Os resultados do Iowa e de Nova Hampshire confirmaram o interesse e a imprevisibilidade das eleições dos EUA deste ano. Do lado democrata, a caminho das votações na Carolina do Sul e no Nevada, Bernie Sanders está “vivo” e “bem vivo”. Entre os Republicanos continua a luta pelo “last man standing” do “establishment” para combater a dupla populista Trump/Cruz. A Super-Terça-feira de 1 de março, com 14 primárias e “caucases” em simultâneo, terá um papel importante. No entanto arriscamo-nos a ver a disputa, em ambos os partidos, arrastar-se mais algum tempo, quem sabe só com um resultado final em “photofinish” nas respetivas Convenções de julho.
No lado dos Democratas, o virtual empate no Iowa e a vitória, por larga margem, em Nova Hampshire, deu a Bernie Sanders o “momentum” de que tanto precisava para a sua campanha. Se ganhar no Nevada, o que é bem possível, Hillary Clinton voltará a deparar-se com o mesmo problema de 2008. Uma coisa é quase certa: não vai faltar dinheiro a Sanders para a sua campanha, dado o crescimento acelerado do número de apoiantes e patrocinadores financeiros, nomeadamente entre os jovens e até as mulheres.
Clinton continua a ser a favorita, mas vai ter que se reinventar e, nomeadamente, de deixar de estar tão centrada nas suas realizações do passado. Ainda tem um forte apoio, especialmente entre os afro-americanos e os hispânicos, mas não tem entusiasmado a maioria dos eleitores que têm um forte desejo de mudança. Desta vez, poderá contar à partida com o apoio de quase todos os superdelegados na Convenção Democrata em Filadélfia. Contudo, se chegar a precisar deste apoio “in extremis”, será uma candidata bem mais fragilizada aquando do decisivo combate com o candidato republicano.
Muito atento à evolução desta maratona está Michael Bloomberg, antigo mayor de Nova York e dono de um grande grupo empresarial. O mais provável é que, no início de Março, o bilionário avance para a corrida presidencial como independente, o que apesar do seu perfil tecnocrata e das suas ligações a Wall Street, lhe proporcionará uma interessante percentagem de votos, nomeadamente nos chamados “swing states” e limitará assim as probabilidades de vitória dos democratas.
Do lado republicano a indefinição continua a beneficiar os candidatos de “protesto”. Donald Trump e Ted Cruz contam já com importantes vitórias reveladoras do grande apoio popular, especialmente entre os desiludidos com a política em geral e com o partido republicano em particular. Assim, o “establishment” republicano aguarda ansiosamente a rápida definição do seu representante para combater a esta dupla.
Nas próximas primárias da Carolina do Sul e no “caucus” do Nevada, o principal duelo será travado entre Marco Rubio e o seu antigo mentor Jeb Bush. Rubio surpreendeu positivamente no Iowa, mas um erro crasso no debate anterior às primárias em Nova Hampshire, onde surgiu na sua versão “robot” com as respostas “postiças”, comprometeu um bom resultado, terminando até atrás de Jeb Bush que, por sua vez, ganhou um novo fôlego. A boa notícia para ambos é que Chris Christie já abandonou a corrida e Kasich (potencial Vice-Presidente caso Rubio seja nomeado) dificilmente sustentará o bom resultado obtido em Nova Hampshire. Por seu lado, Ben Carson já só está a fazer “figura de corpo presente”.
Acontece que o pesadelo do GOP pode não terminar com o fim com a nomeação de Rubio ou Bush. E quanto mais tarde chegar esta decisão, maior é a hipótese do próprio Trump se lançar como candidato independente, alegando o grande apoio popular angariado ao longo da campanha e a injustiça do sistema da nomeação. Esta via não é simples em termos legais, mas não é impossível.
É muito arriscado fazer previsões, mas se há três semanas “apostava” no surgimento em força de Marco Rubio (o que até aconteceu no Iowa), desta vez acredito no seu “renascimento” como candidato dos republicanos mais moderados, e confio que os republicanos lhe darão uma segunda oportunidade. Para tal é fundamental que, tanto na Carolina do Sul como no Nevada consiga ficar, no mínimo, acima de Jeb Bush e, de preferência, acima de Ted Cruz e não muito longe de Trump.
Vencer depois o aparentemente invencível Trump não será nada fácil. No entanto parece claro que, apesar da sua força, este terá já atingido um “tecto” na captação de apoios e que dificilmente conseguirá ter a maioria necessária para a nomeação. Assim, se Rubio conseguir congregar os votos de todos os que não apoiam Trump, poderá alcançar a nomeação do Partido Republicano. Depois, com a ajuda do desgaste de Hillary Clinton provocado por Sanders e a mais que provável “entrada na corrida” de Bloomberg, Marco Rubio poderá ser o principal favorito ao cargo de Presidente dos EUA.