As sondagens visam observar, analisar, monitorizar ou aferir algo. Fazer uma previsão a curto prazo.
Normalmente, a sondagem eleitoral tem como objetivo investigar, de modo extenso e metódico, uma tendência ou intenção, utilizando para isso métodos especiais.
Os resultados das sondagens pré-eleitorais, que medem intenções de voto junto de amostras e as inferem para o eleitorado, são habitualmente confrontados com os resultados das eleições. Na noite eleitoral, além dos resultados, são igualmente analisadas as divergências entre as sondagens e os resultados finais.
Alguns candidatos prestaram uma atitude sobranceira relativamente aos resultados pré-eleitorais. Tendo confiado nas sondagens não como uma análise de dados com uma probabilidade, tratam os dados como a verdade absoluta.
Analisando alguns factos:
Uma sondagem publicada em 21 de Outubro de 2020 da Universidade Católica para a RTP previa que “o Partido Socialista consegue 45 por cento das intenções de voto. O PSD tem 32 por cento. A maior queda é a do CDS. Os centristas recolhem apenas 3 por cento dos votos. Menos de metade do que tiveram nas últimas eleições regionais”. Na realidade, os resultados foram: PS com 39% e PSD com 33% e o CDS ficou com 5% dos votos.
No dia 22 de Setembro de 2021 foi publicado no jornal Público um estudo realizado pelo Centro de Sondagens da Universidade Católica Portuguesa (Cesop) para o Público e para a RTP com o título “Sondagem: Medina sucede a Medina em Lisboa sem maioria absoluta e com direita reforçada Fernando Medina deverá manter-se como presidente da Câmara de Lisboa no próximo domingo, mas a maioria absoluta está longe do horizonte. “
O resultado real foi que o partido de direita mencionado nos jornais obteve 34% dos votos e a coligação liderada pelo PS obteve 33%.
Em 22 janeiro de 2022, a uma semana das eleições legislativas, uma sondagem da Pitagórica foi publicada pela CNN “Pela primeira vez, as sondagens para estas eleições mostram o PSD à frente, com 34,5% contra 33,5% do PS. Direita também já supera a esquerda. Chega fica em 3.º (6,5%), BE e IL empatados com 5,7%”.
Os resultados reais foram de 41% para o PS, 28% para o PSD, 7% para o Chega e quase 5% para a IL, o que foi superior ao BE, que teve 4% dos votos.
Nesta eleição, o número de votos nulos e em branco caiu para metade, e o número de abstenções também diminuiu.
No dia 19 de Setembro de 2023 foi publicado no jornal Observador em relação às eleições na Madeira a realizar cinco dias depois: “Sondagem da Universidade Católica para a RTP prevê segundo lugar para o PS, com 23%. Seguem-se ainda, numa disputa pelo terceiro lugar, o Chega e o Juntos Pelo Povo (JPP), com 7% dos votos cada.“
Os resultados finais foram PSD/CDS com 43% e o PS com 21%. Não se verificou a maioria absoluta.
Em muitos casos, as discrepâncias entre as sondagens pré-eleitorais e os resultados finais levam a purgas dentro dos partidos políticos, quando na realidade são as pessoas que fazem uma declaração sobre o que querem ou não querem.
Mas as sondagens também podem ser “um influencer”.
Nas eleições legislativas de 2022, o povo mostrou que queria o Partido Socialista a dirigir o governo português, e nas eleições autárquicas na ilha da Madeira, o povo madeirense rejeitou a maioria absoluta do PSD/CDS.
Para solidificar a minha opinião, durante a minha pesquisa deparei-me com um estudo “Sondagens eleitorais, sua divulgação e comportamento eleitoral dos Portugueses” da autoria de António José da Cruz Belo, publicado em 2013.
Um dos parágrafos mais pertinentes: “Assim, a ocorrência de voto tático em Portugal resulta essencialmente da votação no PS por parte de simpatizantes da CDU ou do BE, para impedir uma vitória da direita; ou da votação no PSD por parte de simpatizantes do CDS/PP, para impedir uma vitória da esquerda. Considerando a ocorrência deste tipo voto como efeito do conhecimento dos resultados de sondagens, ter-se ia que, no caso do voto tático à esquerda, a votação no PS registar-se-ia acima das sondagens e, em simultâneo, na CDU e BE abaixo das sondagens, no caso do voto tático à direita, a votação no PSD registar-se-ia acima das sondagens e, em simultâneo, no CDS/PP abaixo das sondagens.”
Em resumo, vivemos numa democracia. Os partidos políticos precisam de analisar as pesquisas de opinião, não como verdade absoluta, mas como ferramentas de análise de dados e considerando a probabilidade da sua ocorrência.
Os comentadores revelam pouco conhecimento científico na área da estatística, pelo que deveriam ser mais cuidadosos nas suas avaliações e ajustar as suas afirmações.