Cada um de nós assume, alternadamente, os papéis de mestre e aprendiz, de conhecedor e neófito. Num mundo polarizado, a empatia e a autenticidade emergem como sendo as competências mestras e aquelas que, independentemente das mudanças que o futuro traga, permanecem como pilares essenciais da nossa humanidade.

É no seio dessa humanidade, que enfrentamos um blitzkrieg cultural — uma guerra relâmpago de ideias e de conceitos que emergem e se alastram a uma velocidade assustadora, ultrapassando as fronteiras do conhecimento convencional.

Cada época apresenta os seus desafios únicos, fazendo da mudança e da adaptação elementos incontornáveis na evolução natural das sociedades.

O progresso clama pelo equilíbrio com o conservadorismo; porque afinal, as tradições de outrora, que uma vez serviram de farol luminoso e de luz de esperança, podem não mais iluminar os caminhos do nosso amanhã.

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Mudar por mudar é uma dança sem música e um movimento sem propósito, que pode, em vez de nos levar adiante, fazer-nos – aliás, retroceder.

Aceitar que a desatualização e a ignorância fazem parte da condição humana é compreender a vastidão natural do espectro da aprendizagem. Exemplificando: é, pois, ao limitarmo-nos a um conjunto restrito de cores e ao balizarmos os nossos recursos, que poderemos até encontrar simplicidade e clareza na criação, apesar de corremos o risco de perdermos a riqueza de uma paleta mais diversificada.

As fake news proliferam num jogo de sombras e de meias-verdades, florescendo em terrenos férteis de informações parciais e de interpretações precipitadas e triviais. Porém, numa conversa prolongada e aprofundada, alcança-se um entendimento bastante mais nuanceado, livre das armadilhas da superficialidade, do vazio e do vulgar.

O bombardeamento constante de informação promove uma cultura de reatividade ao invés de reflexão, levando à polarização e ao partidarismo.

Vivemos tempos em que o zeitgeist parece alinhado com a velocidade e a superficialidade com que a informação é processada e, por consequência, com o modo como a tecnologia nos molda e direciona.

A vida, contudo, desdobra-se em padrões não lineares, e é esta imprevisibilidade que dá sabor a esta belíssima aventura de existirmos conscientemente nos sapatos de um ser humano que não apenas sobrevive, mas vive!

Num mundo globalizado, o sentimento de ameaça pode ser constante, pois já não competimos apenas no microcosmos das nossas comunidades, mas num espaço onde as nossas ideias e as constantes inovações são apenas um eco de pensamentos já formulados noutras latitudes.

As adversidades que enfrentamos são mestres na arte de nos dar novas e diversas perspectivas, enquanto os variados desafios são os verdadeiros escultores da nossa sabedoria e os maiores formadores do nosso caráter.

E quando reduzimos a nossa visão às questões fundamentais como a própria sobrevivência, a verdadeira essência do ser emerge: pura, sem adornos ou “berloques” absolutamente inúteis  “apenas para inglês ver”.

Acredito que há uma beleza simples na ignorância, na vida descomplicada daqueles que caminham pela existência com a serenidade de uma criança.

A pastilha azul (blue pill) do esquecimento oferece conforto, e manter-se na ignorância pode parecer, em muitos casos, o caminho menos árduo. Contudo, a escolha pela pastilha vermelha (red pill), pela verdade e pelo conhecimento, é um convite à descoberta e ao desvelamento da realidade.

Assim, o conhecimento, uma vez adquirido, é irrevogável e torna-se numa verdadeira food for the soul, uma fonte inesgotável da qual incessantemente procuramos beber.

Olhar para o passado é entender que não há retorno, há – aliás – apenas a riqueza da experiência que nos guia na direção do futuro. E, no que me toca, sempre fui atraída, não pelo caminho de menor resistência, mas pelos desafios que exigem de nós mais e maior empenho e paixão.

Num mundo de mestres e aprendizes, de sabedoria e ignorância, espero – muito francamente – que a empatia e a autenticidade sejam a nossa bússola e força motriz, e que saibamos ser os verdadeiros catalisadores da nossa própria evolução, pintando o presente e o futuro com todas as cores disponíveis, mesmo aquelas que ainda não conhecemos.

Numa era marcada pela efervescência de discursos baratos e frases feitas, e pela absolutamente vertiginosa transformação social, a dicotomia entre liberdade e igualdade surge como um farol que ilumina a nossa civilização, tantas vezes perdida nas suas certezas (e nas suas dúvidas).

Em jeito de resumo, aproveito para fazer menção a uma observação de Alexander Solzhenitsyn, que instiga uma profunda meditação sobre os fundamentos que constituem o arcabouço das sociedades contemporâneas:

“Todos os seres humanos nascem com capacidades diferentes. Se são livres, não são iguais. Se são iguais, não são livres.” Alexander Solzhenitsyn

O conceito de liberdade é frequentemente visualizado como o estandarte sob o qual as individualidades desfraldam as suas idiossincrasias.

Mas qual a verdadeira relação entre liberdade e igualdade? Sendo ambos dois dos pilares fundamentais das sociedades modernas, por um lado – a liberdade, na sua essência, permite-nos expressar as nossas capacidades nas suas diferenças mais profundas; porém, esta mesma singularidade pode, pese embora paradoxalmente, colocar-nos em patamares bastante desiguais. Por outro lado, a igualdade pressupõe uma certa necessidade de se nivelar, o que pode acabar por restringir a nossa liberdade de conseguirmos ser verdadeiramente únicos e especiais.

É, portanto, um sentimento misto de uma incessante procura pelo equilíbrio entre permitir que cada um floresça em conformidade com as suas capacidades e características mais peculiares e únicas, e também, conseguir-se assegurar que todos tenham oportunidades iguais.

Perante este cenário, o desafio que se impõe aos líderes é saber-se como criar uma “perfeita” harmonia entre a celebração da individualidade com a promoção da justiça social.

Deixo, assim, o convite para que possamos – todos – refletir sobre como podemos contribuir para uma sociedade onde a liberdade e a igualdade não sejam vistas como opostos, mas como complementares na construção de um mundo mais justo e plural.