“Penso todos os dias nos lesados. Todos os dias. E sofro com isso. O Banco Espírito Santo tem 150 anos e nunca lesou ninguém(…)portanto não fui eu que causei os lesados.”
Ricardo Salgado, 2/03/2019.

Quando estava prestes a emocionar-me com a generosidade e o altruísmo das afirmações de Ricardo Salgado à TSF, a propósito do quão sofridas as suas noites têm sido por causa da difícil circunstância dos lesados do BES (a que o próprio se considera alheio?!), fui atingido por um banho de água gelada.

O Novo Banco (a parcela aparentemente “saudável”que restou da resolução do BES, recorda-se?) apresentou os resultados de 2018 e as notícias não são de todo animadoras. Os contribuintes ficaram a saber que o “banco bom”apresentou novamente prejuízos, desta feita na ordem dos 1.412 milhões de euros! Um resultado que ficou essencialmente a dever-se a perdas registadas com a venda de carteiras de ativos problemáticos oriundos do BES; a alienação de 9.000 imóveis aos americanos do Anchorage Group por 716 milhões (Projeto Viriato) e 102 mil contratos de crédito malparado no valor de 2.150 milhões de euros com os fundos KKR e Lx Investment Partners (Projeto Nata). Uma desgraça para a qual o Dr. Salgado em nada contribuiu, pois claro!

Acontece, porém, que a “banhada” não se cinge a 2018. Analisados os 5 anos de vida do Novo Banco, chega-se rapidamente a uma conclusão: o banco nunca registou resultados anuais positivos! Se nos primeiros cinco meses de existência, entre agosto e dezembro de 2014, os prejuízos ascenderam aos 500 milhões de euros, nos anos que se seguiram o cenário não melhorou. Pelo contrário: em 2015 registaram-se 981 milhões de euros de prejuízos, 780 milhões de euros em 2016, 2.298 milhões em 2017 a que acrescem os 1.412 milhões de euros de prejuízos relativos a 2018.

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Contas feitas, o Novo Banco apresenta um resultado negativo acumulado de 5.975 milhões de euros desde 2014. É obra! Mas é uma obra cuja autoria o Dr. Ricardo repudia sempre que pode.

Ainda assim, o quadro não seria tão negro se a fatura do legado fosse endereçada ao Dr. Salgado e família. Acontece que não é assim. E porquê?

Quando, em outubro de 2017, ficou acordada a venda da instituição ao fundo americano Lone Star, foi constituído um mecanismo de capital contingente que obrigou o fundo de resolução (entidade pública financiada pelos bancos a operar no sistema português) a injetar dinheiro no “banco bom” sempre que a venda de ativos problemáticos impusesse uma diminuição dos rácios do banco.

Ora tal cenário tem sido recorrente.

Em 2017, em razão dos resultados verificados, o fundo foi chamado a injetar 800 milhões de euros, a que se somarão 1.149 milhões em 2019. Tudo somado, 2014, 2018 e 2019, o Novo Banco teve um impacto de 6,9 mil milhões de euros nas contas públicas, dado que o fundo de resolução consolida no Orçamento de Estado. Acontece que, sobre este peso que está colocado sobre os ombros dos contribuintes portugueses, Ricardo Salgado nada disse porque nada viu, e como nada viu não é responsável por coisa nenhuma.

Há um dado que, ainda assim, me parece bastante evidente. Enquanto os portugueses carregam a sobrevivência do Novo Banco montanha acima, o Dr. Ricardo Salgado ocupa o tempo de antena que lhe resta a desconsiderar a inteligência de quem, ainda, o escuta. Hábito que lhe vem do passado, possivelmente.

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