Vivemos numa sociedade que tende a reger-se por padrões previamente estabelecidos e que estão já profundamente enraizados. Um dos padrões incontestáveis, e ao qual, por muito que digamos o contrário, não somos indiferentes, é a beleza estética daquilo que nos rodeia.
No momento em que escolhemos adotar ou comprar um cão, a situação, habitualmente, não difere. Os cães de raça pura, cuja seleção foi feita de forma a obter determinados atributos físicos e aptidões específicas, são ainda o principal alvo do mediatismo público e os claros favoritos – por uma grande e injustificada margem.
Contrastando com os de raça, os cães rafeiros – ou de raça indefinida – são muitas vezes preteridos por não possuírem os traços específicos e os padrões de beleza que as pessoas procuram e, mais recentemente, veem amplamente difundidos nas redes sociais ou simplesmente porque as suas qualidades são totalmente ignoradas. O que faz, então, do cão rafeiro um cão tão elegível como qualquer outro?
Estes cães são, por norma, uma combinação aleatória de diferentes raças. Mas são muito mais do que isso, compilando uma bela tapeçaria de características e traços genéticos sem paralelo e que os tornam verdadeiramente únicos. Esta unicidade que os caracteriza supõe, não raras vezes, implicações positivas para a vida destes animais, e também para quem os decide acolher no seio da família.
Em termos de saúde, são cães que possuem uma maior robustez e resistência a doenças que afetam com maior frequência cães de raça pura. Esta diferença deve-se a um fator natural determinante: a variedade genética. Sendo o resultado de diferentes gerações de cães que se cruzaram entre si, possuem um pool genético mais amplio, munindo-se de condições que permitem uma resposta mais diversificada a possíveis patologias. Não significa que estejam sujeitos a um menor número de doenças do que os cães de raça, mas sim que apresentam uma menor probabilidade de as desenvolver. Tão claro como dois mais dois resulta em quatro, um menor risco de desenvolver doenças significa uma maior longevidade na vida destes animais. Não nos esqueçamos que, no mesmo lado da equação, afigura-se também um menor custo em despesas de saúde.
Para além da saúde, são vários os estudos científicos que comprovam que a inteligência dos cães não depende apenas da raça, sendo que os cães rafeiros têm capacidades cognitivas e níveis de inteligência semelhantes aos de raça definida. Da mesma forma, a capacidade de aprendizagem, de reter e recordar informação específica, é também similar.
Mas desengane-se quem pensa que as vantagens de ter um cão rafeiro se ficam por aqui. Somando aos atributos anteriormente descritos, a aquisição de cães rafeiros é indiscutivelmente menos dispendiosa do que um cão de raça. Do ponto de vista emocional, existe uma elevada probabilidade de encontrar um cão ainda mais feliz e “agradecido” por ter um lar e um novo dono que, à partida, proporcionará as liberdades essenciais para o seu bem-estar: livres de fome e de sede, livres de desconforto, livres de doenças, livres para expressar o seu comportamento natural e livres de medo e angústia.
Adicionalmente, desde um ponto de vista solidário e também de responsabilidade civil, ao adotar um rafeiro, estará a contribuir diretamente para a redução da sobrelotação em canis e associações, cujos voluntários diariamente dão o que têm e o que não têm para assegurar a sua sobrevivência e encontrar um lar condigno.
Convém sublinhar a imparcialidade deste texto, que não pretende de maneira alguma favorecer um tipo de cães em detrimento de outros. Muito pelo contrário. A beleza está e é passível de ser encontrada em qualquer um destes animais, seja ele de raça definida ou não. Cada cão é um cão, um ser único e irrepetível, que merece ser acarinhado e respeitado – esta é a forma de melhor os apreciarmos em toda a sua plenitude.