seus? Porque vem dos Estados Unidos? Porque é sexy? Porque é de esquerda? Porque é politicamente correcto?
Com Rui Rio, a liderança do PSD virou à esquerda. Rui Rio fartou-se de minar partidariamente Passos Coelho, ainda este governava heroicamente para resolver a falência financeira do País, que o anterior Governo do Partido Socialista lhe tinha legado, no programa político obrigatório que assinou com a «troika». O país reconheceu o mérito de Passos Coelho, dando-lhe a vitória eleitoral nas eleições seguintes. O que, dadas as extraordinárias circunstâncias, devia ter sido considerado como um verdadeiro referendo nacional. Mas, em vez disso, o PS de António Costa aliou-se à extrema-esquerda, e deitou abaixo o segundo Governo de Passos Coelho. Que, depois de ter resistido nobre e brilhantemente, se retirou da política, a mim me parece com justas mágoas. E o PSD aceitou Rui Rio como líder, e despediu aqueles que tinham lutado com Passos Coelho, que durante todo o tempo em que liderou, traindo a história recente, não fez outra coisa senão tentar que o Partido Socialista quisesse casar com ele. Logo nas eleições parlamentares seguintes, saneou nada menos do que mais de metade do grupo parlamentar que tinha lutado por Passos Coelho e ganho as eleições com ele, incluindo os mais notáveis, que agora regressaram à liderança do PSD, embora não todos, como por exemplo Miguel Morgado, uma das mais inteligentes, cultas e capazes personalidades políticas do actual plantel nacional. Depois perdeu todas as eleições; mas, num patético apego ao poder, nunca assumiu as derrotas nem a honradez de se retirar derrotado. Sobre a eutanásia, que o partido tinha deliberado em Congresso dever ser decidida por referendo, desprezou essa deliberação partidária ao seu máximo nível, e, tomando posição pessoal favorável à eutanásia, aceitou destacar-se nessa posição com adversários partidários, enquanto criticava o grupo parlamentar que tinha decidido abster-se e dar liberdade de voto de consciência aos seus membros.
Evidentemente, Rui Rio é o maior responsável histórico do PSD por ter abandonado à direita o espaço político que o Chega e a Iniciativa Liberal vieram muito racionalmente ocupar e alargar. Ao mesmo tempo, o PS tem combatido que outros partidos, velhos e novos, lhe conquistem espaço à sua esquerda, até agora com êxito. Estes movimentos tectónicos são evidentes no nosso mundo partidário.
Recentemente, com Montenegro, parecia vir aí uma correcção da deriva socialista rioísta. O discurso que fez no Congresso de Almada foi esperançoso. Mas depois começou a nascer uma dúvida, quando em vez de ter a coragem de assumir a liderança social-democrata de toda a direita, como o PS fez assumindo a liderança socialista de toda a esquerda, se assustou com os ataques do esquerdismo e caiu no erro das famosas linhas vermelhas contra a direita conservadora. Agora está prisioneiro do centro esquerda; e continua a estreitar o seu espaço partidário, pedindo batatinhas ao PS e recusando o liberalismo. Que recuse o liberalismo individualista e libertário, isso seria correcto; mas não o liberalismo personalista, que é a alternativa aos estatismos de esquerda.
Enfim, até agora, este Governo da AD não indicou querer reformar nada do que fez o PS coligado com a extrema-esquerda, nos últimos governos, designadamente na educação e na saúde, onde apenas pretende governar melhor mantendo as mesmas políticas centralistas. E agora esta última novidade da adesão governamental à ideologia de género mostra que, em vez de querer ser uma alternativa à esquerda woke, e liderar a direita, o PSD quer ser mais um partido de esquerda «queer». Entretanto, um certo eleitorado católico creio que foi deitado fora do PSD pela ministra Balseiro Lopes. E não acredito que tenha conquistado nenhum voto. Mas ganhou protagonismo pessoal, que deve ser o que lhe interessa. Vamos ver o que se seguirá.