Fomos há dias surpreendidos por um texto (prova de vida) que não teria qualquer importância não fora a presunção e a arrogância que encerra, insultando todos os militantes da JSD, desmerecendo a nossa história de 49 anos e o inestimável contributo que demos, damos e continuaremos a dar ao nosso país para defender as novas gerações.
O comissário oficial do Komsomol do socialismo vigente, num tom que o Dr. Álvaro Cunhal classificaria certamente como de “radicalismo pequeno burguês de fachada socialista” veio pedir-nos meças sobre os nossos princípios e valores democráticos. Mas os portugueses conhecem-nos. Todos, menos o comissário do Komsomol, nos conhecem. Os jovens portugueses sabem bem que nunca pactuaremos com o extremismo, com o radicalismo, com a negação do Estado Direito, ou com organizações políticas que são contra a Europa, a NATO, a economia de mercado ou as democracias ocidentais.
Na JSD, os seus militantes, dirigentes e liderança, não sentem a necessidade existencial de passar a vida em profissões de fé proclamatórias quanto à nossa natureza democrática. Somos filhos do 25 de Abril. Democráticos até à medula. A nossa vida interna é pautada por uma sã convivência democrática, pelo pluralismo, sendo a maioria das nossas eleições internas competitivas, sem arranjos de listas únicas, ao contrário do centralismo democrático que parece reinar na JS, onde há mais de 20 anos não se assiste a qualquer contenda eleitoral para a direção nacional, vigorando aí um sistema de linhagem sucessória de que o atual Comissário é apenas o último representante.
Temos uma história que fala por nós. De Pedro Pinto a Carlos Coelho, ou de Pedro Passos Coelho a Pedro Duarte, passando por Margarida Balseiro Lopes, sempre preferimos defender a juventude portuguesa junto do poder, mesmo quando enfrentámos o nosso próprio partido, o que em algumas situações até chegou a suscitar a abertura de processos disciplinares, pelos quais alguns de nós tivemos de responder. Postura contrastante com quem prefere ser o Comissário oficial do poder junto da juventude sem que se lhe conheça uma única divergência com o atual primeiro-ministro.
Com efeito nunca se ouviu uma crítica do Comissário aos miseráveis resultados das políticas de habitação que, ao fim de 7 anos, condenam os jovens portugueses a serem na Europa aqueles que mais tarde conseguem sair de casa dos pais. Nunca se viu um murro na mesa dado pelo Comissário sobre as promessas constantemente falhadas de construção de milhares de camas para o alojamento estudantil. Nunca se ouviu uma voz de genuína preocupação do Comissário quanto ao facto de milhares de estudantes começarem as aulas sem pelo menos um professor. Nunca se viu a constatação mais óbvia por parte do Comissário que a emigração jovem continua a ser um flagelo para a juventude portuguesa que, na sua pátria, não consegue encontrar futuro.
O que se vê é sempre o mesmo estilo estafado e panfletário, tentando justificar cada novo fracasso e cada novo caso com o recurso à cartilha que lhe é dada pela central de comunicação deste Governo. Desta vez, poderia ter aproveitado o espaço de opinião que lhe foi concedido para finalmente escrever alguma coisa de útil aos jovens portugueses. Mas não. Infelizmente, e mais uma vez, a mesma cassete.
Insuflar o Partido Chega, e lançando anátemas indignos contra a nossa natureza e intenções, tentando imitar e assim alçar-se ao jogo dos adultos do seu partido que, nada de melhor encontram para justificar a almejada perpetuação do seu poder, do que inventar papões e falsas narrativas sobre o PSD e a JSD.
A verdade é que se o Comissário saísse um pouco da sua bolha de privilégio e investisse tempo a falar com os jovens reais, no país real, constataria o grau de desilusão e de descrença na política partidária por parte dos jovens. É que são precisamente textos como os do Comissário que minam e corroem a confiança na democracia. Porque política não é apenas um ato proclamatório ou performativo. A Política, antes de tudo, deve ser um serviço às pessoas.
Uma organização política de juventude não deveria perder um segundo a atacar outra congénere, mais a mais quando ambas são organizações autónomas dos dois partidos estruturantes da democracia portuguesa. Essa tem sido a minha postura desde sempre.
O que a JS devia fazer era aprovar, em vez de continuar a reprovar, as nossas propostas no Parlamento sobre o alojamento estudantil, a criação de um regime fiscal para os jovens em sede de IRS, a isenção de IMT na compra da 1ª casa, o voucher cultura para jovens, o cheque psicólogo, a reformulação do Porta 65 ou maior proteção social para os jovens cientistas.
Independentemente das diferenças ideológicas, todos reconhecemos que a JS já foi no passado capaz de impactar a sociedade portuguesa, tendo tido líderes como António José Seguro, Sérgio Sousa Pinto ou Pedro Nuno Santos. Lamento sinceramente que tenha chegado a esta triste fase. E lamento também que o debate democrático tenha chegado a este ponto, porque a degradação das democracias não nasce de geração espontânea.