Tendo em conta o atual o contexto geopolítico, é essencial que Portugal, a par das áreas sociais, concentre esforços nas áreas de Soberania, Política Externa e Defesa Nacional, frequentemente subestimadas, mas que merecem um lugar igualmente crucial nas opções financeiras do nosso país.

Podíamos falar da precariedade das carreiras de médicos, enfermeiros ou até de professores. A carreira militar é apenas mais uma com graves problemas de gestão e de falta de estratégia nacional que a elas se junta.

Precisamos que hoje, mais do que nunca, as nossas Forças Armadas – Marinha, Força Aérea e Exército, que prestam um contributo inestimável para a nossa segurança, garantindo a soberania territorial de Portugal – sejam fortes e bem consolidadas, com efetivos e capacidades à medida das suas missões, que atraiam sempre mais e melhores profissionais, e que estes não saiam ao ritmo a que têm saído.

Contrariamente ao que seria de esperar, temos assistido a uma constante degradação da condição militar, marcada pela má qualidade das instituições e dos equipamentos, pela sobrecarga dos trabalhos e pela falta de perspetivas futuras.

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Os números falam por si: de acordo com os dados oficiais, só em 2022 os três ramos militares perderam 7,2% dos seus efetivos. Faltam cada vez mais praças, cabos e sargentos na Marinha, Exército e Força Aérea. Tal é um sinal claro de que os mais jovens deixaram de considerar a carreira militar como uma escolha promissora para o seu futuro pessoal e profissional, mas também, que as Forças Armadas perderam a capacidade de manter os que lá estão, sobretudo quadros altamente treinados e especializados.

As consequências da falta de recursos humanos começam a refletir-se nos níveis de operacionalidade dos três ramos, que só conseguem manter as missões sobrecarregando os que permanecem em serviço.

O agravamento da falta de militares do Exército é ainda mais grave: no passado mês de agosto foi noticiado que podem estar em causa os compromissos internacionais de Portugal com as Forças Nacionais Destacadas (FND). Isto num momento em que, como sabemos, temos destacados cerca de 220 militares na Roménia ao serviço da NATO, e outros tantos na República Centro-Africana em missões da ONU.

Acresce que, atualmente, assistimos a uma feroz competição internacional num mercado de trabalho cada vez mais global e competitivo para formar, manter e atrair talento. Portugal está a perder esta batalha e tal também ajuda a explicar a sua trajetória de lento declínio na Europa e no mundo.

Os dados oficiais de saídas das Forças Armadas confirmam também que um número elevado de militares com longos anos de carreira e formação técnica altamente qualificada terão chegado à mesma conclusão. Toda a sua formação e treino de competências foi feita em Portugal, mas o país falha no principal objetivo: retê-los. O seu futuro passa pelo estrangeiro, onde tudo é melhor: as perspetivas de carreira, os salários e até a educação para os filhos.

Num momento em que toda a segurança e defesa euro-atlântica está em processo de profunda mudança, estes factos são preocupantes. Ainda assim, entre todas as medidas levadas a cabo pelo Ministério da Defesa Nacional para atenuar as saídas das Forças Armadas, não existe, ao dia de hoje, uma solução para os dois maiores problemas apontados pelos militares: a progressão na carreira e as baixas remunerações.

A implementação dos Quadros Permanentes de Praças no Exército e na Força Aérea, o alargamento do regime de contrato especial, o Plano de Ação para a Profissionalização do Serviço Militar (revisto recentemente), a formação alinhada com o Sistema Nacional de Qualificações e, ainda, as obras realizadas para melhorar as instalações e alojamentos dos militares são claramente insuficientes para levar a cabo a tão necessária revisão salarial para recrutar e reter militares nos quadros, tornando as carreira das Forças Armadas mais atrativas.

Na sociedade civil, a tendência entre os mais novos acompanha a das Forças Armadas: uma sondagem recente da Aximage para o “DN/JN/TSF” revelava que mais de metade dos jovens portugueses, entre os 18 e os 34 anos, consideram a possibilidade de fazerem a sua carreira profissional fora do país. Ou seja, aqueles que fizeram a sua formação em Portugal são os mais interessados em emigrar e em abraçar novos desafios profissionais fora do país. Portugal forma, e depois vê os seus talentos criarem valor além-fronteiras, vislumbrando não mais do que uma espiral de empobrecimento.

Os militares são o exemplo perfeito de cidadãos comprometidos com o bem-estar da nação e dispostos a sacrificar-se em prol do coletivo. Dados os riscos a que estão inerentes, torna-se ainda mais evidente – e premente – dignificar o papel das Forças Armadas na proteção da nação, na promoção da paz e na valorização do papel de Portugal a nível nacional e internacional.

A confiança num futuro promissor em Portugal desvanece-se a cada dia que passa. A estagnação e o marasmo parecem iminentes, mas ainda os podemos evitar.