À medida que vamos experienciando a panóplia de vicissitudes que a vida nos proporciona, há certas e determinadas verdades imutáveis que assumimos como adquiridas sem nos debruçarmos verdadeiramente sobre elas. Uma delas é uma rivalidade que remonta a tempos quase imemoriais – a que existe entre as espécies canina e felina.
A história deste notável antagonismo é-nos transmitida desde que somos pequenos, sistematicamente caricaturizada nos mais diversos meios, e confirmada (aos nossos leigos olhos) em certas situações que todos já presenciámos. Mas tem realmente alguma razão de ser, alguma base que sustente esta teoria? Ou existe esperança para uma convivência, e inclusivamente para a criação de laços afetivos, entre duas espécies tão desiguais?
Enquanto donos destes animais de estimação, os seres humanos assistem a frequentes desavenças entre cães e gatos. Mas, na realidade, também vemos – apesar de lhes conferirmos menos importância – episódios de conflitos entre animais da mesma espécie. Quantos de nós não vimos e ouvimos brigas entre cães e brigas entre gatos? Quiçá ainda mais do que entre espécies diferentes.
É um facto de que são animais cujas diferenças são irrefutáveis, não apenas a nível anatómico, mas também no que concerne ao comportamento intraespecífico de cada um. Afinal de contas têm um percurso evolutivo distinto, tendo desenvolvido as suas características atuais de acordo com o meio e as condições em que habitam o foi exigindo.
Por um lado, salta-nos à vista o carácter mais irreverente e independente dos gatos, com um instinto predatório mais aguçado, mantendo, de certa forma, alguns dos seus traços mais primitivos e selvagens. Do outro, vemos um animal que procura estar em permanente contacto connosco, o que significa também que depende consideravelmente mais de nós para conseguir obter uma vida mais feliz e saudável.
Apesar desta inegável disparidade entre estas espécies, a coabitação pacífica está longe de ser uma missão impossível.
A base desta missão é, até, bastante simples: procurar conhecer e nunca descurar as características e necessidades específicas de cada um.
Uma coisa é certa, a convivência desde tenra idade aumenta (e muito) a probabilidade de que se deem bem ou, no mínimo, que se tolerem. Contudo, e assumindo que a introdução de ambos é feita quando cada um se encontra numa fase diferente da sua vida, há outras condicionantes que devem ser seguidas. À semelhança da popular expressão “a primeira impressão é a que fica”, o momento em que cão e gato se conhecem representa um momento-chave para o futuro da relação de ambos. Uma apresentação faseada e prolongada no tempo é a mais acertada e aquela que, seguramente, mais respeita o espaço necessário de cada um.
Da mesma maneira, deverá haver uma atenção redobrada dos donos nestes primeiros tempos. São eles o elo de ligação entre os animais e quem deve estabelecer limites bem definidos, zelando sempre pelo seu conforto e bem-estar.
O processo de adaptação poderá variar, dependendo também da forma de ser de cada animal, sendo que, no caso daquele que já fazia parte da família, se se tratar de um cão ou gato mais ansioso, é importante adotar estratégias relaxantes nos dias que antecedem este momento.
Apesar do esforço necessário que implica, está perfeitamente ao nosso alcance algo que a espécie humana tem o condão de realizar – tornar possível e duradoura a amizade entre dois amigos improváveis.