Uma desgraça” e “Destruiu-me o cérebro”. São estes alguns dos comentários da cantora Billie Eilish à pornografia, que revela ter assistido ativamente, desde os 11 anos, a este tipo de imagens. Não é a primeira (nem será a última) personalidade a manifestar-se abertamente contra vídeos pornográficos e a revelar as consequências negativas que estes abarcam.

Não se tratou de uma pequena crítica ou de um modesto reparo. No histórico programa Howard Stern Show, a célebre cantora, de 20 anos, condenou de forma corajosa a indústria pornográfica. Hoje em dia, estudos revelam que grande parte das crianças e adolescentes se deparam com pornografia pela primeira vez por acidente. Face a esta inevitabilidade, urge despertar a geração mais jovem para as ameaças trazidas por estes conteúdos.

A principal razão que levou a intérprete de “Bad Guy” a assistir a vídeos “para adultos” é a mesma que arrasta inúmeros jovens a consumir tais imagens: pertencer ao grupo. Na prática, quem não via pornografia no conjunto de amigos da cantora não era “cá da malta”. É aflitivo que tal tenha sucedido aos 11 anos de idade e certamente não acontece só no círculo de amigos da já galardoada com um prémio Grammy. A pressão de grupo para assistir a este tipo de imagens, muitas vezes atrozes e abusivas, é alta e o grau de adição que criam idem. Os pais e educadores devem desempenhar um papel fulcral ao alertar crianças e adolescentes para os riscos de uma indústria que assola crianças a partir dos 7 anos de idade, de acordo com um estudo de 2019 da British Board of Film Classification, organização britânica responsável pela orientação de famílias no que respeita a conteúdos filmográficos.

As repercussões do vício da pornografia em Billie Eilish são eventualmente as mesmas que assombram diversas crianças portuguesas. Afinal, apesar da fama, Eilish é uma jovem como qualquer outra. Pesadelos, revolta, dificuldades no namoro e falsas expectativas do sexo foram algumas das contrariedades ultrapassadas pela estrela. O conceituado ator Terry Crews e o rapper Kanye West são mais duas personalidades que outrora revelaram ter sofrido consequências semelhantes.

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A pornografia ameaça a saúde mental, destrói a autoconfiança e pode ainda provocar disfunções a nível genital. Para além disso, é altamente aditiva e qualquer vício é, à partida, intrinsecamente mau. O epíteto define-se precisamente como defeito, imperfeição ou mau hábito. Muitas pessoas que têm tal dependência fecham-se em si mesmas e correm o risco de desenvolver dificuldades de interação e relação com o próximo. Está, portanto, desmascarada a falsa ideia de que a indústria pornográfica espelha a liberdade de o ser humano poder exprimir o seu corpo. Como pode haver liberdade, se quem dela usufrui vive aprisionado?

Não se pretende aqui correr o risco de tornar o mundo num lugar púdico e inocente. Seria errado e perigoso ignorar a sexualidade ou fazer dela tabu. O problema da pornografia é que distorce em larga escala aquilo que é o ato sexual, criando um cenário que não corresponde à realidade. As atrizes e atores participam em contextos fora do normal e têm, habitualmente, características físicas que implicam intervenções de cirurgia plástica e estética, o que deturpa a figura do corpo humano. Não será demais afirmar que os filmes pornográficos são filmes de ficção, de fantasia.

Esperemos que o testemunho de Billie Eilish seja um incentivo para que muitas crianças e jovens não consumam nem tenham receio de não consumir pornografia. No final do dia, assistir a vídeos pornográficos é receber gato por lebre e existem muitas outras formas (válidas) de ser “cool”.