De acordo com um estudo realizado pelo Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP), no qual terão sido inquiridos mais de 1500 jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos, 44,8% dos inquiridos identificaram-se com uma outra orientação não-heterossexual.
Este número é superior ao que foi apurado num inquérito realizado na Universidade de Brown, nos EUA, onde 38% dos estudantes afirmaram ser não-heterossexuais.
Há pouco mais de uma década, eram apenas 13% e esta estranha subida de 25 pontos percentuais não se deve ao facto de haver mais jovens felizes por se assumirem como homossexuais, pois esses são agora uma minoria entre o corpo estudantil LGBTQIA+ de Brown: apenas 23% dos estudantes «não-heterossexuais» se assumem como gays e lésbicas à moda antiga (homens que sentem atracção sexual por outros homens e mulheres que se sentem sexualmente atraídas por outras mulheres). Os restantes identificam-se como bissexuais, pansexuais, assexuais, queer, questionadores ou “outros”. «Não sou heterossexual!» é o novo grito de cada uma destas neo-sexualidades.
Qual será a razão para os mais novos fugirem a sete pés da heterossexualidade? Porque é que tantos jovens, mesmo sendo heterossexuais, se identificam como “queer” ou como outra letra da bandeira da moda?
Se, durante séculos, as pessoas tinham vergonha de ser homossexuais, hoje, os mais jovens parecem ter vergonha de se assumir como heterossexuais. Parece que não há maior maldição do que um homem sentir atracção sexual por uma mulher e vice-versa. Não sei se o facto da palavra “heterossexual” ser tão monótona – significa, literalmente, “mover-se uniformemente numa única direcção” – é o motivo que leva cada vez mais crianças, adolescentes e jovens a esconder a sua heterossexualidade e entrar no armário. Do que não tenho dúvidas é de que a “omnipresença” da ideologia de género em todos os meios de comunicação social e a sua imposição às escolas tem levado cada vez mais crianças, adolescentes e jovens a nadar na sopa de letras LGBTQQIP2SAA+. O resultado já é conhecido noutros países:
Estados Unidos. Em apenas quatro anos, entre 2017 e 2021, a proporção de americanos da Geração Z que afirmam ser não-heterossexuais aumentou de 10,5% para 20,8%.
Reino Unido. Há uma “tendência decrescente”, nas palavras sóbrias do Office for National Statistics, nas pessoas que se identificam como heterossexuais. Em 2020, 8% dos britânicos com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos afirmaram ser outra coisa que não heterossexual, um aumento acentuado em relação aos 4,1 % que afirmaram o mesmo em 2016. Em 2020 «43% dos jovens britânicos, entre os 16 e os 24 anos, não se revêem nas definições de heterossexual, de homossexual ou de bissexual. Este é o resultado de um inquérito realizado pela YouGov, uma empresa de estudos de mercado do Reino Unido».
Esse aumento, como concluiu o estudo realizado pela Dr.ª Lisa Litman, deve-se ao efeito contágio e o mundo das celebridades tem dado um enorme contributo para isso. Longe vão os dias de Tab Hunter e Rock Hudson. Hoje, as celebridades parecem ter medo de se assumir como heterossexuais. Alguns exemplos:
Harry Styles, famoso amante de mulheres, tem vindo a aparecer travestido, maquilhado e, quando questionado acerca da sua sexualidade, que, diga-se de passagem, deveria pertencer à sua intimidade e não ser esfregada na cara das pessoas, evita responder directamente e pergunta «porque é que temos de rotular tudo?».
Já Lily Rose Depp, modelo e actriz, insiste na falácia de que a sua sexualidade está num “vasto espectro”. Ela é aquilo a que a teoria do género designa como “género fluído”, ou seja, «uma pessoa cuja identidade de género passa por mudanças de tempos em tempos e cujas mudanças podem ser: graduais ou súbitas, constantes ou inconstantes, diárias, semanais, mensais, semestrais, anuais, bianuais, em intervalos de tempo aleatórios, etc., entre géneros definidos e/ou indefinidos, entre certos géneros, e/ou entre géneros completamente diferentes a cada mudança, para ou de qualquer quantidade de géneros (como de agénero (sem género) para neutrois (falta de género) e mulher, de neutrois e mulher para andrógino, de andrógino (género indefinido) para maverique (que não é homem, nem mulher, nem neutro, e nem qualquer identidade derivada destas), homem e mulher, e assim vai), influenciada (por questões como o ciclo hormonal, as crises, o clima, as pessoas à volta, etc.) ou não.»
