As vacinas autorizadas pela Agência Europeia do Medicamento contra a Covid-19 têm elevada eficácia na prevenção da expressão grave da doença, incluindo a morte, mas não impedem que os indivíduos vacinados se infectem e sejam transmissores do vírus na comunidade, infectando outras pessoas.

A impossibilidade de reinfecção é um atributo dos indivíduos infectados na fase de convalescença, período transitório em que não expressam receptores ECA2 para a ligação da proteína spike de entrada do vírus. Nos infectados que adquiriram a capacidade de gerar uma resposta imunitária nas mucosas através da produção de IgA secretórias, a probabilidade de reinfecção pela mesma variante deverá ser extremamente baixa. Mercê da indução de IgA nas mucosas da orofaringe e do trato respiratório superior (IgA secretórias), o vírus é neutralizado, inibido na capacidade de adesão para invasão das células epiteliais e eliminado sem consequências inflamatórias. Ou seja, a mesma variante tem baixa probabilidade de reinfectar o hospedeiro.

Acontece que estas vacinas, desenhadas para prevenir a expressão grave da doença, protegem os indivíduos infectados de maneira distinta da anteriormente descrita. Além de não inibirem a expressão dos receptores ECA2 (só acontece com a infecção), por serem administradas por via parentérica (intramuscular) não induzem IgA secretórias, razões pelas quais não impedem que os indivíduos vacinados se infectem. Ao não prevenirem a infecção, estas vacinas não previnem a transmissão e, por isso, não distinguem vacinados de não vacinados no risco de transmissão da doença, se bem que nestes possa haver alguma atenuação devido à redução da carga viral.

Contradizendo argumentos de peritos e autoridades de saúde que procuram justificar a extensão da vacinação às crianças e adultos jovens sem comorbilidades como estratégia de protecção dos indivíduos de risco (quase todos vacinados), estas vacinas também não produzem imunidade de grupo. A razão é simples: não há imunidade de grupo esterilizante (tipo sarampo) para vírus respiratórios porque as vacinas parentéricas não induzem IgA secretórias e, por outro lado, a mutação constante do vírus (deriva genética) tende a comprometer a eficácia máxima nos vacinados e nos indivíduos previamente infectados.

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Actualmente, a grande maioria dos casos fatais verifica-se em idosos vacinados e fragilizados por comorbilidades diversas porque nestes indivíduos, assim como nos doentes imunocomprometidos, a resposta vacinal é sub-óptima e pode, inclusivamente, desenvolver-se doença grave, quer por ausência de resposta quer por resposta aberrante por desvio da resposta dos macrófagos com hiperprodução de citocinas inflamatórias.

Acontece que as funções imunitárias protectoras inatas e adaptativas declinam com a idade, contribuindo, não só, para o aumento da susceptibilidade às doenças infeciosas como, também, para uma resposta sub-óptima à vacinação. Esta desregulação do estado imunitário (imunosenescência) explica por que razões idosos vacinados desenvolvem quadros clínicos graves quando se infectam e o elevado risco de mortalidade a que estão sujeitos.

Sendo certo que estas vacinas não produzem imunidade de grupo nem impedem a transmissão da doença e que os indivíduos vacinados, à semelhança dos não vacinados, são igualmente transmissores do vírus na comunidade, não é sustentável a defesa da vacinação dos mais jovens com o argumento da protecção dos mais velhos ou da aquisição da imunidade de grupo nem, tão pouco, a utilização do certificado digital para a discriminação dos cidadãos.

Pelas razões expostas, facilmente se compreende que a protecção dos mais velhos não depende exclusivamente da vacinação dos próprios nem da alegada protecção determinada pela vacinação dos mais jovens. Complementando a vacinação, devem ser adoptadas estratégias de protecção individual e de prevenção da resposta inflamatória exagerada que está na origem das pneumonias graves que os afectam através da quimioprofilaxia.