De 4 em 4 anos as mesmas novelas em torno das autarquias, das eleições autárquicas e das campanhas. As dos municípios e as eleitorais.

Sempre que se chega a ano de eleições autárquicas e com os meses em contagem decrescente somos confrontados com a actividade convulsiva da Comissão Nacional de Eleições, das candidaturas e das autarquias e a confusão entre campanhas eleitorais e as campanhas de divulgação das próprias autarquias. As autarquias lançam campanhas, a anunciar obra feita ou outras mensagens similares, as candidaturas apresentam queixas de propaganda encapotada e a CNE emite pareceres e decisões a decretar a retirada dessas campanhas. Umas autarquias acatam e lentamente retiram essas campanhas da rua, outras recorrem, adiando assim a retirada e prolongando as suas campanhas. E pelo meio as candidaturas afirmam a sua vitória acusando as autarquias de utilização errada de fundos públicos.

E nestes temas ninguém fica isento de culpas. Todos os partidos e “independentes” que governam autarquias ou a elas se candidatam já se encontraram dos dois lados da barricada. Chegando à ironia de um determinado partido num concelho ser acusador e em outro concelho ser o acusado.

Obviamente que as autarquias têm todo o direito (até direi mais, têm o dever) de divulgar a obra feita. E utilizando os canais ao seu dispor. É natural que nem todo o cidadão consiga ver coisas que foram feitas, como também existem coisas (não são apenas obras de rua) que são realizadas e não são visíveis.

Mas então porque assistimos a este problema a cada 4 anos? Lá está, porque a maioria dos autarcas só o faz de 4 em 4 anos. Ou pior, em ano de eleições faz com uma intensidade muito superior aos anos anteriores. São vários orçamentos municipais que nas rubricas de comunicação têm um crescimento mais do que exponencial em ano de autárquicas. Ao invés de uma corrida de fundo a ritmo moderado a 4 anos, os autarcas andam a passo durante 3 anos e depois desatam a fazer sprints loucos, como se um mandato fosse uma corrida de 100 metros.

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E isto aplica-se na divulgação, mas também em muitas obras (ruas, passeios, jardins, etc…), tornando essa corrida de 100 metros para o autarca numa corrida de obstáculos, algumas umas loucas gincanas, para o cidadão.

Tenho sido muito crítico com a CNE desde há muitos anos, das suas decisões surrealistas e datadas, mas também com a legislação eleitoral. Mas este caso de que falo não entra neste campo, nem a CNE é a principal responsável.

Aqui a culpa é dos autarcas que não têm um planeamento de trabalho, de obras e/ou de comunicação (divulgação ou informação), harmonizado ao longo do mandato. Há coisas onde uma lei não resolve tudo. A mudança de atitudes e mentalidades precisa de mais do que da força de lei.

E nesta análise onde constatamos o despertar apenas em ano de eleições não podemos deixar também de referir as oposições que só o são, só existem, meses antes das eleições. Uma regra simples, mas tão pouco praticada, de comunicação política é que se começa uma campanha no primeiro dia após a última eleição. Seja autarca no poder ou na oposição.

Rodrigo Saraiva é fundador Iniciativa Liberal