A semana fica marcada por mais um episódio, cada vez mais frequente, de tentativa de chamada de atenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Numa intervenção totalmente disparatada e sem qualquer contexto, Marcelo referiu que Portugal tinha a responsabilidade de pagar reparações às antigas colónias e devolver bens às mesmas, remetendo culpas de uma suposta exploração por parte de Portugal, e procurando humilhar os portugueses e rebaixar a sua história.
Não sei bem referir o que motivou esta intervenção lamentável de Marcelo. Uma das teorias é que serviu para desviar atenções de outros casos em curso, nomeadamente do caso das gémeas, no qual alegadamente foi cúmplice, e que voltou à ordem do dia devido ao seu corte de relações com o filho, devido ao episódio, e cujo Chega quer ver esclarecido através de comissão de inquérito. Pode por isso ter sido uma estratégia de Marcelo para desviar atenções, e tentar que a atenção mediática se vire para o tema das reparações, face a um possível tráfico de influências. Se este cenário é grave, o segundo parece-me ainda pior, uma vez que envolve que Marcelo realmente acredite que Portugal tem responsabilidade de pagar qualquer tipo de reparação pela sua presença nas antigas colónias. O meu grande problema com as afirmações de Marcelo, é que estas remetem o passado português, a meu ver distinto pelo seu papel de civilizar e de difusão cultural aos quatro cantos do Mundo, a uma mera figura opressora, procurando humilhar os portugueses e toda a história de Portugal.
Se de facto fizesse sentido Portugal pagar algum tipo de reparação, então o mesmo teria de ser feito por Portugal aos espanhóis, franceses e tantos outros povos que ocuparam no passado Portugal (teríamos de encontrar todos os descendentes dos romanos, gregos, cartagineses, celtas, mouros, etc). Não esquecer também que teríamos de pedir às antigas colónias a devolução de tudo o que Portugal lhes deu, dado que acredito na reciprocidade, e sendo que estas querem reparações, então seria justo que as infraestruturas, as vias de comunicação, os desenvolvimentos tecnológicos, a língua, cultura, os princípios básicos de sociedade, que Portugal lhes transmitiu e deixou, teriam de ser devolvidos aos portugueses. Faria isto sentido? Obviamente que não. Da mesma forma que não faz qualquer sentido o que disse Marcelo, uma vez que os territórios ultramarinos nos pertenciam, tal como a Madeira ou o Alentejo, e que após a independência, e apenas aí, iniciaram a sua “vida” enquanto nações, pelo que tudo o que se passou anteriormente não entra nesta lógica de atualidade.
O que me custa realmente é que já sabendo da existência de quem, apesar de português, queira ver o país humilhado a pedir desculpas (sem nenhum motivo para tal) às antigas colónias, ter de assistir a um Presidente da República a prestar-se às mesmas figuras. O orgulho que temos da nossa História deve ser enorme, pois esta transmite-nos um sentimento de honra e de ligação àquilo que somos, portugueses. Como tal, devemos celebrar o passado da nossa nação, em especial quando esta está recheada de conquistas e grandeza, pois foi Portugal a nação responsável por dar novos mundos ao Mundo, a nação que descobriu o caminho marítimo para a India, que descobriu o Brasil, que venceu milhares de batalhas além-mar em inferioridade numérica, que navegou os 7 mares e que no passado todo o Mundo aprendeu a respeitar e ter como exemplo. Este passado não deve nunca ser motivo de vergonha, mas sim motiva de orgulho e esperança para o futuro, pois se fomos tão grandiosos poderemos voltar a sê-lo, rompendo com o caminho descendente e lamentável condenação à pequenez das últimas décadas.
Numa nota final referir que não concordo e repudio quem pretende efetuar qualquer revisionismo histórico, procurando culpabilizar uma nação que tanto fez pelo desenvolvimento de territórios que são hoje independentes, e que viu serem expulsos e humilhados portugueses retornados após 1974 (esses sim sem qualquer reparação, ficando mesmo sem aquilo que lhes pertencia, vítimas de uma descolonização desastrosa), e ainda ser rebaixada pela sua principal figura.
Devemos sentir orgulho na nossa História, orgulho nas nossas conquistas, orgulho na nossa missão civilizadora e de difusão cultural, bem como na grandeza do nosso império, e acima de tudo utilizar tudo isto como motor para fazer aquilo que deve ser feito: cumprir Portugal! Quanto a Marcelo, se quer mesmo falar de reparações, relembro-me de 4 milhões de euros em “reparações” por tratamentos em Portugal de cidadãs estrangeiras por onde pode começar.