Em 2016, o Vice já perguntava: “Os heterossexuais podem ser queer?”. Hoje, a maneira mais na moda, mas fácil e mais agradável de sexualizar a identidade no TikTok é autodeterminar-se queer. Laurie Penny, 36 anos, autora e argumentista, casada com um homem, diz-se genderqueer: «durante toda a minha vida, a heterossexualidade pareceu-me um jogo desportivo escolar que fui relutantemente obrigada a jogar», diz ela. Demi Lovato e Emma Corrin decidiram adoptar os pronomes they / them (eles/elas), piscam o olho à palavra Q e, como resultado disso, aparecem em grandes parangonas e retweets.
Ser hétero é uma chatice! De acordo com Jenna Wortham, colunista do New York Times, a palavra “queer” tornou-se um «apanhado linguístico», de tal forma que até «pessoas que se consideram heterossexuais, mas rejeitam a heteronormatividade, podem autodeterminar-se queer».
Queer, tornou-se a forma de os ideólogos de género assinalarem a sua rejeição da monótona heterossexualidade. Os académicos e os activistas chamam-lhe “heteronormatividade”, mas o que eles realmente querem dizer é “normalidade/normais”: aquela vasta multidão da humanidade que tende a ser heterossexual, a desejar o casamento com alguém do outro sexo e a querer comprometer-se e reproduzir-se.
Neste novo (a)normal, ser queer é pertencer a uma espécie de casta superior mascarada de sexualidade. Daí a sua popularidade entre os estudantes privilegiados da Ivy League, os actores de Hollywood e os licenciados de Oxford que constituem o que hoje em dia conhecemos como the new left [a nova esquerda]. Não deixa de ser irónico que os queer – apostados em acabar com a “heteronormatividade” – se imaginem como rebeldes, quando, na verdade, se limitam a seguir as sugestões da elite cultural.
E, convenhamos, há algo muito perverso na cultura. Nomeadamente, um desdém por tudo o que é natural, normal, saudável e gerador de vida. Da cultura popular ao mundo dos negócios, o exotismo oco do queerness [estranheza, homossexualidade, queer] é agora uma casta privilegiada em contraste com os “sem casta” casados e com filhos.
Mas, será que esta onda queer é boa para os gays e para os direitos dos gays?
Não! A casta superior de agitadores queer não se tem levantado apenas contra a malfadada heterossexualidade, mas também contra a aparentemente antiquada homossexualidade. Daí a marginalização de gays e lésbicas por parte dos heterossexuais queer-play em Brown e a disseminação do queerness que coincide com a ascensão do transgenderismo, que conduziu a novas e terríveis formas de intervenção médica na vida de crianças, adolescentes e jovens, que, se não fossem medicados e castrados tão precocemente poderiam vir a identificar-se como homossexuais.
O facto de termos a ideologia de género e a mutilação de gays e lésbicas adolescentes sancionada pelo Estado diz-nos tudo o que precisamos de saber: Aos olhos dos cruzados queer a homossexualidade, com a sua ligação antiquada à biologia e ao sexo, é tão duvidosa, antiquada e indesejável como a heterossexualidade.
Não há nada a celebrar no novo culto do queer. É puro narcisismo ideológico. Como um académico de Estudos Queer descreve, queerness é uma «experiência pessoal estimulante, realizada em nós próprios por nós próprios». Se isto não é o cúmulo do egocentrismo…
Talvez tenha havido um tempo em que a política da esquerda progressista tenha sido sobre grupos minoritários que lutavam pelo seu direito a desempenhar um papel igual ao lado dos “normais” na sociedade. Hoje, essas minorias são elites privilegiadas que se colocam acima da sociedade, olham para os “normais” de cima para baixo, e perseguem e cancelam quem não se ajoelha perante elas.