António Guterres
Secretary-General of the United Nations
United Nations Headquarters
New York, NY 10017, USA
Dear Mr. Guterres,
Escrevo-lhe não apenas como ucraniana por nascimento, mas também como cidadã portuguesa, tendo obtido esta nacionalidade através do meu casamento com um marido português, com quem estou a criar dois filhos portugueses. É com profundos desapontamento e indignação que abordo a sua recente visita à Rússia e os seus persistentes contactos com Vladimir Putin, um líder cujas acções deixaram a Ucrânia em ruínas e a sua população destroçada.
A guerra actual na Ucrânia não é apenas um conflito geopolítico – é, sim, um implacável assalto contra vidas inocentes, especialmente crianças. A guerra desalojou milhões de pessoas, e milhares de crianças ucranianas perderam as suas casas, as suas famílias, e os seus futuros. Algumas foram raptadas e realojadas à força na Rússia, um crime inimaginável que violada todos os sentimentos de humanidade. A cada dia, as crianças ucranianas vivem o terror dos ataques aéreos e das explosões de mísseis, e as suas vidas são destroçadas antes mesmo de começarem verdadeiramente.
Proponho-lhe a seguinte metáfora: imagine que é proprietário de uma casa, e, um dia, alguém ocupa à força o primeiro andar. E que em vez de se oporem a esta agressão, os seus alegados amigos preferem estabelecer relações com quem violou a sua casa. Como aceitar tal coisa?! É uma traição da mais alta grandeza, como bem sabe.
Ou, para lhe dar uma imagem mais pungente: imagine que a sua filha é violada, e que todos desculpam o agressor por causa da forma como ela estava vestida. E logo os seus amigos mais queridos, que esperava viessem em defesa dela, estabelecem boas relações com o violador.
Aí tem o que os ucranianos sentem quando olham para si e vêem um símbolo da diplomacia mundial solidarizar-se com um homem que desencadeou esta crueldade inimaginável contra o nosso povo.
Nesse seu cargo, Sr. Guterres, deveria representar os interesses da comunidade internacional, defender os direitos humanos e condenar os crimes de guerra. Todavia, o seu comportamento na Rússia mostra algo diferente: a disponibilidade para interagir com um criminoso de guerra, um homem que violou o meu país, que torturou o seu povo, e que roubou o futuro de tantas crianças. Não consigo compreender como uma pessoa na sua posição consegue justificar tais acções.
Por isso devo dizer-lhe: já não desejamos vê-lo em Portugal, o país que me deu refúgio e que o senhor reivindica como sua pátria. As suas acções envergonham os valores que Portugal, como nação de paz e justiça, tanto estima. Deixou de ser bem vindo na minha terra, ou na terra dos meus filhos.
Cumprimentos,
Mayya Graça Moura
Cidadã Portuguesa natural da Ucrânia.
CC – 32651881