A notícia vem num fim de tarde. Na corrida para o estúdio de televisão onde iria comentar o anúncio que o mundo não queria ouvir, vejo uma e outra vez a forma escolhida para o divulgar: Catherine, a quem todos conhecíamos como Kate, aquela por quem o seu Príncipe se apaixonou e que um dia fará Rainha, sentada num banco de jardim, tão frágil e tão forte, tão segura que tinha que ser ela a falar connosco.

E a dar uma dimensão maior, a encontrar o propósito conjunto, o dela, e o de todos os que directa ou indirectamente sofrem o impacto da doença. O poder (real) do que ela simboliza nas vidas de quem pode ser salvo física e espiritualmente. O caminho duro até à cura que pode levar à salvação e que só em conjunto se pode percorrer. Pegar na sua dor, nos seus medos e nos seus porquês e ser capaz de falar como que a cada um dizendo

que, como ela, não estão sozinhos. Diz-se que o Rei Carlos III, também ele com um cancro, terá saído comovido do encontro que teve com Catherine antes da divulgação da notícia. E não seria seguramente pela novidade mas pelo modo com ela a enfrentaria. Ele, neto da Rainha que se recusou a sair da Londres sob bombardeamento nazi e filho daquela outra Rainha do Mundo Todo, exemplar na sua vida e no desempenhar das suas funções.

Coragem, inteligência e uma humidade a que é impossível ficar indiferente. E uma enorme interiorização do papel que desempenha e do impacto que o modo como vai viver este tempo terá na vida de milhões no seu país e por todo o mundo. Em época em que sobram mediocridades e em que supostas celebridades se vendem a si ou a causas destrutivas pelas páginas da Internet, ganha ainda mais força o exemplo da Catherine, a Princesa de Gales. Sair de si, pensar no outro, contribuir para que mais vidas sejam salvas. Das lágrimas fazer Vida. E tudo com muita, muita dignidade. Nem de propósito nesta Semana Santa.

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